No ano em que o Erasmus comemora o 25.º aniversário, a União Europeia revela que o programa sofreu uma “derrapagem orçamental”, pondo assim em causa a sua continuidade.

Em outubro, o comunicado da Comissão Europeia referia a necessidade de “tapar o buraco” financeiro e falava do perigo de serem reduzidos os locais de destino – ou as vagas para os mesmos – e os valores das bolsas atribuídas aos estudantes: podem ser “drasticamente reduzidas devido às disputas em torno dos orçamentos da UE para 2012 e 2013”, alertaram.

Poucos meses antes, Androulla Vassiliou, a Comissária Europeia com o pelouro da Educação e Juventude, descrevia o programa de intercâmbio como “uma das maiores histórias de sucesso da União Europeia”, e garantia: “Nestes tempos difíceis, as competências adquiridas através dos estudos e estágios Erasmus são mais valiosas do que nunca”. Por isso mesmo, as respostas à situação do Erasmus não tardaram.

Os cortes no programa “não poderiam vir em pior altura para os jovens europeus”

Uma das primeiras iniciativas foi uma carta aberta aos chefes de Estado e de Governo da União Europeia [PDF], assinada por mais de 100 personalidades europeias, de áreas tão diferentes como a economia, a arte, a literatura ou o desporto. Vasco Graça Moura, Pedro Almodóvar, Sandro Rossel são apenas algumas delas.

A carta relembra que os cortes no programa “não poderiam vir em pior altura para os jovens europeus” e que se os compromissos já assumidos pela UE não forem cumpridos, “milhares de estudantes poderão ser privados de uma experiência que lhes pode mudar a vida”, lê-se. Pede ainda que o investimento na educação e na formação ocupe um lugar central na resposta da Europa à crise e chama atenção ao novo programa “Erasmus para Todos“, cujo lançamento está previsto para 2014 e que pretende aumentar as oportunidades de empregabilidade dos jovens.

Mas a tentativa de alertar a Europa não se ficou por aqui. Estudantes e professores também puseram mãos à obra e são muitas as petições e movimentos que atualmente tentam unir as comunidades escolares de todo o mundo. O grupo “European Citizens Initiative Fraternité 2020” (F2020) criou a petição “Help The Erasmus Programe!!!“, que tem como objetivo recolher 1 milhão de assinaturas, para chamar a atenção da União Europeia. O grupo apoia os programas de intercâmbio, “a fim de contribuir para uma Europa unida baseada na solidariedade entre os cidadãos” e tem o apoio de vários académicos de renome em toda a Europa e várias ONG. No Facebook, mais de 70 mil pessoas já se uniram ao evento.

“Unir a Europa para salvar o Erasmus”

Também o Partido Federalista Europeu se uniu à luta, com uma campanha que quer “unir a Europa para salvar o Erasmus”. Da campanha resultou o grupo de ação #SaveErasmus, que leva a cabo ações no Twitter para chamar atenção ao problema. E até Durão Barroso aderiu: com a hashtag devida, o presidente da Comissão Europeia alertou “os líderes da UE”. “Escutem a voz dos estudantes Erasmus que querem a melhor das educações”, escreveu.

Mas os estudantes são quem mais tem debatido a questão e não baixam os braços. Jorge Rego é aluno da Universidade da Corunha e já fez Erasmus na Áustria. Assim que ouviu dizer que o programa estava em risco, criou a petição “EU countries: Save the Erasmus Program!“. “Deixar os jovens de todo o Continente continuar a estudar, aprender línguas, compartilhar, viver e desfrutar de experiências inesquecíveis cabe-vos a vocês”, escreve. Um mês e meio depois, já reuniu mais de 25 mil assinaturas.