A campanha “Não me lixes” está a promover o aproveitamento dos alimentos que, por norma, são deitados ao lixo. O chefe José Cordeiro apresentou esta quarta-feira algumas sugestões de pratos.

Fritar cascas de batata ou fazer puré a partir de talos de couve ou de grelos. Pode parecer estranho, mas o reaproveitamento dos chamados “restos” é o mote da campanha “Não me lixes”, contra o desperdício alimentar, apresentada esta quarta-feira no restaurante Porto Sentido, no Porto.

A iniciativa advém da necessidade de aproveitar os alimentos mais do que uma vez, nunca esquecendo os milhões de pessoas que passam fome diariamente. O chefe José Cordeiro aliou-se a esta causa com um objetivo claro: “Isto tem a ver com a consciência de cada um. Enquanto nós não nos convencermos que temos mesmo que poupar alimentos, não adianta nada. Eu associei-me a isto por isso, para dar mais força a todo este certame”.

Segundo o chefe, a campanha é dirigida a toda a gente. No entanto, clarifica que os maiores desperdícios são feitos de forma doméstica e nas grandes superfícies: “Se formos a um hipermercado, assustamo-nos com os desperdícios”.

As pessoas compram em excesso, deixando que alguns alimentos se estraguem mais rapidamente. “Se eu tiver a noção que o desperdício não deve existir, quando eu pego num tomate e deito-o no lixo lembro-me que isto dá para alimentar uma criança durante meio dia”, reforçou o chefe.

A apresentação consistiu num almoço confecionado pelo chefe Cordeiro com ingredientes que normalmente não são usados ou que são deitados para o lixo ao invés de serem utilizados. No cardápio estavam presentes, entre outros ingredientes, aparas de peixe em mousse, maionese de molho de francesinha e tripas do Porto com espuma de feijão das tripas e atilhos de chouriço.

A Associação para a Promoção da Gastronomia, Vinhos, Produtos Regionais e Biodiversidade (AGAVI) é uma das promotoras da campanha. António Souza-Cardoso esteve no Porto Sentido em representação da associação e relembrou que “é possível comer de outra maneira”.

“Com estas receitas que o chefe Cordeiro criou a partir de cascas de batata, de talos de grelos e do molho de francesinha que sobrou, é possível fazer grandes pratos e não desperdiçar”, afirmou António Souza-Cardoso. “Se atentarmos aos números no país, ficamos com uma perspetiva dramática: existem 375 mil pessoas que passam fome em Portugal”, realçou o representante da AGAVI.

A associação chama a atenção para números do Instituto Nacional de Estatística (INE) segundo os quais, em 2015, “120 mil crianças portuguesas passaram fome diariamente (mais 35 mil do que em 2012)”.

Algumas das ações pensadas prendem-se com a associação a humoristas, uma rubrica diária a passar na televisão, uma aplicação para o smartphone, um caderno com dicas úteis para melhor aproveitar os alimentos, um ciclo de cinema com documentários sobre o tema e a edição de um livro dirigido aos mais pequenos.

Há várias organizações a promover esta causa. São elas a AGAVI, a Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP), a Associação Empresarial de Portugal (AEP), a LIPOR e a Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP).

Conta, ainda, com o apoio do ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, do ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, do presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Saraiva e dos dirigentes da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) e da Confederação do Turismo Português (CTP), João Manuel Vieira Lopes e Francisco Calheiros, respetivamente.

Esta iniciativa insere-se no ano português contra o desperdício alimentar.

Artigo editado por Filipa Silva