O futebol feminino está a ganhar cada vez mais força. Recentemente, o Manchester United veio provar que a tendência é para manter ao anunciar a criação de uma equipa de futebol feminina a começar já na próxima época. Os reds juntam-se a outros grandes do futebol europeu como o Barcelona, Juventus, Chelsea, PSG e Bayern de Munique. Edite Fernandes e Jéssica Silva contaram ao JPN que acreditam no futuro da modalidade.

O anúncio surgiu na última quinta-feira. O Manchester United vai mesmo ter uma equipa de feminina de futebol sénior. O clube já tinha formação no feminino, mas só até aos 16 anos. Quando chegavam a esta idade, as jovens jogadoras tinham de procurar outros clubes e, muitas vezes, iam parar aos rivais – Manchester City, Arsenal, Chelsea ou Liverpool FC.

Para além de não acompanhar os rivais ingleses na criação de uma equipa feminina, os reds eram o único emblema da Premier League sem futebol feminino. Na próxima época já vão poder competir como seniores, apesar de começarem na segunda divisão.

Nos últimos dez anos, a Liga dos Campeões teve os seguintes vencedores no futebol masculino: Real Madrid, Barcelona, Bayern de Munique, Chelsea, Inter de Milão e Manchester United. De todos estes emblemas, em 2018, apenas o Inter e o Real Madrid não possuem uma equipa de futebol feminino.

O crescimento do futebol feminino é evidente nos principais campeonatos europeus e mundias. Na Alemanha, Bayern de Munique, Wolfsburgo e Werder Bremen dominam. O Borussia Dortmund ainda não tem equipa feminina.

Em terras italianas, a Juventus já criou equipa e juntou-se a Roma e Fiorentina. Na vizinha Espanha, os gigantes Barcelona e Atlético de Madrid são rivais também no feminino e falta a chegada do Real Madrid. No campeonato francês, PSG, Lyon e Marselha já são clubes muita história.

Já em Portugal, Sporting CP e SC Braga dominam o panorama nacional, numa Primeira Liga que também conta com Boavista FC e Estoril. O SL Benfica e o Vitória de Guimarães já anunciaram que vão criar equipa, faltando apenas o FC Porto no lote dos grandes portugueses.

A assistência ao futebol feminino é crescente a cada ano que passa. Em 2016, a final do 12º Europeu feminino foi presenciada por cerca de 30 mil pessoas.

De acordo com dados da UEFA, o número de profissionais e semi-profissionais aumentou, de 1.680, em 2013, para 3.572, em 2017. E o número de equipas jovens também aumentou, passando de 21.285, em 2013, para 35.183 em 2017.

No caso português, há 4.284 atletas federadas a jogar futebol e, muitas delas, têm 19 anos ou menos, o que indica que a margem de progressão e crescimento é grande.

“O alemão é o melhor campeonato da Europa e um dos melhores do mundo. A par do americano que também tem muita qualidade”

Edite Fernandes é a segunda jogadora mais internacional de sempre. As 132 internacionalizações dão-lhe o estatuto que apenas é superado por uma pessoa (Carla Couto, 145 internacionalizações). Conquistou nove campeonatos de futebol feminino e foi a primeira jogadora portuguesa a alinhar profissionalmente no estrangeiro.

Em declarações ao JPN, Edite Fernandes falou do crescimento do futebol feminino em Portugal e no Mundo. A atleta do SC Braga já se retirou da seleção nacional, mas 132 jogos e 39 golos depois, continua a seguir de perto a equipa por quem tem “muito amor”.

A jogadora natural de Vila do Conde acredita que a chegada do Manchester United “é muito importante” porque “a aposta destes colossos europeus vem dar credibilidade à modalidade”.

Para além do inglês, Edite Fernandes enumerou outros campeonatos onde se pratica futebol feminino de grande qualidade: “O alemão é o melhor campeonato da Europa e um dos melhores do mundo. A par do americano que também tem muita qualidade”.

Apesar do crescimento, o futebol feminino continua a ser algo desvalorizado e as condições que os clubes oferecem são díspares. Ainda assim, Edite Fernandes disse que as jogadoras do SC Braga têm “as condições necessárias e as melhores para poderem estar em campo preparadas e poderem viver do futebol”.

A ex-internacional portuguesa não se queixa, apesar de admitir que a diferença entre as equipas masculina e feminina “é um bocadinho grande”, o que explica com “os milhões que são gerados pelo futebol masculino”.

