Este ano, o Festival Internacional de Cinema do Porto registou um recorde no número de escolas e de filmes de escola a concurso. A Universidade da Beira Interior (UBI), a Universidade da Madeira (UMa) e o Instituto Português de Fotografia (IPF) foram as três novidades na lista de nove instituições representadas. A vencedora foi a ETIC/EPI, de Lisboa, mas com ou sem prémios todos sentem que ganham com a participação no festival.

Beatriz Pacheco Pereira, da organização, refere ao JPN que “ano após ano” tem notado um aumento de qualidade dos filmes de escola e sublinha a tendência para cada vez mais trabalhos serem desenvolvidos “mesmo para o Fantasporto”. Apesar disso, há alterações em mente para aplicar no próximo ano na categoria. Mas já lá vamos.

Novos e repetentes

No caso do IPF, uma das novas entidades a concurso, foi o professor Gustavo Santos que decidiu contactar o festival: “Acho que apesar de não sermos uma escola 100% direcionada para o cinema, temos tido bons resultados com alunos que têm uma visão menos técnica, mas com uma aproximação mais artística.”

Se, por um lado, as novas escolas a concurso veem no Fantasporto uma oportunidade emergente, as escolas antigas continuam a valorizar a participação no festival. A Escola Superior de Media Artes e Design (ESMAD) integra há vários anos a categoria de Melhor Escola, tendo vencido em 2016 e 2017. Na edição do ano passado tiveram direito a uma Menção Especial para um dos filmes.

Nuno Tudela, professor da ESMAD, reconhece que o Fantasporto tem influência nas criações dos alunos.

Nuno Tudela, professor da ESMAD, reconhece que o Fantasporto tem influência nas criações dos alunos. Foto: Matilde Moura

Nuno Tudela, professor na escola, considera que há uma grande influência do festival na zona do Porto, motivo esse que move os alunos a participarem: “Muitas vezes, não parte de nós esse desafio. Eles próprios têm a iniciativa.”

A ideia é apoiada por José Caetano, um dos alunos representantes da Universidade da Beira Interior no Fantasporto. “Os festivais são um bocado por nossa conta. Há alguns festivais como este em que, como nós estamos a representar a UBI, eles pedem para enviar o nosso filme.”

Nas escolas com experiência na competição, a ideia de concorrer está sempre presente, como diz Rosana Soares, realizadora da curta “Às Vezes Sou Pessoa às Vezes Sou Dinossauro”: “Não queremos estar a pensar nos festivais, mas estamos a pensar nos festivais, ao mesmo tempo.” A estudante do curso de Tecnologia da Comunicação Audiovisual da ESMAD acrescenta que “o Fantas é sempre uma referência”.

Gustavo dos Santos é o professor do IPF responsável pela entrada do Instituto no concurso de Melhor Escola.

Gustavo dos Santos é o professor do IPF responsável pela entrada do Instituto no concurso de Melhor Escola. Foto: Matilde Moura

O Fantasporto é conhecido pela temática do fantástico, no entanto, a categoria de escolas de cinema português reúne géneros distintos, de forma a estimular a participação. Gustavo dos Santos, professor no IPF, explica: “O Fantasporto já há algum tempo apresenta filmes portugueses fora do fantástico e tendo em conta que essa competição existe, não só para realizadores nacionais, como para escolas, nós não fazemos qualquer restrição.”

Fantasporto, uma janela de oportunidades

A opinião dos alunos concorrentes é unânime: o Fantasporto representa reconhecimento e uma oportunidade de poderem mostrar o trabalho realizado. Miguel Pinto fez com Francisco Morais o filme “Eikasia” e viram o projeto estrear no ecrã do Rivoli: “Desconheço a razão pela qual a UBI só está a participar este ano no Fantas, mas é um orgulho representar pela primeira vez a Universidade”. Sobre a possibilidade de o festival poder representar uma rampa de lançamento para jovens estudantes de cinema, a maioria dos alunos prefere não criar expectativas, contudo, não descartam a hipótese.

Miguel Pinto passou entretanto da Covilhã para o Reino Unido onde frequenta agora um mestrado em cinema. A realidade que encontrou é diferente, mais ao nível das condições do que do ensino: “Seja pelas instalações ou pelo material que nos rodeia, são indústrias em patamares diferentes. No entanto, sinto que em Portugal o conhecimento que adquiri de cinema foi bastante benéfico.” Rosana Soares, da ESMAD, acrescenta: “Eu quero acreditar que as próximas gerações têm um papel na mudança. Se existe altura, é agora. E é a fazer filmes!”

Apoios financeiros, mas poucos

O cinema em Portugal carece de apoios e os trabalhos desenvolvidos pelas escolas não são exceção. A maioria das parcerias são conseguidas pelos próprios alunos: ”Um estudante só está condicionado se achar que está dependente meramente da escola”, argumenta Miguel Pinto.

No caso de alguns cursos, as verbas disponibilizadas são em grande parte do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), que financia um certo valor que é, posteriormente, distribuído pelos projetos, conforme as necessidades de cada um. Miguel Pinto calcula que o apoio dado pelo ICA aos projetos finais da UBI representam “cerca de 30% ou 50% do orçamento final das curtas”, dependendo do tipo de projeto.

Nem todos os cursos têm acesso a estes apoios. Mesmo com projetos de baixo custo, os alunos dependem muitas vezes apenas dos seus recursos financeiros, como é o caso de Duarte Paulini, da Universidade da Madeira, que viajou até ao Porto “por sua conta e risco”.

Rosana Santos participou pela ESMAD com a curta-metragem "Às Vezes Sou Pessoa às Vezes Sou Dinossauro".

Rosana Soares participou pela ESMAD com a curta-metragem “Às Vezes Sou Pessoa às Vezes Sou Dinossauro”. Foto: Matilde Moura

O estudante veio assistir à curta que realizou sem apoios financeiros da Universidade, que apenas disponibiliza “câmaras, microfone e material mais básico”.

Rosana Soares contou com apoio do ICA através da ESMAD, mas mesmo assim teve de “pedinchar muita coisa.” O papel da instituição é importante nesses casos, como quando contactou a RTP para gravar nos estúdios. “Dá credibilidade e facilita o processo”, reconhece.

Para o próximo ano, Beatriz Pacheco Pereira avançou alterações no concurso da Melhor Escola. Cada entidade vai ter apenas 30 minutos de projeção, menos dez que o tempo atual. Além disso, a organização vai estipular um número limite de curtas por escola, de forma a tornar o prémio “menos uma mostra das escolas e mais uma seleção dos melhores trabalhos”.

Artigo editado por Filipa Silva