Com toda a atividade económica em suspenso, federações, ligas, clubes e jogadores começam a tomar medidas de forma a minimizar o impacto económico e social que o novo coronavírus já está a provocar um pouco por todo o mundo.

Em resposta à crise, os clubes portugueses não jogam para já a cartada da redução salarial. A jogada imediata passa por perceber como vão terminar os atuais campeonatos e se vão ser feitas alterações aos quadros competitivos das várias competições nacionais nas épocas que se seguem..

Ouvido pela Lusa, o especialista de gestão desportiva Alfredo Silva adianta que Benfica, FC Porto e Sporting podem perder mais de 40 milhões de euros por cada mês de paragem do futebol devido à pandemia de Covid-19.

Para o coordenador da licenciatura de Gestão das Organizações Desportivas, os três clubes nacionais enfrentam uma queda na bilheteira, nas transmissões televisivas que aponta para uma descida de “17 milhões de euros” e na publicidade/comercial que será responsável por “perdas mensais de nove milhões de euros”, fruto da necessidade de renegociação de contratos.

O jornal “O Jogo” adianta que uma comissão de clubes do Campeonato de Portugal fez chegar à Federação Portuguesa de Futebol um conjunto de medidas que passam pelo alargamento da Primeira Liga para 20 emblemas já na próxima época, reduzindo para os mesmos 18 atuais em 2021/22, enquanto a Segunda Liga seria disputada por 28 clubes (duas séries de 14) nas próximas duas temporadas.

Vizela, Fafe, Sintrense, Espinho, Olhanense, Sertanense, Amora, Trofense, Lusitano e Leiria são os clubes que assinaram o documento entregue à FPF, que sugere ainda que o Campeonato de Portugal seja discutido em duas séries com doze equipas cada, já na próxima temporada, e nas divisões inferiores seja feita uma prova inter-associações com 56 equipas (quatro séries de 14).

A vontade expressa por estes clubes é confirmada pela FPF que, em comunicado, revela que à Federação chegaram “diversas propostas individuais e de entidades” e que por isso vai-se reunir durante a semana, para analisar “um conjunto de cenários alternativos para o futuro imediato das suas provas seniores”, assegura a FPF.

Se a Federação e os clubes apontam à viabilidade dos campeonatos, Joaquim Evangelista garante que os jogadores “vão assumir a sua responsabilidade, depois de passada a crise, mas que não o podem fazer sozinhos”.

À TSF, o presidente do Sindicato de Jogadores diz que é “demasiado cedo para falar em medidas concretas”, mas sobre o desejo de os clubes reduzirem ordenados já no próximo mês, Evangelista avisa: “não podem ser só os jogadores a fazerem sacrifícios”.

A maior preocupação de Joaquim Evangelista prende-se com as “centenas de atletas que auferem rendimentos baixos”, e que se encontram “muitos [deles] afetados por incumprimento anterior a esta crise” e que por esta razão não consigam “cumprir as necessidades mais basilares como alojamento e alimentação”, assegura.

O dirigente sindical propõe assim a criação de linhas de financiamento para assegurar a liquidez imediata, de negociação coletiva”, de forma a garantir a “dignidade do jogador e do ser humano”, conclui.

De acordo com o relatório Global Sports Salaries, os jogadores da principal liga portuguesa na última época (2018-19), auferiram um rendimento médio anual de 307,053 mil euros, numa média mensal por jogador de 25,587 mil euros.  O documento publicado pela SportingIntelligence, com o apoio da Associação de Jornalistas Desportivos, mostra o rendimento dos jogadores da Liga de Portugal à frente de ligas com a Major League Soccer (americana), a Liga Suíça, Holandesa ou Japonesa.

Barça reduz 70% da massa salarial de jogadores

Alguns clubes espanhóis anunciaram já, medidas de redução salarial e a suspensão temporária de contratos de trabalho de jogadores e funcionários.

O Barcelona é o mais recente clube europeu a apresentar medidas excecionais relativas à sua massa salarial. O clube catalão anuncia que chegou a acordo com o plantel para a redução salarial de mais de 70%, assim como medidas extra, de forma a apoiar a 100% todos os funcionários do clube durante o estado de emergência em Espanha.

