Em 2002, Olga Afonso era uma jovem de Vila Nova de Cerveira indecisa entre dois cursos mas com um paixão bem evidente: “A área das Ciências foi sempre a área que mais me interessou e nunca ponderei outras áreas”, lembra. E a investigação também já fazia parte dos planos. Acima de tudo, queria um curso com “uma vertente mais prática”.

Acabou em Farmácia, na Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto (ESTSP), mas a escolha “não correu lá muito bem”. Um ano depois, partiu para aquela que tinha sido sempre “a outra” opção: Bioquímica, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), que lhe “daria um acesso mais direto à área da investigação”.

E assim foi: o estágio curricular da licenciatura, em 2008, levou-a ao Instituto de Biologia Molecular e Celular da Universidade do Porto (IBMC), onde continua até hoje. No terceiro ano do Programa Doutoral em Biomedicina da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), o IBMC é agora não só o espaço que a acolheu no início de carreira mas também o instituto que sustentou o projeto que agora lhe valeu uma entrada no top 10 dos melhores estudantes de doutoramento do mundo, na área da Biologia.

1. O prémio

A American Society for Cell Biology (ASCB) é um dos mais prestigiados organismos científicos internacionais no campo das ciências biológicas. O prémio ASCB Kaluza é um galardão atribuído pela ASCB e pela Beckman Coulter Life Sciences (empresa líder mundial na produção de instrumentos laboratoriais) e é destinado a projetos de investigação de excelência desenvolvidos por estudantes de doutoramento. Pretende distinguir os melhores do mundo nos campos da Biologia Celular e das Ciências Biológicas Básicas.

Tudo começou com a candidatura de Olga à edição 2014 do ASCB Kaluza Prize (ver caixa 1.), que envolveu centenas de candidaturas a nível mundial. Não chegou ao pódio (os três primeiros receberam prémios entre 3 mil e 5 mil dólares), mas conseguiu não só estar nos 10 finalistas mas também ser a única cientista europeia do top.

O trabalho em questão está relacionado com o artigo já destacado na Science, em junho, e assinado pelos investigadores do grupo de Hélder Maiato, do qual Olga faz parte. recorrendo à explicação simples, centra-se na descoberta de “um novo mecanismo pelo qual as células regulam a separação do seu DNA para formar duas filhas geneticamente idênticas”, conta Olga.

“Até agora pensava-se que as fases finais da mitose – que é precisamente quando os cromossomas têm de se separar – não tinha nenhum mecanismo de regulação. Afinal, essa fase do processo está a ser ativamente monitorizada, controlada e regulada”, explica. O que garante que os cromossomas se distribuem corretamente entre as células filhas.

Durante dois anos tentou uma bolsa da FCT. Não conseguiu.

2. Futuro

Num futuro próximo, como uma das 10 finalistas do prémio, Olga Afonso terá a oportunidade de participar na Reunião Anual da ASCB, que vai decorrer de 6 a 10 de dezembro, em Filadélfia, nos Estados Unidos da América. Aí, a investigadora portuguesa terá a oportunidade de apresentar o seu trabalhos num mini-simpósio dedicado ao Kaluza Award.

Para trabalhar neste projeto, andou “durante dois anos a tentar uma bolsa da FCT [Fundação para a Ciência e Tecnologia]”. Nunca conseguiu. “Quando estava finalmente a procurar outras coisas, até lá fora, surgiu uma oportunidade”, lembra. Uma bolsa de 1,5 milhões de euros do European Research Council. “Se não fosse esta bolsa e se não tivesse tido esta oportunidade, já teria desistido”, afirma. “É muito difícil [o concurso da FCT]… é um processo muito seletivo e nem sequer dá oportunidade de as pessoas continuarem cá a fazer o que gostam”.

“Se não tivesse tido esta oportunidade, já teria desistido”

Para acabar o doutoramento ainda falta um ano “mas há que começar a pensar no futuro”. E no futuro, Olga há-de continuar a fazer o que gosta. De preferência, na área da divisão celular e num prós-doc que lhe traga novas experiências. “Estou a pensar em sair um pouco do ambiente do IBMC, para outros institutos ou até para outro país, para tentar conhecer outras formas de trabalhar e de abordar projetos… porque isso é muito importante para enriquecer a nossa carreira”.

Mas mesmo que seja para sair, há-de voltar. “Gostava de voltar para cá, ser líder de um grupo de investigação, quem sabe. É difícil prever, mas o ideal poderia passar por aí”, sonha.