“Graças a Deus, passámos”. Portugal empatou a um golo com o Irão esta segunda-feira e foi assim que Fernando Santos terminou a breve análise que fez ao jogo logo a seguir ao apito do árbitro. A referência divina faz sentido para quem, como o selecionador nacional, é assumidamente católico, mas o significado da frase serve até a visão de um ateu. É que Portugal saiu do jogo com um ponto que lhe valeu o apuramento para os oitavos de final do Campeonato do Mundo, mas num sufoco que parecia sem resolução de mão terrena.
Ricardo Quaresma foi o autor do golo português, aos 45 minutos, num gesto técnico que já se confunde com ele próprio. Depois de uma combinação com Adrien na direita, o avançado português deu guia de trivela à bola, ainda fora da área, com esta a desenhar o arco da praxe e a entrar em grande estilo na baliza do Irão.
Antes de chegar à vantagem, e ao longo de toda a primeira parte, Portugal demonstrou dificuldades a construir jogo sobretudo no período em que William Carvalho foi alvo de marcação própria, num meio-campo onde também estiveram, esta noite, João Mário – mais discreto, era difícil – e Adrien Silva.
À frente, André Silva também não viu muito a bola, enquanto Ronaldo fazia algumas tentativas de incursão para a zona frontal à baliza, mas sem sucesso.
Os iranianos davam nota do que na segunda parte seria ainda mais palpável: um nervosismo intenso, aliado a uma fraca qualidade técnica, com pulmão e coração de sobra na abordagem de cada lance.
Ronaldo falha pénalti
Na segunda parte, a primeira nota de registo vai para o minuto 51, quando Cristiano Ronaldo se queixou de ter sido derrubado dentro da área do Irão, falta essa que o VAR viria a sancionar. Foi o capitão português quem se encarregou da marcação, mas desta vez o guarda-redes defendeu e Portugal ficou como estava: com vantagem no marcador, mas muitas dificuldades em segurar a bola.
E neste momento começa uma fase do jogo que não deixa boa memória a qualquer amante da modalidade. Jogo faltoso, cheio de interrupções, com frequentes consultas do VAR para decidir lances duvidosos.
De análises destes, acabaram por sair um amarelo para Cristiano Ronaldo por conduta anti-desportiva – e o capitão português arriscou-se mesmo ao vermelho – e, mais relevante do que o caso anterior, uma grande penalidade a favor do Irão já depois de ultrapassada a barreira dos 90 minutos.
Depois de consultar o lance com recurso ao videoárbitro, o juiz principal da partida decidiu marcar pénalti por Cédric Soares ter tocado na bola com o braço numa disputa de bola pelo ar. Karim Ansarifard concretizou o golo e pôs alguns iranianos a chorar nas bancadas, mas o empate era curto para as pretensões da equipa de Carlos Queiroz, mesmo com Espanha a sofrer diante de Marrocos (esteve a perder por duas ocasiões e acabou empatada a dois golos).
Contas feitas, Portugal avança para os oitavos de final na segunda posição do Grupo B e vai defrontar o Uruguai, vencedor do Grupo A depois de ter derrotado a Rússia, esta tarde, por 3-0. O jogo está marcado para as 19h00 do próximo sábado (dia 30).
“O Irão já tinha mostrado isto”
No final da partida, o selecionador nacional considerou que Portugal “controlou sempre o jogo” até à grande penalidade falhada por Ronaldo.
Quanto ao adversário, assumiu que a marcação individual a William Carvalho, na primeira parte, “dificultou” a missão portuguesa causando alguns calafrios na manobra defensiva e confusão na ofensiva.
“O Irão já tinha mostrado isto contra a Espanha e contra Marrocos. Arriscam tudo”, declarou à RTP.
Já na sala de imprensa, comentou o golo de Ricardo Quaresma que acabou por dar a passagem a Portugal: “Fizemos golo num lance de génio”, concluiu o selecionador nacional.