A Academia Portuguesa de História atribuiu a Suzana Cavaco, professora do curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto (UP), o prémio para História Moderna e Contemporânea, da Fundação Calouste Gulbenkian, pelo livro que recentemente publicou: “Mercado media em Portugal no período marcelista”.

Esta obra resultou da tese de doutoramento da autora, levada a cabo entre 2007 e 2011, pela orientação de Jorge Fernandes Alves, professor da Faculdade de Letras da UP (FLUP), e de Marcelo Rebelo de Sousa, comentador político e professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL).

Na verdade, Marcelo Rebelo de Sousa “foi um dos protagonistas” do período que Suzana Cavaco analisou, tendo em conta que “fazia parte do [jornal] Expresso”. O orientador acabou por funcionar, também, como fonte privilegiada da autora, que recorreu, ainda, a entrevistas a vários agentes media e aos relatórios e contas das empresas.

“Mercado media em Portugal no período marcelista”

Ao longo de 618 páginas, o livro de Suzana Cavaco concentra-se, sobretudo, nas movimentações dentro dos media da época, que viviam um período de prosperidade, de maneira tal que havia “jornais que se davam ao luxo de rejeitar publicidade”.

Uma das conclusões interessantes do estudo, tem a ver com o facto de que “grandes grupos económicos olharam para as empresas media com interesse não tanto do seu desempenho económico, mas como forma de pressionar o Governo, ou apoiar o Governo”

Substituir censura por assessoria

No entanto, para entender melhor o contexto que estudou (1968-1974), que compreende a Primavera Marcelista, Suzana Cavaco leu a correspondência particular de Marcelo Caetano – “um material que não estava explorado” – e a própria obra literária do sucessor de Salazar, “para perceber quem era Marcelo Caetano”. “De facto, cheguei à conclusão de que ele nunca acreditou na democracia”, diz a investigadora ao JPN.

Contudo, a pesquisa de quase cinco anos que Suzana Cavaco fez, permitiu-lhe alcançar conclusões mais profundas: “Podemos ter governantes autoritários, mesmo que sejam pessoas bem intencionadas, cultas e eruditas. A verdade é que as ideias têm muito poder sobre o homem. As ideias mandam mais no homem, do que o homem nas ideias”.

É deste contexto que surge uma das principais conclusões da tese de Suzana Cavaco: “Marcelo Caetano pensou que poderia substituir a censura pela assessoria de comunicação. Foi uma experiência para as [eleições] legislativas de 1969, as únicas em que a oposição foi às urnas”. “Percebe-se que Marcelo Caetano quis essa Primavera Marcelista, que acabou por não florir, porque a assessoria de comunicação não correspondeu às suas expectativas”, conta a investigadora.