Como já é tradição, em julho a praia do Cabedelo, em Vila Nova de Gaia, deixa-se invadir de festivaleiros durante três dias de muita música e animação. Este ano não foi diferente, mas houve diferenças.
Foi a primeira vez que o Marés Vivas decorreu de sexta-feira a domingo – habitualmente era realizado de quinta-feira a sábado – e esta edição marcou ainda a última aparição do festival na praia do Cabedelo, com o rio Douro como cenário de fundo, que convence até aqueles que não morrem muito de amores pelo cartaz.
Mas nem só de música se fez o MEO Marés Vivas e não faltou sítio onde dar umas boas gargalhadas – até doer a barriga. Logo à entrada do recinto, o palco RTP Comédia captou a curiosidade de muitos que passavam e não ficaram indiferentes a nomes como Ana Bola, Francisco Menezes ou Eduardo Madeira.
Seguia-se o palco Santa Casa, dedicado só a artistas portugueses, que teve também lugar de destaque, com grande afluência de público. Caelum, Átoa e Mundo Segundo, foram alguns dos nomes que fizeram o palco secundário vibrar.
Depois da zona de restauração e para lá do largo recinto que nos três dias se encheu pelas costuras, o palco principal acolheu os mais aguardados cabeças de cartaz, Bastille, Scorpions e Sting, para além dos não menos esperados concertos de abertura e fecho, com artistas portugueses e estrangeiros. Diogo Piçarra, Agir, Lukas Graham e Amor Electro foram alguns dos nomes que por lá passaram.
A multidão que se fazia juntar ao cair do dia – mote para o inicio da ronda de concertos que se esticam pela madrugada – há muito que trocaram os isqueiros pelas lanternas dos telemóveis. Agora é mesmo a luz dos milhares de ecrãs em punho, a registar o momento, que deixam quem vê de cima uma imagem do recinto composta por pontos luminosos.
Com o olhar a alternar entre o palco e o ecrã, só o som arrebatador não deixa enganar que o concerto é ao vivo. Em nenhum dos três dias a potência sonora desiludiu, e o festival provou mais uma vez o seu valor e o reconhecimento que tem vindo a alcançar.
Sexta-feira com sotaque britânico e sabor a bolo
O primeiro dia de Marés Vivas abriu em português, com Diogo Piçarra no palco principal, mas logo entrou Tom Chaplin com saudações e agradecimentos num português inglesado, que compensou com o facto de passar quase todo o concerto enrolado na bandeira nacional.
A noite reservou ainda uma surpresa no concerto dos Bastille, com o público a cantar os parabéns a Dan Smith, vocalista da banda, que completava 31 anos, e nem o bolo faltou.
O concerto foi marcado por picos de êxtase aos primeiros acordes de cada tema reconhecido e culminou com o grande sucesso “Pompeii”. Mas foi mesmo Agir quem mais fez o publico vibrar, ao som de êxitos como “Ela parte-me o pescoço”, “Ela é linda sem Makeup”, entre outras.
Apesar da afluência de um público mais jovem na abertura do fetival, nos dois dias seguintes viu-se um encontro de gerações, em parte pela diversidade dos artistas, mas também pelos cabeças de cartaz serem clássicos do rock e lendas do mundo da música, como Scorpions e Sting.
Scorpions e o concerto interminável
Na segunda noite, Lukas Graham não desiludiu e fez as delicias dos fãs com “7 Years”, o tema que lançou o grupo dinamarquês para a fama em 2015.
Com Agir a merecer o título de melhor atuação do primeiro dia, já no sábado o festival ficou marcado pelo memorável concerto dos Scorpions. A banda alemã trouxe uma produção massiva ao palco da praia do Cabedelo, e apresentou ao público os mais recentes temas do álbum “Return to Forever”, editado em 2015.
Não pôde ainda faltar o hino pela liberdade, “Wind of Change”, o tema que marcou uma geração, e que Klaus Meine, vocalista e cofundador do grupo, relembrou que continua tão atual nos dias de hoje como no momento em que o escreveu, por altura da queda do muro de Berlim.
Também “Still Loving You” and “Rock You Like a Hurricane”, se fizeram ouvir a plenos pulmões por todo o recinto e levaram o público ao rubro durante o encore do concerto que parecia interminável.
Domingo em família
O domingo foi de família, e foi o primeiro Marés Vivas a acontecer neste dia, com Sting a trazer o filho Joe Sumner, que abriu os concertos no palco principal. Mas também Miguel Araújo não se deixou ficar e chamou ao palco aqueles que foram a grande influência que o fez seguir a música, os tios do cantor, que foram membros de uma banda nos anos 60. Os Kappas subiram ao palco com o artista, durante uma música, mas foram mesmo os “aviões” que puseram todo o recinto a cantar o sucesso dos Azeitonas.
Seguiu-se o nome mais aguardado da noite. Os fãs de Sting já cantarolavam as músicas do artista antes de ele entrar em palco, e não deixaram de o acompanhar nos êxitos que também marcaram gerações, e eram conhecidos de todos. Sting voltou ao palco uma ultima vez após o publico saudar a plenos pulmões o concerto que para muitos rivalizou com o de Scorpions no título de melhor do festival.
A fechar a última edição do Marés Vivas na praia do Cabedelo os resistentes que conseguiram aguentar até à 1h da manhã de um domingo cantavam em português do Brasil “Seu Jorge cadê você? Eu vim aqui só pra te ver!” E ao som de “Burguesinha” Seu Jorge pisou o palco MEO para encerrar o festival.
Artigo editado por Filipa Silva