Onze anos depois, as cerimónias oficiais do Dia de Portugal voltaram a realizar-se no Porto. Numa manhã de muito sol, foram muitos os populares que se deslocaram à Foz para ver as mais altas figuras de Estado e uma parada com 1.460 militares dos três ramos das Forças Armadas.
Pouco depois das 9h00, começaram a chegar ministros, embaixadores, juízes, entre diversas personalidades portuguesas e internacionais. Ao longo da Avenida do Brasil e da Avenida de Montevideu já se encontravam em parada, desde cedo, os militares do Exército, Marinha e Força Aérea. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, chegou às 10h00 para a habitual revista às tropas e discurso protocolar. As largas centenas de militares e ex-combatentes que se encontravam no Molhe entoaram ‘A Portuguesa’, naquele que se tornou o momento mais emotivo das celebrações.
Antes do desfile das tropas, três militares receberam do presidente uma condecoração pelos serviços prestados em representação de Portugal. Da Força Aérea, foi distinguido o sargento-chefe António Ribeiro Barreiros; da Marinha, o capitão-tenente Mário Cortes Sanches; do Exército, o primeiro-cabo Tiago Silva Portela.
No Dia de Portugal, falou-se da “diversidade genética dos portugueses”
Manuel Sobrinho Simões, médico e investigador natural do Porto e um dos mais prestigiados cientistas nacionais, presidiu à Comissão Organizadora das comemorações a convite do presidente da República. Num discurso pouco comum numa cerimónia protocolar, realçou as virtudes dos portugueses com base na “diversidade”, numa “característica única” que é a “mistura notável de genes” que a população portuguesa apresenta e que, pelos descobrimentos e emigração, “espalhou” pelos quatro cantos do mundo.
O investigador realçou ainda a necessidade de Portugal ter “instituições fortes”. Contudo, o seu principal mote foi a necessidade “de apostar, mas apostar a sério na educação a todos os níveis”. “Graças a nós e às nossas circunstâncias, temos todos os ingredientes, genéticos e ambientais, socioculturais e tecnológicos, para aproveitar pela positiva os tempos difíceis que se vivem na europa e no mundo”, asseverou o cientista. “Os nossos netos e os nossos bisnetos não nos perdoarão se desperdiçarmos a oportunidade”, concluiu.
Marcelo quer um Portugal “independente do atraso, da ignorância, da pobreza, da injustiça, da dívida, da sujeição”
Marcelo Rebelo de Sousa brindou os presentes com um discurso de cinco minutos. Dirigindo-se aos “portugueses, militares de Portugal e antigos combatentes”, o Presidente da República desejou para o país um futuro “independente e livre”. “Independente do atraso, da ignorância, da pobreza, da injustiça, da dívida, da sujeição. Livre da prepotência, da demagogia, do pensamento único, da xenofobia e do racismo.”
O chefe de Estado não deixou de dirigir palavras de apreço aos militares, atuais e ex-combatentes. Ao Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, acrescentou o epíteto de “Dia das Forças Armadas, dos portugueses heróis, que nos deram, vezes sem conta, a independência e a liberdade”. Num “dia simbólico”, Marcelo lembrou qual a “nossa missão de todos os dias: respeitar quem nos deu e dá a independência e liberdade de sermos como somos, criar riqueza, combater a pobreza, superar a injustiça, promover conhecimento. Abraçar uma pátria que não tem fronteiras espirituais e nasceu para ser ecuménica e fraternal”, salientou.
Numa manhã que apelidou de “gloriosa”, o presidente elogiou a “leal nobre, livre e independente cidade [do Porto], que nunca traiu, nunca temeu, nunca vacilou”. Destacou que os portugueses se encontram “unidos”, reafirmando acreditar no potencial da nação. “Acreditamos em Portugal, acreditamos nos portugueses. O passado, mesmo quando menos feliz, foi a nossa garantia. O presente é a nossa exigência. O futuro é o nosso destino”, concluiu Marcelo.
Quem assistiu garante que é “interessante e diferente de ver na televisão”
Com o propósito de ver a parada militar, numa das varandas voltadas para o mar ou, simplesmente, por casualidade, muitos foram os populares a assistir às celebrações. Virgínia Pereira encontrava-se entre a multidão e não é uma estreante em cerimónias militares. “Há 11 anos vi uma parada militar, mas era diferente desta. Havia mais tanques de guerra. Não era como hoje. Hoje foi mais interessante, porque houve de tudo um pouco. Foi muito instrutivo, os militares desfilaram com muita disciplina e gostei imenso”. Da Senhora da Hora para a Avenida do Brasil, os seus 80 anos parecem não pesar: “Vim porque gosto de assistir a eventos como este”, garante.
Divergem as gerações, convergem as presenças. Ana Matos, de 24 anos, também não faltou às celebrações oficiais. Até ao Cais do Molhe acompanharam-na o pai, a mãe, o irmão e a “oportunidade única para ver as forças militares e os representantes do Governo.” “Única” porque, até hoje, a distância era o obstáculo que se impunha entre ir e ver na televisão: “Por ser a primeira vez, é sempre interessante e diferente de ver na televisão. Dá para ter uma noção de como as coisas verdadeiramente se passam”, salienta a jovem.
Júlia Santos não precisou de sair da zona de conforto para ver a parada militar. Com casa na Foz e com família militar é, aos 60 anos, que se vê pela primeira vez nas comemorações oficiais do Dia de Portugal. “Vim porque gosto de ver os militares. Além disso, os meus irmãos e o meu cunhado também o foram.” Uma história militar que passou pela “tropa, fuzileiros e marinha”. Júlia adjetiva a parada de “digna” e reforça que “todos deviam ver aqueles que toda a vida fazem o bem por nós. Estão sempre prontos a ajudar”, assegura.