A tendência na Europa é da criação de equipas femininas. Em Portugal, Sporting CP e SC Braga são as equipas com mais poder. Na opinião de Edite Fernandes, a possível junção de FC Porto, SL Benfica e Vitória de Guimarães “vem dar ainda mais credibilidade ao campeonato, que é o que todos queremos”.

“O futebol feminino está na moda e as pessoas gostam cada vez mais de assistir”

No entanto,  Edite Fernandes sublinha que o campeonato português “é um bom campeonato, é competitivo” e os clubes e a FPF estão “a trabalhar para que seja ainda mais forte”. Apesar disso, o panorama português está ainda longe de “Alemanha, China, Noruega e EUA” onde a qualidade é maior, fruto também do maior “poder económico”, contou a atleta que já passou por Espanha, China e EUA.

Edite Fernandes contou que um SC Braga-Sporting CP consegue ter “entre nove a doze mil pessoas a assistir” enquanto que há jogos da Primeira Liga de futebol masculino que “nem mil pessoas no estádio tem”. O crescimento está em progresso e a “UEFA, a FIFA, os clubes e a FPF estão a lutar para a modalidade crescer”.

“O futebol feminino está na moda e as pessoas gostam cada vez mais de assistir”, atirou Edite Fernandes.

No que diz respeito a seleções, Portugal também tem mostrado que está a evoluir e na Algarve Cup conseguiu o melhor resultado de sempre. A jogadora do SC Braga acredita que a seleção das Quinas “pode vir a estar nas dez melhores do mundo”.

“Não digo nos próximos dois, três ou quatro anos, mas com o tempo, com a formação, a aposta dos clubes grandes e da FPF, Portugal pode vir a estar nas dez melhores do mundo. Eu acredito nas meninas mais jovens”, concluiu a jogadora de 38 anos.

“Portugal está a caminhar bem, mas ainda está longe de outras realidades”

Jéssica Silva tem 23 anos e é jogadora da seleção nacional. Atualmente representa o Levante UD do campeonato espanhol e conta que vê com bons olhos a chegada do Manchester United ao feminino.

Em declarações ao JPN, Jéssica Silva disse que “é muito positivo” para o futebol feminino e vai “ajudar a modalidade a crescer”. Para a ex-jogadora do SC Braga, o Manchester United é um clube de “uma dimensão tremenda” e “todas as meninas vão querer jogar lá”. O facto de os reds apostarem nesta modalidade pode “ajudar as pessoas a ver que o futebol feminino tem cada vez mais impacto”.

Em Portugal, Jéssica Silva jogou pelo União Recreativa Ferreirinha, Clube de Albergaria e SC Braga. Passou também pela Suécia onde alinhou no Linkoping FC. Agora a jogar em Espanha, Jéssica Silva conta que “passou por realidades diferentes”.

“No SC Braga tive sempre boas condições, não posso falar. No Clube Albergaria fomos sempre bem tratadas, mas tínhamos de esperar pelo campo, só podíamos treinar às 20h30 porque antes treinava a equipa masculina”, contou a atleta do Levante UD.

Na opinião da atleta de Vila Nova de Milfontes, os clubes mais pequenos “têm de ser valorizados por apostarem no feminino”, mas também “bate palmas a Sporting CP e SC Braga por terem sido os pioneiros”. Jéssica Silva afirmou que “comportamento gera comportamento” e, em breve, os outros clubes grandes podem juntar-se no primeiro escalão.

A diferença entre o futebol em Portugal e em países como a Suécia ainda é “um bocadinho grande”: “Portugal está a caminhar bem, mas ainda está longe de outras realidades. Na Suécia, onde joguei, as meninas começam a jogar à bola com três anos. Lá há escolas de formação e muito investimento. Em Portugal só está a começar agora. As raparigas já podem jogar com rapazes até aos 13 anos, por exemplo”.

Outra diferença reside na forma como os portugueses encaram a modalidade, conta a atleta portuguesa:  “Os suecos estão um passo à frente na mentalidade. O futebol feminino é visto da mesma forma do masculino. Mas tenho a certeza que estamos a mudar mentalidades”.

Jéssica Silva rematou a dizer que “há muito talento em Portugal” e que “as próximas gerações vão trazer muitas alegrias”.

Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro