O Movimento de Utentes dos Serviços Públicos (MUSP) do Distrito do Porto exige a reabertura das consultas médicas presenciais nos centros de saúde com “urgência”. A posição foi tornada pública em comunicado, divulgado a 2 de outubro.

Na nota de imprensa, afirma-se que nos últimos tempos muitas queixas têm sido expostas, tanto ao MUSP quanto aos meios de comunicação social, por utentes “que desesperam”, fazem filas à porta dos centros de saúde na esperança da marcação de uma consulta, por vezes, em situações “nada recomendáveis”, sob sol e chuva. O MUSP reitera ainda que, com o aproximar do inverno, a preocupação aumenta: “Será uma época em que as gripes poderão arrastar a prestação de serviços aos utentes para maiores dificuldades”.

No comunicado afirma-se ser “lamentável e de todo injustificável” que, nos centros de saúde, continuem a dar preferência aos atendimentos através de telefone ou vias informáticas, pois mesmo a internet e os atendimentos à distância não resolvem tudo.

Em declarações ao JPN, Francisco Teixeira, Adérito Machado e João Rouxinol, cidadãos ativos no MUSP, são unânimes em afirmar que as queixas mais frequentes dos utentes são o tempo de espera e as dificuldades de comunicação com a unidade de saúde respetiva.

Como explica João Rouxinol, “se o doente não tem a receita, se vai ao centro de saúde e não teve a consulta garantida nesse dia, vai ficar mais um dia ou três sem medicação. A pessoa terá dificuldade em pagar [pela medicação] não tendo a receita. Não tendo a consulta [presencial], é impossível ter um cuidado na saúde”, diz. Tais condições tornam a situação ainda mais grave, uma vez que os utentes acabam por se deslocar a farmácias ou clínicas particulares, e, como refere o comunicado, dado os preços elevados, raramente passam à segunda ida ao médico.

Também ao JPN, Adérito Machado reitera: “o adiamento das consultas – até dois, três meses – reflete-se na saúde dos utentes. Os utentes já não vão mais ao centro de saúde, acabam por ir ao hospital, pois a doença agrava-se. Nos hospitais, com a situação da COVID-19, a resposta também é mais lenta”, comenta.

Adérito Machado também afirma que a luta do MUSP para melhor atuação da parte da área da saúde não é nova: “A questão que nós apontamos não é de agora, já anteriormente, há um ano, o MUSP comunicou a necessidade de mais médicos, mais auxiliares, mais enfermeiros. Há leis que encaminham para isso, mas não são aplicadas”, garante.

Até meados de setembro, a Entidade Reguladora da Saúde tinha já contabilizadas mais de 1.200 queixas relacionadas com centros de saúde, só no que respeita a agendamento de consultas e dificuldades de ligação telefónica. Os dados foram avançados pelo “Jornal de Notícias”.

“Não podemos deixar que a situação do SNS continue como está e se agrave ainda mais. Exigimos a rápida reposição do atendimento presencial, mas também o reforço de meios humanos e materiais na sua globalidade”, adverte o MUSP.

Às queixas dos utentes juntou-se, esta segunda-feira (12), o Partido Comunista Português (PCP) que lançou, no Porto, uma ação nacional, sob o lema “Combater a epidemia, recuperar atrasos, garantir o acesso aos cuidados de saúde”. “O não funcionamento regular dos Cuidados de Saúde Primários faz com que milhares de doentes de várias patologias não tenham o acompanhamento especializado hospitalar”, refere o partido que promoveu a primeira ação da campanha na Unidade de Saúde Familiar do Covelo, em Paranhos, e que promete desenvolver ações em centros de saúde dos 18 concelhos do distrito do Porto nas próximas duas semanas.

Artigo editado por Filipa Silva