Estudar na Faculdade de Direito da Universidade do Porto (FDUP) sempre foi o sonho de Salvador Afonso. O jovem de 20 anos ingressou este ano letivo na Licenciatura em Criminologia, e consagra-se o primeiro estudante timorense deste curso.

Salvador era participante ativo em atividades do Ministério dos Negócios Estrangeiros e pediu auxílio à primeira-dama timorense, Isabel Ferreira, para concluir os seus estudos numa universidade portuguesa. Isabel Ferreira pagou a viagem ao jovem e a mais seis jovens timorenses que também estão atualmente a estudar nas universidades do norte e centro do país nos cursos de Arquitetura e Contabilidade.

Salvador está sozinho no Porto, sem a família e os amigos, e considera que o maior obstáculo diário é a língua, apesar da língua oficial de Timor-Leste ser o português. “A dificuldade maior para um timorense é a língua, porque no nosso dia-a-dia comunicávamos em tétum (ver caixa). É estranho e novo para nós, viver em Portugal, num continente longe e termos de conviver com os portugueses e aprofundar a língua”, conta.

Tétum

O tétum é uma língua nacional e co-oficial de Timor.
Tem várias palavras derivadas do português e do malaio. Atualmente, o tétum é a língua com maior expressão em Timor-Leste, na verdade, o seu uso foi alargado nacionalmente e é compreendido por quase toda a população timorense.

“Nos estudos tenho algumas dificuldades, estou a estudar através de sebentas, ou seja, eu tenho de ter um dicionário de português- português ao lado para perceber as palavras difíceis e quando tenho algumas dúvidas mando mensagem a um amigo. Todos os meus amigos são gentis e queridos para mim, eu tenho sorte. Eu quero dar o máximo possível para enfrentar estas dificuldades”, garante.

Salvador sempre quis contribuir para o desenvolvimento de Timor através da investigação criminal, “porque existem pessoas que querem, mas não têm oportunidade para isso”.  “Timor agora está a crescer e está a precisar de jovens em todas as áreas para ajudar a dar um passo através desses meios. Precisa de melhores professores, médicos, engenheiros e tudo o que contribuía para o desenvolvimento do país”, afirma.

“Eu fiz os mesmos exames que um aluno português às 2h da manhã. Estudar cá em Portugal é um grande sonho, porque eu comecei a crescer com a escola portuguesa, não fazia sentido nenhum terminar os meus estudos e ir para a Indonésia, Austrália ou Filipinas estudar. Todos os alunos que andam na escola portuguesa têm um sonho de acabar o seu estudo aqui em Portugal e concretizei este sonho cá na Universidade do Porto, na Faculdade de Direito no Curso de Criminologia”, explica.”Escolhi o Porto, porque vim para cá sem bolsa e com a ajuda de uma professora não paguei o alojamento, porque tenho dificuldades económicas. Só pago as despesas: água, gás e electricidade”.

“Timor ainda está a precisar de tudo”

Em Timor, Salvador frequentou uma escola portuguesa, Escola Portuguesa Ruy Cinatti,  em 2002, onde concluiu o ensino secundário, e a maioria dos professores são portugueses. Mas não é apenas a primeira-dama timorense que está a dar este “empurrão” nos estudos de Salvador, a sua professora de português está a pagar o alojamento aqui no Porto.

“Timor ainda está a precisar de tudo. Nós, os jovens, a nova geração precisa de dar um contributo, porque Timor está a crescer. Lá depende dos pais, porque se os pais têm dinheiro para pagar os estudos, podem seguir. A maioria dos jovens timorenses quando acabam os seus estudos, vão estudar para a Indonésia, porque em Timor usamos o dólar e na Indonésia usam a rupia e o dólar é superior à rupia”.

“Timor tem uma universidade do estado, a Universidade Nacional de Timor-Leste (UNTL), que tem vários professores vindos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), mas como é a única Universidade do Estado, todos querem estudar lá e há muita competição para entrar e nem todos conseguem. Tem também outras instituições que ainda estão a crescer, existem sítios para estudar só que ainda não têm meios, ainda não existem recursos bem preparados para dar formações a estes jovens. Um jovem timorense quer sair, estudar noutros países para ter outras experiências com o objetivo de um dia voltar a Timor”.