Lucas Noronha tem 20 anos e é estudante de Direito na Faculdade de Direito da Universidade do Porto (FDUP). Quem o conhece sabe que não consegue estar parado. Em paralelo com o terceiro ano do curso, coordena o cineclube da FDUP e está a tirar um curso de formação contínua de Pintura, na Faculdade de Belas Artes da mesma universidade. Para além disto, faz trabalho social junto da população sem-abrigo do Porto.

No último verão, tomou a decisão da sua vida e partiu para a Grécia, onde fez voluntariado no campo de refugiados de Eleonas, em Atenas. “Foi muito por motivos pessoais: queria trabalhar e ajudar pessoas, queria fazê-lo durante o verão, queria fazê-lo fora do meu país e, para além disto, queria trabalhar com esta comunidade específica. Foi um impulso pessoal”, explica ao JPN.

O processo de candidatura

O estudante afirma que o clima mediático que envolve a crise dos refugiados o ajudou a criar uma ligação com esta causa. A sua perspetiva inicial era de viver esta experiência de voluntariado nos chamados “hotspots”, “os campos com piores condições e em que as ajudas não são, de todo, proporcionais às necessidades e à carência destas pessoas”. Numa primeira fase, considerou que o Médio Oriente podia ser um destino de eleição, mas depois acabou por pôr a ideia de parte porque ia ser o seu “primeiro contacto com esta comunidade e com este problema em específico”. A preocupação dos pais também contou e foi assim que se decidiu pela Grécia.

Lucas Noronha Foto: Inês Pinto da Costa

O meio ano de pesquisa pelo projeto que se adaptasse melhor a si e às suas necessidades fez com que se confrontasse com bastantes impedimentos relacionados com idade mínima e exigências de currículo. Segundo ele, “faz sentido porque as organizações consideram que as circunstâncias a que te vão expor são de tal modo dramáticas que tens mesmo de estar preparado a nível psicológico.”

Em abril descobriu o Project Elea. Uma breve troca de emails fez com que em poucos dias tivesse a proposta fechada: “Fui parar ao Project Elea e a Atenas em último recurso, mas se soubesse o que sei hoje, até me teria candidatado logo em primeiro” .

Espírito de comunidade

Lucas refere que as boas políticas do campo são a base do sucesso do mesmo, algo que também só surgiu a partir do progresso: “Quando começou, em 2016, era um campo com condições terríveis. Agora já não é assim, mas é importante que se perceba que a maioria dos campos ainda é muito precária e que este, como está atualmente, é uma exceção”.

O campo define regras como não colocar mais do que uma família por contentor e os residentes que estão sozinhos têm um quarto individual. Para além disto, as feiras que se realizam ao fim de semana e a possibilidade de os residentes poderem “comprar as suas coisas para a casa e alguns alimentos” ajudam a trazer “conforto” à sua vida, algo que Lucas refere como chave do objetivo do Project Elea.

Como voluntário, orientou diversas atividades com crianças e adolescentes. Afirma que o projeto se faz “à base de pessoas e da criatividade e força de pessoas” e reforça: “Tudo é motivado a força humana”.

Aprendizagens

Ao longo do mês que lá passou, conheceu residentes de 15 nacionalidades diferentes, o que fez com que a “tendência” que tinha para “achar que há um ou dois focos no mundo inteiro” mudasse: “mesmo assim, não são 15 os países no mundo dos quais as pessoas têm de fugir, são muitos mais.”

Outra das lições que Lucas retira desta experiência foi aprender a lidar com o preconceito, que diz estar “na origem de todos nós”. Achava que os refugiados eram “uma massa de pessoas precárias, com condições de vida que eram más e agora estão piores e não é nada disso”. Acrescenta ainda que grandes amigos que fez no campo “são exatamente como nós, têm as mesmas tendências, têm os mesmos desejos consumistas”. Lucas mantém contacto com esses amigos e fala com todos eles pelo menos uma vez por semana.

A experiência do estudante de Direito no campo de Eleonas foi sinónimo de descoberta e crescimento. “No meio de pessoas que passaram pelas piores tragédias”, encontrou “felicidade”, “gratidão” e “humildade”.

Embora sendo um trabalho muito árduo, sabe que foi lá que viveu alguns dos melhores dias da sua vida. Sabe também que a sua experiência foi “cor-de-rosa” e reforça que o campo onde esteve é uma exceção. Mas aprendeu que “o Homem é mau e bom, mas o bom é mais forte”, acredita. E repete, com convicção: “fui redescobrir a minha esperança no lado bom do Homem num campo de refugiados”.

Artigo editado por Filipa Silva