O que é que os jovens podem encontrar nas propostas do Bloco de Esquerda e do movimento da esquerda europeia?
Desde logo, propostas jovens porque as políticas dominantes que temos tido até agora põem os jovens fora de tudo. Fora da economia, fora do acesso ao emprego, fora da capacidade de ter futuro ou de ter sonhos. Não se oferecem alternativas em Portugal e diz-se que a alternativa está lá fora. O que nós propomos é o contrário daquilo que se está a passar. A emigração nunca poderá ser uma solução quando é forçada. Se for mobilidade voluntária, tudo bem. Por obrigação, tudo mal. O que é que nós podemos oferecer? Temos apresentado políticas e propostas que não são de agora. Propostas que infelizmente não têm feito caminho, mas que põem os jovens na política.
Disse que a falta de oportunidades para uma mão-de-obra jovem altamente qualificada coloca em causa o projeto europeu. O problema está numa formação superior deficiente ou num tecido empresarial que não consegue absorver todos?
“Está-se a destruir emprego como nunca se viu”
Em primeiro lugar, não há emprego. Está-se a destruir emprego como nunca se viu. Em Portugal, a taxa de emprego é a mais baixa desde sempre na história da democracia. A outra questão é que as instituições europeias, o governo em Portugal e os executivos doutros países, sobretudo os que têm estado no poder nestes últimos anos, têm feito tudo o que está ao seu alcance para afastar as pessoas dos processos de tomada de decisão, incluindo os jovens. O desinteresse enorme pela política não tem a ver com um desastre natural ou um desejo divino. Tem a ver com as consequências concretas de uma política que foi feita para pôr de fora toda a gente e em particular aqueles que são mais afectados pelas decisões.
O descontentamento dos portugueses leva a que muitos estejam fartos da Europa. E a Europa, está farta dos portugueses?
Não podemos ver a Europa como uma coisa uniforme. Há um projeto em concreto que, de facto, tem mostrado que dispensa países como Portugal e a Grécia; que põe os mercados financeiros à frente da coesão, da justiça social e de uma maior igualdade no espaço europeu. Está-se a pôr países inteiros de fora com um único interesse que é repor os lucros do sistema financeiro. Estamos a ser um bocadinho marionetas com a conivência do governo, obviamente. Mas isso não é a Europa. A Europa é o que nós quisermos que ela seja. A maioria das pessoas tem votado nesta Europa, mas ela depende dos projetos que se escolhem. Nós fazemos parte da Europa, não estamos de fora.
É possível reconciliar os interesses dos portugueses com os interesses europeus?
“Os jovens, mesmo que não queiram saber nada de política, percebam que a política se interessa por eles”
Os portugueses estão descontentes com a austeridade. O que eu me pergunto é como é que não há uma correspondência entre a maioria política que governa e a maioria social. Por isso é que é importante que os jovens, mesmo que não queiram saber nada de política, percebam que a política se interessa por eles e pode fazer da vida delas aquilo que eles não querem. É bom que eles se comecem a interessar, a participar e a escolher. Os atos eleitorais são os únicos dias da história da democracia em que as relações de poder são completamente iguais. O voto de um jovem ou de um desempregado vale tanto como o do senhor Passos Coelho ou o da senhora Merkel. Se as pessoas querem abdicar desse direito, estão a abdicar de apoiar as forças políticas que os representam. Os outros têm interesses a manter e seguramente continuarão a votar.
Disse que o projeto europeu dispensa alguns países. Acha que olham para si de outra forma por ser uma eurodeputada da periferia ou não há diferenças em Bruxelas?
Em áreas como a saúde, o ambiente ou a investigação, não tive razões de queixa. Conseguimos fazer passar legislação muito importante e que muda a vida concreta das pessoas. Na área da política económica, a relação de forças é muito desigual. Não está nas mãos de quem está descontente mudar isso.
Vão estar “de pé”, como anunciam nos vossos cartazes, nos próximos cinco anos. Quais são os principais problemas que têm pela frente?
Vamos continuar de pé a lutar contra a austeridade e esperamos ter mais força para o fazer. Para além disto, os desafios são recuperar o futuro e pôr os mercados financeiros em ordem.
Tem-se referido a Portugal como um “país esquecido” pela Europa. Não acha que os políticos portugueses se têm esquecido nesta campanha dos problemas comuns a todos os europeus ao centrarem o debate no que se passa cá dentro?
É um discurso que interessa às forças que estão no poder e ao maior partido da oposição. Eu não tenho falado dessas coisas. Temos procurado trazer para o debate as questões europeias que se articulam muito com as questões nacionais, mas são matérias muitas vezes indissociáveis.