As autoridades de saúde decidiram suspender o funcionamento “das torres de refrigeração de duas indústrias, localizadas no concelho de Matosinhos”, na sequência da investigação epidemiológica e ambiental que está a ser levada a cabo para encontrar o foco de legionella responsável por 72 casos de Doença dos Legionários identificados naqueles conselhos. Esta terça-feira, registou-se o nono óbito associado ao surto.

Na nota enviada às redações, esta terça-feira à noite, pela Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte, diz-se que a medida é “cautelar” e não se identificam as fábricas em causa, apenas a localização.

Contactado pelo JPN, o gabinete de comunicação da Câmara Municipal de Matosinhos disse não dispor de informação adicional à disponibilizada pela ARS Norte. Em comunicado entretanto distribuído, a autarquia revela ter sido informada ontem pela ARS da existência de “duas torres de refrigeração identificadas como sendo os focos deste surto e que essas estruturas estariam encerradas. Independentemente do concelho onde se situem estas instalações, o importante é que o foco tenha sido identificado e que esta situação possa, em breve, ser ultrapassada”, diz a câmara liderada por Luís Salgueiro.

Os casos começaram a ser identificados a 29 de outubro. Até às 18h00 de ontem (17), estavam confirmados 72 casos “associáveis em cluster, na zona litoral da área geográfica do Agrupamento de Centros de Saúde Póvoa de Varzim/Vila do Conde e da Unidade Local de Saúde de Matosinhos”, informa a ARS Norte.

“A dispersão geográfica dos casos é compatível com uma eventual fonte ambiental sujeita aos efeitos das alterações climáticas da depressão Bárbara, que se verificou em território nacional durante o período de incubação dos referidos casos”, acrescenta a mesma fonte.

Há uma semana, o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, dava conta de que estavam a ser recolhidas pelas autoridades de saúde “análises de água das torres de refrigeração de vários espaços, águas de consumo e secreções dos doentes” para verificarem “se as estirpes de legionella são as mesmas”, mas o processo ainda estaria ainda “numa fase inicial”.

Na altura, a hipótese apontada como mais plausível era a de que o foco fosse uma torre de refrigeração localizada entre o Sul de Vila do Conde e o Norte de Matosinhos. Entre as várias indústrias analisadas, avançou o “Jornal de Notícias”, estavam a Petrogal, Ramirez, Amkor, Nelo, Lactogal, Vila do Conde Fashion Outlet e o NorteShopping.

Uma dessas empresas, a Lactogal, localizada em Vila do Conde, confirmou ontem ao JPN que recebeu a visita dos técnicos de saúde a 11 de novembro, mas até ao final da manhã de ontem ainda não havia “qualquer informação sobre o resultado das colheitas” que estão a ser analisadas pelo Instituto Dr. Ricardo Jorge. As autoridades indicaram à empresa como prazo provável para a disponibilização de informação “um prazo de 10 dias”. Pela sua parte, a empresa garante que os seus equipamentos são alvo de análises trimestrais, sendo que “o último resultado, com data de 14 de outubro, está conforme” para o parâmetro específico da legionella. “Toda a documentação relevante relativa aos resultados negativos desde há dois anos para cá” foram, por iniciativa da empresa, fornecidos às autoridades, assegurou a mesma fonte.

Também o NorteShopping, maior centro comercial do Norte do país, localizado na zona onde a A28 – que atravessa os concelhos mais afetados – encontra a cidade do Porto, decidiu tornar públicos os resultados das análises que fez: “o Centro realizou análises a 27 de outubro e a 12 de novembro, com resultados negativos, não tendo sido detetada a referida bactéria [legionella] nos seus sistemas de ar condicionado”, assegura a entidade em comunicado enviado esta quarta-feira à Imprensa.

Já descartada, quer em Matosinhos quer em Vila do Conde, é a existência de qualquer relação entre o surto e a água fornecida pela rede pública. Aliás, como esclarece a ARS Norte, a infeção não se transmite através do consumo de água, mas antes “por via aérea (respiratória), através da inalação de gotículas de água (aerossóis) ou, mais raramente, por aspiração de água contaminada com a bactéria.”

Febre, mal-estar geral, dores de cabeça, dores musculares, tosse não produtiva e diarreia são sintomas característicos da Doença dos Legionários, uma pneumonia provocada pela bactéria Legionella pneumophila.

A doença atinge, com mais frequência, adultos/pessoas idosas, habitualmente fumadores, doentes cujo sistema imunitário esteja debilitado e portadores de doenças crónicas (diabetes, doenças pulmonares, doenças renais ou neoplásicas). A pneumonia provocada por Legionella pode ser grave, podendo a morte ocorrer em 5-14% dos doentes”, explicou ainda a ARS Norte na nota enviada às redações.

“Atentas à evolução da situação”, as autoridades de saúde regionais comprometem-se apenas a tomar “as medidas adicionais que se revelem necessárias ao controlo da situação”.

Notícia atualizada às 17h37 com a informação transmitida pelo NorteShopping em comunicado, esta quarta-feira à tarde.