Trata-se da única associação patronal do setor em Portugal e é presidida por João Rui Ferreira. A Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR) fez 60 anos e comemorou-os num evento que decorreu esta terça-feira no Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões. “Estamos aqui para olhar para o futuro, e o futuro passa pela resposta ao título desta conferência: como valorizar o setor da cortiça”, questionou o responsável na abertura do ciclo de conferências.
O ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, também presente no evento, sublinhou que “a cortiça é um setor que dá um bom exemplo ao país” na forma “como se soube associar com outros setores e valorizar os seus produtos, encontrar novas soluções, mercados e aplicações”, reforçando, ainda, a capacidade de inovar e evoluir de uma indústria tradicional, sempre de olhos postos no futuro.
Montado ameaçado por alterações climáticas
O primeiro debate discutiu alterações climáticas e a sua influência no montado. Esta discussão teve como oradores Filipe Duarte Santos da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e Teresa Soares David do Centro de Estudos Florestais do Instituto Superior de Agronomia.
Filipe Duarte Santos acredita ser necessária a transição para um novo paradigma energético. Os 737 mil héctares de montado nacional estão ameaçados pelas alterações climáticas. As ondas de calor ou secas podem provocar nos próximos anos preocupantes surtos de mortalidade florestal: “Não são boas notícias, temos de saber encará-las”, declarou.
Sublinha também que a economia não pode permitir lixo, mas sim resíduos recicláveis. Alertou para o facto de ser preciso “não deixar os telemóveis nas gavetas como os deixamos, mas sim tentar reciclá-los de modo a contrariar uma tendência da economia – a obsolescência das coisas”.
Teresa Soares David reforça a importância do sobreiro, considerado marco nacional de Portugal em 2011. Ocupa 23,4% da área florestal do território nacional, concentrados sobretudo no Alentejo (cerca de 87%). A investigadora assegurou que, de acordo com o inventário, ao longo dos últimos 15 anos, a área do sobreiro manteve-se estável. No entanto, o cenário pode agravar quando 93% dos povoamentos de sobreiro estão em áreas suscetíveis à desertificação. O seu valor económico vem sobretudo da exploração da cortiça embora também esteja na base da produção de outros bens como a lenha, mel, cogumelos, plantas aromáticas e medicinais.
A especialista alertou para as zonas sem monitorização: “Teremos de criar e investir no conhecimento, na sua disseminação e na gestão ativa e sustentada, que deve ser preventiva e adaptativa, isto para conseguirmos continuar a ter os nossos resultados de preservação e de valorização dos montados e dos seus produtos”. Sobre o conhecimento «temos de procurar sinergias, partilha de recursos e tentar impulsionar o envolvimento entre a investigação, a inovação e a formação para melhor responder às necessidades dos agentes do setor.”
A fechar, Teresa Soares David referiu que tem de haver um maior investimento num sistema de mapeamento e monitorização, de forma a rejuvenescer os montados.
Amorim “confiante quanto ao futuro”
Num mundo ditado por novos paradigmas, qual o posicionamento da indústria da cortiça e que respostas dar tendo em conta o incremento da economia digital? A discussão do papel da comunicação e do marketing na valorização da cortiça no mundo ficou a cargo do professor Alberto Castro da Universidade Católica Portuguesa e de António Rios de Amorim, da Corticeira Amorim.
Alberto Castro afirmou que a sociedade está em movimento e que o fator de sucesso mais importante é ter capacidades e conhecimentos de gestão pelo que, devemos estar sempre um passo à frente do que os outros neste campo.
António Rios de Amorim, da Corticeira Amorim – a empresa líder do mercado em Portugal -, reforça a importância de colocar um setor tradicional como o da cortiça no patamar mais avançado em termos tecnológicos, o da Indústria 4.0, a par de setores como o da aeronáutica. «Vivemos num setor industrial, no entanto, a nossa cabeça não pode ficar cristalizada. Não podemos ficar isolados das tendências futuras», referiu. “Os desafios têm de ser vistos como novas oportunidades para crescer e estarmos confiantes quanto ao futuro”, concluiu ainda o empresário.
Já Carlos Melo Brito, pró-reitor da Universidade do Porto, destacou que “não basta ter produtos bons e inovadores se ninguém estiver disponível e interessado a pagar por eles. O marketing e a comunicação têm desempenhado um papel fundamental na geração de valor e na competitividade das empresas corticeiras”, exaltando também o papel da APCOR na promoção da cortiça e das suas múltiplas aplicações, de mão dadas com o sucesso do setor.
O ano de 2016 será histórico para a cortiça, com a APCOR a prever fechar o ano com vendas na ordem dos 950 milhões de euros. Sediada no coração da indústria da cortiça, em Santa Maria da Feira, a APCOR, fundada em 1956, representa atualmente 270 empresas – responsáveis por 80% do volume total de negócios do sector e 85% das exportações portuguesas de Cortiça.
No seguimento do evento que decorreu no Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões, esteve também em debate a visão de especialistas em vinhos. Ficou a cargo da enóloga Susana Esteban e Manuel Pinheiro da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes. Foi traçada uma visão acerca da complementaridade entre os mundos do vinho e da cortiça. A rolha foi material de destaque durante o debate, nomeadamente quanto à composição, forma e características.
Os materiais a que a extração da cortiça dá origem também foram abordados em setores como o da arquitetura, têxtil e design. A audiência foi surpreeendida com diversas formas e funcionalidades de que a cortiça se pode ocupar. Desde carteiras, malas, guarda-chuvas, pavimentos até peças de vestuário, a cortiça adapta-se a muitos gostos e feitios, criando novos nichos de mercado.
Artigo editado por Filipa Silva