Foi um bom jogo aquele a que o Bessa assistiu, este sábado, entre o Boavista e o Vitória de Guimarães, num encontro a contar para a 9ª jornada da Primeira Liga. Apesar de disputado e emotivo, o encontro acabou sem golos registados no marcador. O Vitória de Guimarães esteve em melhor plano, mas os visitantes não conseguiram ser eficazes. No fim das contas, Vitória e Boavista somaram um ponto cada.

Duelo de históricos

Há sempre expectativa dos dois lados da barricada quando chega o momento de um Boavista-Vitória de Guimarães. Não sendo um clássico mediático e que movimente milhões, movimenta milhares de apaixonados por dois dos clubes mais carismáticos do futebol português.

Era uma pantera ferida no orgulho aquela que recebeu um Vitória de Guimarães em crescendo de rendimento. O pecúlio dos Boavisteiros não era nada animador: quatro derrotas nos últimos cinco jogos no campeonato, com a atenuante dos axadrezados terem ganho o último jogo no Bessa. Surgiam as primeiras desconfianças em relação a Jorge Simão, um treinador que na época passada fez uma das melhores épocas do Boavista desde o regresso à Primeira Liga.

Do lado do Vitória, um empate em casa contra o rival de sempre, Sporting de Braga, nunca é um grande resultado, mas a forma como os vimaranenses se exibiram elevou os níveis de confiança para os lados da Cidade Berço. Luís Castro tinha, no Bessa, uma grande oportunidade de consolidar o seu trabalho e de dar ao Vitória o que tem faltado numa época de grande investimento: regularidade

Onzes (mais ou menos) esperados

Se era sabido que David Simão não podia ir a jogo, não era tão previsível que Jorge Simão desfizesse totalmente a dupla de médios que o português habitualmente faz com Idris. O capitão foi para o banco e o meio-campo ficou entregue a Obiora e Rafael Costa, este último tinha sido apontado pela generalidade da imprensa como o mais provável substituto de David Simão. Depois de, em Alvalade, ter sido substituído antes do intervalo, Idris não viu, neste jogo, o seu nome inscrito entre os titulares.

Do lado do Vitória Sport Clube, a grande dúvida era perceber se, em função da inesperada lesão de Tyler Boyd, Tozé seria desviado para a ala. Luís Castro assim optou: desfez um trio de médios que vinha numa boa sequência de jogos, encostou Tozé à direita e deu oportunidade a Mattheus Oliveira de provar o seu valor. A outra opção seria Celis: um médio com menos qualidade técnica, mas que asseguraria mais consistência aos que jogam de Rei ao peito.

Início prometedor

A banda sonora que acompanhava a partida envolvia cada jogador. Se os protagonistas eram os jogadores, as claques – principalmente a do Vitória -, também quiseram trazer adrenalina para o relvado. E conseguiram.

Desde o primeiro momento do jogo, viram-se duas equipas com os olhos postos na baliza adversária: fosse num jogo rápido ou mais rendilhado. Não se notava a diferença pontual entre as equipas em campo, o que se notava era, sobretudo intensidade: intensidade nos duelos, nas transições, intensidade a defender e intensidade a atacar. Ainda assim, convém dizer que, contra um Boavista tão pressionado, os vimaranenses pareceram algo surpreendidos com o quão desinibido era o jogo dos axadrezados.

Chegada do Rei

Pouco a pouco, o Vitória foi tomando conta da posse de bola e, consequentemente, do jogo. As oportunidades tardavam a aparecer num jogo que, ainda assim, tinha contornos de alguma espetacularidade. Wakaso emergia no meio-campo dos Vitorianos: o ganês raramente falhava um passe ou tomava uma má opção. À sua frente, André André arriscava mais, dava fluidez ao jogo vitoriano, mas Mattheus tardava em aparecer. Apesar de estar a defender relativamente bem, o Boavista não existia em termos ofensivos.

A primeira grande oportunidade surgiu aos 15 minutos por intermédio de Guedes na sequência de uma grande jogada coletiva do Vitória: Tozé faz uma abertura magistral para Davidson, o brasileiro deixou para Rafa que, na linha de fundo, cruzou atrasado para Guedes, de primeira, falhar o golo. Passava o tempo e ao jogo do Vitória só faltava o golo. Do lado do Boavista, se Obiora apareceu no lugar de Idris para dar mais critério ao jogo dos axadrezados, falhou a sua missão: o jogo raramente passava pelo nigeriano. Apenas quando Rochinha pegava na bola, se acendiam as luzes do futebol dos visitados.

