O socialista Andrés Arauz, herdeiro político do ex-Presidente Rafael Correa, vai enfrentar o conservador Guillermo Lasso na segunda volta das eleições presidenciais do Equador, a 11 de abril, anunciou o Conselho Nacional Eleitoral do Equador (CNE).

Arauz ficou em primeiro lugar na primeira volta, com 32,72% dos votos, contra 19,74% de Lasso e 19,39% de Yaku Pérez, um líder indígena de esquerda, segundo os resultados oficiais do escrutínio de 7 de fevereiro. Apenas 23.600 votos separaram Pérez de Lasso.

O CNE oficializou os dois vencedores apenas na madrugada de domingo (dia 21), duas semanas depois do dia das eleições. Os resultados foram aprovados por quatro dos cinco membros do Conselho e proclamados pelo secretário, Santiago Vallejo. Após a proclamação dos resultados, os candidatos ainda podem apresentar recursos.

Yaku Pérez denunciou a existência de fraude a favor do seu adversário de direita, Lasso, que o ultrapassou perto do final da contagem dos votos e ficou em segundo, deixando Pérez fora da disputa.

A incerteza tomou conta do controverso processo de contagem dos votos. Uma semana depois da primeira volta, tudo parecia encaminhado para que os votos em várias províncias voltassem a ser contabilizados, com o objetivo de apurar qual foi o candidato com o segundo maior número de votos.

O lugar foi disputado praticamente voto a voto por Pérez e Lasso. Nos dias 13 e 14, os dois candidatos tinham chegado a acordo para que fossem contados todos os votos na província de Guayas e metade noutras 15 regiões. Porém, escassas horas depois, o acordo caiu por terra, depois de Lasso ter exigido que o CNE concluísse a primeira contabilização e certificasse os resultados, e só depois é que se procedesse à recontagem. Pérez não reagiu bem à adenda e voltou a insistir nas denúncias de fraude.

No meio do impasse, a direção do CNE não conseguiu aprovar os procedimentos legais que autorizariam a recontagem. O próximo passo foi, então, a certificação oficial dos resultados.

Porém, a porta não fica logo fechada a uma futura recontagem, com a possibilidade de os candidatos poderem contestar os resultados fixados, mas o cenário de uma solução consensual entre os dois candidatos parece afastado.

Infografia 'quem são os candidatos'

Infografia 'quem são os candidatos'

O atual Presidente

O vencedor da segunda volta vai suceder ao Presidente Lenín Moreno, que não se recandidatou e cujo mandato termina em 24 de maio.

Moreno é um ex-aliado de Rafael Correa: o anterior Presidente do país (de 2007 a 2017), que agora apoia Arauz. Em abril de 2020, Correa foi condenado a oito anos de prisão pelo Supremo Tribunal do Equador, à revelia, uma vez que residia (e reside) na Bélgica, de onde a sua mulher é natural. Além da pena de prisão, também foi condenado a 25 anos sem poder concorrer a cargos públicos.

Correa classificou o processo como “ridículo” e político e disse ter sido montado pelo Presidente Moreno. A Fundação Internacional de Direitos Humanos também reagiu, de forma dura, denunciando a utilização fraudulenta do poder judicial contra adversários injustamente acusados e sentenciados com provas ‘fabricadas’ e testemunhos falsos.

Correa estava a preparar-se para ser candidato nas eleições presidenciais de 2021, para concorrer contra Moreno, o homem que apoiou para o suceder e que rapidamente se tornou um dos seus maiores inimigos políticos. Os dois vêm do mesmo partido, a Alianza Pais, do qual Correa se desfiliou em 2018, já devido a disputas com o sucessor. Moreno chegou a ser vice-presidente do seu padrinho político durante seis anos e teve-o na sua campanha, mas logo nos primeiros meses no cargo esforçou-se para se afastar do seu antecessor. Desde aí, a relação foi-se degradando ao ponto de se tornarem inimigos políticos.