Apesar deste acordo, o Barcelona vai entregar na mesma um plano de Expediente de Regulação Temporária de Emprego (ERTE), que permite ao clube, e a todas as empresas em Espanha, suspender temporariamente contratos de trabalho, de forma a que seja o Estado espanhol a suportar os custos salariais durante o período de inatividade.

O Atlético de Madrid também vai exercer o ERTE, depois de Gil Marín, diretor executivo da equipa de Madrid, ter revelado que o clube tomou “decisões difíceis”, com o intuito de “salvaguardar o futuro do Atlético de Madrid”. O diário desportivo “AS” revelou a carta dirigida aos associados, onde se pode ler que estas medidas “têm o objetivo de quando a competição voltar, tudo funcione como antes”, escreve o líder do clube colchonero.

O Espanhol de Barcelona entregou também o plano ERTE, com um corte salarial de 70% para a equipa principal, equipa B, futebol feminino e camadas jovens. A direção geral e desportiva decidiu também reduzir o salário de forma voluntária.

Inglaterra

Em terras de sua majestade, o Newcastle United é o primeiro clube a anunciar um plano de retenção de emprego direcionado para todo o staff que não pertence à equipa principal. O Telegraph, revela que o clube do nordeste de Inglaterra vai pagar 80% dos salários, até ao máximo de 2,500 libras por mês, valor que depois pode solicitar de volta ao governo britânico através do programa de Retenção de Emprego do Coronavírus.

O mesmo jornal afirma que vários clubes ingleses estão a ponderar medidas semelhantes, mas o foco quer dos clubes, quer dos órgãos que controlam o futebol naquele país, está centrado em como terminar as várias ligas ainda este ano. Das várias possibilidades apresentadas, a mais recente, levanta a ideia de que a Premier League pode ser jogada nos meses de junho e julho em apenas duas cidades, Londres e Birmingham, com os 92 jogos em falta a serem jogados todos os dias e todos com transmissão em direto pela TV.

O valor do futebol

O estudo do Observatório de Futebol do International Centre for Sports Studies (CIES, na sigla francesa) revela a dimensão das perdas que o futebol europeu enfrenta por causa da pandemia do novo coronavírus.

O cenário recessivo assenta na possibilidade de que não seja realizado mais nenhum jogo até ao final de junho, assim como, mais nenhum contrato seja renovado até essa data.

Assim, este estudo conclui que o valor total da transferência de jogadores nas principais ligas europeias sofrerá uma queda de 28%: de 32,7 para 23,4 mil milhões de euros.

Em termos nominais, o clube que fica mais a perder com esta pandemia, é o Manchester City que veria o valor dos seu plantel descer 412 milhões de euros, seguido pelo Barcelona (-366) e o Liverpool (-353).

Em termos percentuais, a maior desvalorização de plantel cabe ao Marselha. A equipa dirigida por André Villas-Boas desce 37% no caso de não haver jogos ou contratos renovados de jogadores até ao final de junho. O Inter de Itália segue-se na lista com uma desvalorização de 35.7% e Hellas Verona, também de Itália com uma perda de 34.3% no valor do seu plantel.

A FIFA já tinha dado indicações sobre alguns assuntos que precisam de medidas claras no futuro próximo. A agência noticiosa Reuters, dá conta que o órgão máximo do futebol mundial pretende que “os contratos dos jogadores e treinadores que terminam a 30 de junho devem ser automaticamente prolongados caso as competições se prolonguem para os meses de julho e agosto”.

O documento, que vai ser discutido pelo grupo de trabalho criado pela FIFA, recomenda a alteração das “janelas” de transferências de acordo com as novas datas da temporada, o adiamento até ao início da nova temporada do pagamento das transferências entre clubes (geralmente programados para as datas de início e finais de campeonatos), a redução de salários ou diferimentos durante o período de paragem das competições, assim como o uso do recém-criado “Fundo para Jogadores Profissionais” para ajudar a aliviar as dificuldades financeiras que os clubes estão a enfrentar.

Artigo editado por Filipa Silva