A ideia para o regresso do Jornal Universitário do Porto (JUP) ao papel já tinha alguns anos, mas ganhou mais força quando os atuais diretores, José Miguel Pires e Inês Loureiro Pinto, e outros membros da redação, se dedicaram a dar vida nova à sala de redação do JUP, que até março de 2019 era pouco utilizada.

A arrumação transformou-se numa viagem pelo tempo e na descoberta de fotografias, de reportagens e das primeiras edições em papel do jornal. “Dedicamo-nos a descobrir todas as caixas quase como se fossem uma cápsula do tempo”, contou José Miguel Pires no lançamento online da versão em papel do jornal, que decorreu na quinta-feira (12). Nesta descoberta, deram-se conta de que desde março de 2015 não havia edições impressas.

Toda esta descoberta criou “uma ligação profunda ao jornal e à sua história” e a redação sentiu vontade de deixar a sua “contribuição no JUP”, continuou o co-diretor. Decidiram que a melhor forma de deixarem o seu legado seria “voltar à edição impressa”, mas sem que isso “substituísse o online.”

“Mundo Novo” pós-pandemia

Toda a equipa ficou entusiasmada com a possibilidade do regresso ao papel e a pandemia foi o “ímpeto para seguir em frente”, disse José Miguel Pires ao JPN. “A vontades para regressar ao papel já tinha vários anos. A pandemia foi um pretexto para seguir em frente devido a todos os novos temas que trouxe ao mundo.”

Intitulada “Mundo Novo”, esta edição pretende ser um acervo de trabalhos sobre as muitas mudanças ocorridas no planeta devido à pandemia da Covid-19. A escolha do título não quer passar a ideia de que a pandemia chegou ao fim, mas sim o facto de ela ter mudado o mundo.

Inês Loureiro Pinto explicou na apresentação que os membros do JUP como “jornalistas em construção” estão interessados no que se passa à sua volta e não podiam deixar de marcar o momento atual. A função de “observadores” culmina neste projeto que é a interpretação e a reflexão sobre o “mundo novo”. “Da mesma forma que vimos cápsulas do tempo dos anos 80, 90 e 2000, na sala do JUP, queremos que este 2020 fique como cápsula do tempo do que foi o JUP durante este ano”, afirmou a co-diretora do jornal.

Foto: Jornal Universitário do Porto/Facebook Foto: Jornal Universitário do orto/Facebook

Da equipa que produziu a última edição em papel, em 2015, já não há representantes na atual redação, por isso, a execução deste novo formato obrigou a uma reaprendizagem de toda a equipa. “Foi necessário reaprender, reajustar, recomeçar. Mas ao longo da sua existência, o JUP tem sido uma escola, um espaço de debate, de opinião, um tubo de ensaio para os talentos, e para a vontade de experimentar”, disse Gonçalo Norton Matos, presidente do Núcleo de Jornalismo Académico do Porto (NJAUP), na sessão de lançamento.

Ponte “QR” com o online

Durante a sessão, os editores do jornal apresentaram as suas editorias, justificando os conteúdos e a sua pertinência para os dias de hoje. Cada editoria oferece artigos sobre temas que ganharam renovado destaque no “mundo novo” da pandemia: desde o confinamento ao racismo, das fake news e desinformação ao ensino à distância, da democracia e do populismo às artes, mas também conteúdos sobre ciência e saúde.

Há também uma secção dedicada à reitoria da Universidade Porto com entrevistas a Fátima Vieira, vice-reitora da UP com o pelouro da Cultura e Museus, Joana Carvalho, pró-reitora e docente na Faculdade de Desporto, Fernando Silva, vice-reitor, com o pelouro da Universidade Digital, Qualidade e Melhoria Contínua e Pedro Graça, diretor e docente da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação.

No jornal, é possível encontrar QR codes que remetem para o site onde se encontram alguns artigos mais desenvolvidos que, devido às limitações do espaço, não foi possível estarem disponíveis na íntegra em papel. “No início ficamos preocupados com a redução de alguns artigos. Mas, acabamos por resolver o problema com recurso aos QR codes. Desta forma, é possível fazer a ponte entre o online e o papel”, explica José Miguel Pires ao JPN.

Jornais estão espalhados por vários locais da academia do Porto. Foto: Filipa Silva

O regresso ao papel contribui também para um maior “estreitamento e aproximação da academia”, explica o co-diretor. “Permite dar conhecimento a muitos estudantes da existência de um jornal universitário que informa sobre o que se passa na academia do Porto, mas também na cidade”, declara ao JPN.

Joel Pais, diretor do JUP em 2015, mostrou-se feliz pelo regresso do jornal ao papel e elogiou a forte aposta na componente fotográfica. Reforçou ainda o papel de aprendizagem do jornal no percurso académico dos membros que funciona como “escola” e destacou a abrangência dos temas abordados que marcam a identidade do jornal.

UP quer “continuar a apoiar”

Levar a edição “Mundo Novo” à estampa, foi possível com o apoio financeiro da Universidade do Porto (a Federação Académica do Porto apoiou a distribuição). Na apresentação online do projeto, a vice-reitora da instituição, Fátima Vieira, deixou elogios ao JUP e um compromisso: “Queria deixar bem claro a minha vontade em continuar a apoiar futuras edições impressas. Podem sempre contar com o meu apoio para um projeto como este, com tanta qualidade.”

A responsável da UP definiu o jornal como um “espaço de partilha, de resistência, de união, de germinação de ideias e de inovação e de liberdade” que cumpre os princípios fundamentais da democracia e que é “essencial para a saúde da universidade e um ingrediente vital para a vida em comunidade.”

Sobre o futuro do JUP, criado em 1987, José Miguel Pires diz ao JPN que gostava que o jornal “tivesse mais edições impressas, mais complexas e que fossem publicadas talvez numa periocidade trimestral, de forma a haver uma maior aproximação à academia.”

Os dez mil exemplares do jornal, que é gratuito, estão acessíveis ao público em vários espaços da academia do Porto, de faculdades ao Polo Zero da FAP.

Artigo editado por Filipa Silva