Embora quem trabalhe no setor admita que o número de casamentos diminuiu, a verdade é que todos dizem não sentir a crise, porque, contam, encontraram formas de contornar a redução no volume de negócio. “Não há tantos casamentos como dantes, mas não me posso queixar”, diz Nuno Rodrigues, que trabalha como DJ em casamentos.

“No meu caso, a situação tem melhorado, subi os preços na altura da crise, para me distanciar da concorrência que os baixou, e, embora tenha feito menos casamentos, ganhei mais”, explica Manuel Vaz, que também fica a cargo da animação musical nos casamentos para que é contratado. “O problema não é a crise económica”, explica Martinho Silva, fotógrafo, “o problema é quererem fazer casamentos com festas de arromba sem conseguirem suportar o orçamento desse casamento”, afirma. “Depois acabam por se juntarem, o que nos reduz o negócio”, acrescenta o fotógrafo, que tem recorrido à “redução de preços e a outras promoções” para aliciar os clientes.

Joaquim Silva, da loja “Noivos de Gondomar”, não aposta nas promoções, por achar que os preços “já são bons que chegue”. Martinho Silva concorda. “Um serviço completo situa-se entre os 800 e os 1200 euros, mas muitas vezes chegamos ao fim e o lucro é muito pouco quando comparado com o que fizemos”, explica. “As pessoas não têm noção do trabalho e do stress que é trabalhar em casamentos”, acrescenta. “Estou a virar-me para outras áreas para poder reduzir a minha presença em casamentos”, diz Martinho Silva, embora “vá sempre fazer casamentos. Uma loja de fotografia que não faça casamentos é como um restaurante não servir vinho com a refeição”.

A estratégia das quintas

Nas quintas, a ordem é para diversificar a oferta e antecipar tendências. “Criámos um menu low-cost para oferecer aos clientes, o que pode significar uma redução entre os 20 e os 22 euros por convidado”, explica Vasco Soares, da Quinta do Gestal, onde a média de preço por convidado, num serviço completo, ronda os 62 euros. O serviço low-cost que oferecem acaba por ser “a maior inovação” que tiveram, “para chegar a mais clientes”, mas não foi só numa adaptação dos preços que a quinta apostou.

“Também passamos a assumir, quando os noivos querem, a animação, a decoração, entre outros serviços, e assim conseguimos oferecer-lhes preços mais convidativos pelo pacote inteiro e nós conseguimos fazer mais lucro, e o mesmo se passa com os nossos parceiros”, explica Vasco Soares. Na Quinta do Castelo, a tendência é semelhante. “Em dezembro tivemos vários casamentos, porque é mais barato”, conta Cláudia Carvalho, da Quinta do Castelo. Aliás, os casamentos em época baixa são uma tendência crescente “que se vai manter em 2014”, acredita Vasco Soares. Outra tendência que se tem verificado é o aumento dos “casamentos durante a semana, porque tudo fica mais barato, a fotografia, a animação, a quinta”, diz o responsável pela Quinta do Gestal.

Como ficam os noivos neste cenário de crise?

Segundo Maria Silva, que se vai casar em abril, “os preços são elevados”. “Mas acho que pagamos por aquilo que temos. Não posso dizer que são injustos”, afirma a administrativa de 32 anos.

Já Filipe Caetano não é da mesma opinião. Tem 24 anos e está a terminar Engenharia Informática, no ISEP, além de trabalhar num armazém. Namora há oito anos, mas não pensa em casar. “Um casamento nunca nos custaria menos de dez ou mesmo 15 mil euros. Não consigo pensar em casar-me, porque ainda tenho de sair de casa dos meus pais”, explica, antes de acrescentar que “já é complicado que chegue estudar e trabalhar, para poder pensar em ter uma casa, um carro, uma vida em conjunto”. “Acho que o casamento é um luxo que não consigo ter, é só uma cerimónia”, diz.

Maria Silva explica que “não foi tanto a crise económica que afetou o mercado, mas principalmente uma crise de valores, já não se vê o casamento como dantes”. Apesar do preço elevado, a cerimónia é “um sonho”, considera. “Sempre me imaginei naquele momento e acho que, mesmo sendo caro, vale a pena casarmo-nos, é um dia que temos para sempre gravado na memória”, refere.

Filipe Caetano não concorda. “Se calhar no dia estava a pensar que o preço que gastei nisto podia ter gasto num carro novo que dura mais e me fazia mais jeito”, confessa, embora não deixe completamente de parte a possibilidade de se casar um dia. “Talvez o faça quando já tiver uma vida mais estável, mas agora e nesta economia é impossível”, revela.