O festival internacional de cinema volta à Invicta para a 37ª edição e o organizador acredita que vai ser a melhor de sempre. Com mais de 90 sessões e 200 horas de cinema, o Fantasporto arranca já segunda-feira, dia 20, no Teatro Rivoli.
A edição deste ano promete exceder as anteriores e trazer muitas novidades. Mantêm-se as tradicionais secções de competição: que vão desde as raízes do festival com o “Cinema Fantástico”, a filmes mais generalistas na “Semana dos Realizadores”. Passa ainda pelo cinema asiático com o “Orient Express” e premeia o “Cinema Português”, com a distinção do melhor filme e da melhor escola de cinema.
Ao todo, são 55 os filmes portugueses e nove as universidades e escolas de cinema nacionais que vão apresentar o seu trabalho no festival. Beatriz Pacheco Pereira, da organização, diz que tem assistido a uma enorme evolução nas obras que as instituições apresentam. “Quando faço a seleção final dos filmes tenho em conta que cada vez mais temos de ser tão exigentes com o cinema português, como somos com o cinema estrangeiro”, explica.
Na apresentação do festival, esta terça-feira, no Teatro Rivoli, a organizadora confessou que a seleção dos filmes para esta edição foi particularmente difícil. Com uma lista a somar mais de 500 filmes de 60 países, desde o Sri Lanka à Síria, da Turquia ao Bangladesh e do Egipto à Alemanha, Beatriz diz que são “muitos os que ficam de fora”. “Nós gostaríamos e poderíamos ter apresentado se tivéssemos outras condições”, defende.
O festival abre com o filme sul coreano “The Age of Shadows” do realizador Jee-Woon Kim, vencedor do prémio para Melhor Longa Metragem no Fantastic Festival de Austin, Texas (EUA) e escolhido para representar o país nos Óscares. As múltiplas antestreias, europeias e mundiais, estão também em destaque no Fantasporto. A sessão especial dos 25 anos do “Drop Dead Fred”, filme de Ate de Jong — que vai receber o prémio carreira –, conta com a participação de Carrie Fisher. A atriz faleceu no final do ano passado e esta será a homenagem da organização.
Esta edição conta com mais de 200 convidados, entre realizadores, atores, produtores e demais personalidades ligadas ao mundo do cinema. Rob Taylor, realizador e ator principal da longa metragem norte-americana “Neil Stryker and the Tyrant of Time”, e Gloria Perez, vencedora de um Emmy e considerada “a melhor argumentista de sempre” da América Latina são dois dos presentes. A presença de Gloria Perez no Fantasporto vai contar com a distinção do prémio carreira e ainda com um workshop de argumento, aberto ao público.
Mas as novidades não ficam por aqui. Durante o festival, o Rivoli vai receber uma exposição de pintura da artista Catarina Machado e a eliminatória portuguesa do EuroCosplay, onde vai ser escolhido o concorrente que vai representar Portugal em Inglaterra, na competição europeia de cosplay.
A evolução tecnológica permitiu reduzir os custos de produção do festival
“Assistimos a uma mudança radical desde à cinco ou seis anos, daquilo que é a parte tecnológica da projeção cinematográfica, e isso levou, por exemplo, a que as toneladas de latas de 35 milímetros que precisávamos para passar 80 filmes deixassem de existir. Agora são pens”
O Fantasporto “chegou a ter um orçamento de quase um milhão de euros à coisa de dez anos e neste momento, eu diria que conseguimos fazer o festival com 150 ou 160 mil euros”, admite Dorminsky.
Os festivais de cinema competem com a televisão
Mário Dorminsky, em conversa com o JPN, refletiu sobre a evolução do festival e do público que tem acompanhado os 37 anos de renovação do Fantasporto. “Temos participantes que já vêm desde a primeira edição”, lembra. Ao organizador já terão até dito: “A primeira vez que fui ao Fantasporto foi na barriga da minha mãe”.
Mas o que realmente o preocupa é esta geração, “os filhos dos filhos”, que “para virem ao Fantasporto têm que largar os computadores, têm que vir ao centro do Porto e vir ao Rivoli”. “É importante chegar aos jovens” e a solução passa pela influência dos pais no cultivo do gosto pelo cinema. Entre as novidades da edição deste ano está ainda a secção “Mini Me”, dedicada ao público mais jovem.
O organizador acredita que a “ida ao cinema é para pessoas muito específicas”. Hoje em dia, é possível ver filmes em qualquer plataforma: “passam 150 filmes por semana na televisão” e “com um projetor uma pessoa pode ver um filme em casa do tamanho de um ecrã do Passos Manuel”. Mas o Fantasporto promete exceder o cinema do circuito comercial. “É diferente, é muito mais do que isso, é o ambiente, são os espetadores, é o lado cosmopolita de termos pessoas que falam várias línguas e de todo o mundo. Há todo um conjunto de pequenos detalhes”, explica Mário Dorminsky.
Gerações diferentes, menos público
Outra das razões para as mudanças que a organização tem sentido ao nível do público é a forma como o evento é representado na comunicação social. “Temos muita honra de continuar a fazer o festival no Porto” realça Dorminsky. Mas “não é aqui que a informação tem força”, “as condições de trabalho no Porto a nível cultural não são as mesmas que em Lisboa”– o que condiciona o alcance do festival ao público.
“É pena que lá fora toda a gente queira vir ao Fantasporto e desde há uns anos que estamos com falta de público. Antigamente estava sempre tudo cheio, agora é outra geração”, lamenta José António Pimenta de França, também da organização do festival.
José França condena ainda a desvalorização da cultura nas agendas dos órgãos de comunicação e apela à importância da divulgação do evento. “É um acontecimento que projeta a cidade e Portugal lá fora e merece um bocadinho mais de carinho do que aquele que tem sido dado”, admite.
“Os portugueses não fazem ideia do que é o impacto internacional do Fantasporto”
Os organizadores adiantaram que o Fantasporto foi reconhecido como um dos 50 maiores festivais de cinema do mundo pela revista MovieMaker. “O festival está a crescer muito internacionalmente, está a ficar num patamar muito elevado”, lembra Mário Dorminsky.
Este prestígio reflete-se ainda na utilização do festival como teste para o mercado internacional. “Com as antestreias mundiais vêm delegações, não é só o realizador, que querem ver a receção das pessoas quando vêm o filme pela primeira vez, o público do Fantas é considerado um público teste”, explica o organizador.
O impacto internacional do festival permite uma certa facilidade de diálogo com os promotores de filmes. “Não há nenhuma resposta negativa a nenhum pedido que fazemos para filmes participarem no festival, seja em competição ou não”.
A cidade do Porto também tem um importante papel na promoção do festival lá fora. “Sempre que fazemos convites falamos do Porto como Património Mundial da UNESCO”. Mas o próprio Fantasporto é um cartão de visita para a cidade: “Somos também uma das razões para o Porto ser uma das cidades mais atrativas para se visitar”, lembra Dorminsky.
Texto editado por Rita Neves Costa