Nulo teimoso até ao intervalo

O tempo passava e golos, nada. O frio que assolava a cidade do Porto não tirava a vontade com que os Panteras Negras e os White Angels puxavam pelos jogadores mas, à passagem da meia hora, o resultado e o próprio jogo começavam a não corresponder. O Vitória continuava dono e senhor do jogo mas, desde o lance de Guedes, apenas o incansável Wakaso, num bom remate de fora da área, voltou a assustar Helton. Apesar de estar melhor, o resultado mantinha em jogo o Boavista que, aos poucos, foi conquistando cantos, metros  e esperança. Aos 35 minutos, mais uma grande oportunidade para o Vitória: André André respeita o movimento de Guedes, o avançado combina com Tozé que assiste André André. Na cara do golo, o médio permitiu a defesa de Helton.

Wakaso, Guedes e André André. Eram estes os nomes que davam a cara pela falta de eficácia vimaranense na finalização ao intervalo. O Boavista fez muito pouco em termos ofensivos na primeira parte e esperava-se que subisse de rendimento. Ao Vitória faltava um golo que coroasse um jogo mais fluído e mais bem trabalhado que o do adversário.

Entrada a reinar

Parecia que não tinha havido intervalo. Um cruzamento venenoso de Rafa para grande defesa de Helton a remate de André André deu o mote para o que seria uma continuação da primeira parte: o Vitória por cima no jogo. Na verdade, parecia que o domínio vimaranense se intensificara após o intervalo mas, claro, o nulo persistia e o Boavista ainda podia tirar três pontos de uma exibição manifestamente pobre.

Nos bancos ainda não havia movimentações mas, desde a primeira parte, que o Boavista só se conseguia aproximar de Douglas em lances do bola parada. O Bessa ainda celebrou, à passagem do minuto 65, um golo bem anulado a Mateus, mas parecia claro que este não era o dia do Boavista. O tempo passava e talvez não fosse descabido assumir que um eventual empate já não seria um mau resultado.

Marcador intacto

Luís Castro e Jorge Simão mexeram por volta da mesma altura. O técnico dos vimaranenses refez o trio de médios que tão bem tinha jogado nos últimos jogos, alargando a frente de ataque com um extremo, Hélder, no lugar de um médio, Mattheus. Jorge Simão refrescou a ala com Koneh no lugar de Mateus procurando, ainda, vencer o jogo. Uma atitude audaz da parte de Jorge Simão numa altura em que, com o aproximar do final do jogo, o Boavista ia subindo o seu rendimento sempre sob a batuta de Rochinha.

Os minutos passavam: rápidos para os de Guimarães, que colecionavam oportunidades falhadas, e lentos para os da casa, que têm de melhorar muito se querem fazer um campeonato ao nível do ano passado.

Mais rápidos ou mais lentos, os minutos passaram e ninguém marcou. Fica a ideia que o Vitória de Guimarães perdeu dois pontos e que o Boavista conseguiu somar um.

Na sala de imprensa, Jorge Simão e Luís Castro apresentaram interpretações diferentes do jogo.

“O empate é justo, mas devia ter sido com golos”

Jorge Simão não pareceu tão desiludido com o resultado como o seu homólogo, mas destacou o facto do Boavista também ter tido as suas oportunidades: “Houve oportunidades claras para ambas as partes. O resultado é justo, mas devia ter sido com golos”.

O técnico dos axadrezados não se coibiu, ainda de destacar um valor individual:”O Rochinha andou a avançado, no ano passado, pela dificuldade que também tivémos de encontrar um jogador de área. Acho que ele hoje ainda vai a tempo de encontrar o seu espaço no futebol português. Recordo que, ainda muito jovem, depositaram nele muitas expectativas. Assinou o seu primeiro contrato profissional com o Benfica, numa altura em que só assinaram ele e o Bernardo Silva”, referiu.

“Não tivémos eficácia no momento da finalização”

Com ar resignado, Luís Castro, o técnico vitoriano, estava visivelmente agastado com o resultado. “Há algum sentimento de desilusão, quando terminamos um jogo em que somos tão superiores e não chegamos aos três pontos”, afirmou, para acrescentar: “Há alguns jogos em que o empate satisfaz minimamente, mas não neste caso”. “Na segunda parte ainda melhorámos o nosso jogo”. No fundo, o jogo resume-se, para Luís Castro, numa frase:”Não tivemos eficácia no momento da finalização”.

Antes de sair da conferência de imprensa, o treinador transmontano enalteceu, ainda, o papel dos adeptos do Vitória: “Os adeptos dos adeptos são adeptos fantásticos. Eles não precisam dos meus elogios, porque sabem que o são”.

O Vitória fecha, assim, a 9ª jornada com 12 pontos, que o colocam na oitava posição da tabela. Já o Boavista está um ponto acima da linha de água, no 15º lugar, e ainda à espera de Desp. Chaves e Nacional que só jogam esta segunda-feira.

Artigo editado por Filipa Silva