Um dérbi é sempre escaldante. E foi assim o Boavista-FC Porto. Num jogo que teve expulsões, desacatos, lances duvidosos e oportunidades de golo escassas para o prenúncio que houve no primeiro quarto de hora de jogo, o Porto entrou bem, marcou cedo e soube segurar a vantagem mínima até ao final. O Boavista teve gestos de reação, mas quase sempre inconsequentes.
A equipa da casa apresentou-se com um onze quase igual ao que tinha jogado, na última jornada, em Santa Maria da Feira. Apenas Idris, a cumprir castigo, foi substituído por Carraça no onze inicial. Já do lado do FC Porto, Nuno Espírito Santo surpreendeu. Pela primeira vez esta época, André Silva não entrou no onze portista em jogos para o campeonato. Além disso, nota para a entrada de André André a titular, do regresso de Óliver a substituir o lesionado Herrera e de Bolly a substituir Felipe, que tinha visto o quinto amarelo frente ao Tondela. O central francês não jogava na Primeira Liga desde o dia 18 de setembro, no empate precisamente em Tondela.
Por um lado, o FC Porto continua a um ponto do rival encarnado. Por outro lado, ainda não foi nesta jornada que o Boavista alcançou a meta dos 30 pontos.
Entrada com a chama acesa
Num terreno difícil, onde um dos grandes já tinha sentido dificuldades para vencer, e frente a um clube que tinha retirado pontos ao Benfica, o FC Porto entrou forte e pressionante. Logo nos dois primeiros minutos da partida, os azuis e brancos criaram duas oportunidades de perigo na área adversária: primeiro por Corona, depois por Marcano.
O início do Porto teve um momento mais alto aos sete minutos, quando Óliver segurou e rodou sobre um axadrezado – antes de servir Jesus Corona – para o passe rasteiro e cirúrgico do mexicano para Tiquinho encostar ao segundo poste. O FC Porto adiantava-se cedo no marcador.
Óliver pautou os ritmos de jogo e Brahimi foi desequilibrador entre linhas e pela ala esquerda, nascendo daí o lance mais perigoso da primeira parte, com cruzamento do argelino para Soares rematar para uma grande intervenção de Vagner. André André também esteve bem, com Danilo no auxílio, a cobrir bem os espaços do meio-campo, não permitindo ao Boavista construir um futebol organizado.
A acabar a primeira parte, Corona, que tinha estado em bom plano, sofreu uma entrada muito dura de Talocha. Podia ter sido exibido mais que um amarelo. Ao irem para o balneário, as equipas entraram em desaguisado e Nuno Espírito Santo foi expulso, a par com um dos adjuntos do Boavista.
Gerir sem calafrios
Na segunda metade do encontro, valeu Casillas, numa ocasião, ao Porto. Uma grande intervenção a remate de Anderson Carvalho. Já antes, os dragões tinham tido ocasiões tão boas ou melhores.
No regresso ao 4-4-3, o FC Porto teve muito mais posse de bola que o adversário. Mas no segundo tempo houve mais Boavista. Schembri podia ter empatado, não acontecesse um corte in extremis de Marcano dentro da grande área postista.
Foi uma segunda metade do encontro dura a nível de jogo. Já as oportunidades de golo foram escassas ou inexistentes. Pode-se falar da atuação de Fábio Veríssimo, que pode ter sido complacente com algumas entradas duras, mas o jogo foi por si só mais esforço e agressividade que técnica e arte.
O FC Porto sai vitorioso de um terreno difícil e reforça a legítima candidatura ao título, enquanto se encontra taco a taco com o líder Benfica.
Um dérbi à antiga que, apesar do futebol menos bem jogado por vezes, teve todos os ingredientes que atraem o público para ir aos estádios.
“O Idris faz muita falta a esta equipa”
Para Miguel Leal, a diferença esteve na eficácia. “O Porto marcou mais um golo do que nós e aproveitou bem alguns deslizes posicionais, de agressividade e posicionamento”, comentou em conferência de imprensa. O treinador do Boavista lamentou a ausência do médio Idris, que pouco favoreceu os interesses axadrezados. “O Idris faz muita falta a esta equipa. Dá equilíbrio defensivo e agressividade. Isso fez com que tivéssemos alguma dificuldade nos minutos iniciais”, apontou.
Leal valorizou a reação do Boavista face às adversidades iniciais. “No corredor central deixámos os jogadores do Porto rodarem, o que não poderia acontecer. Importante é a resposta que demos. Estamos a crescer. A equipa tem feito um excelente campeonato”, atirou. E falou dos riscos tomados nos últimos minutos. “A perder, não podemos pensar em posse de bola, mas sim no golo. Correndo o risco de descompensar o meio campo. Se calhar notou-se mais na primeira parte do que na segunda”, notou o técnico.
Sobre as quezílias ao intervalo, Miguel Leal não quis entrar em pormenores. “Eu só vi o momento do contacto físico do Corona com o Talocha, depois já estava a entrar no balneário. Não quero comentar. Futebol é valorizar o espectáculo, bem conseguido e bem jogado. Temos de aprender a valorizar isso em Portugal”, salientou.