Dia 14 de maio, os cidadãos da Turquia vão às urnas no âmbito das eleições presidenciais e legislativas. Com o país ainda a sofrer as consequências do terramoto de fevereiro e da crise cambial de 2021, a sondagem da companhia Konda, partilhada esta quinta-feira (11), aponta para a vitória da oposição à primeira volta, tirando Erdogan do governo pela primeira vez em 20 anos.

Recep Tayyip Erdogan governa sob um regime presidencialista desde 2018. Foto: Paul Morigi via FlickrCC BY-NC-ND 2.0

Depois de um terramoto devastador e com uma situação económica instável, a Turquia vai ter eleições que serão cruciais para determinar o seu panorama democrático. Em causa está não só a escolha do próximo presidente turco mas também a composição do novo Parlamento. A 14 de maio, os 64 milhões de eleitores terão de votar naquelas que podem ser as eleições mais renhidas de sempre no país – mas cuja vitória parece pender para a alternativa ao atual governo.

dois principais candidatos (de um total de três, atualmente) na corrida presidencial do próximo domingo, na qual caem maioritariamente as atenções internacionais. Na direita conservadora, pelo Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), concorre o atual Presidente, Recep Tayyip Erdogan, que está no poder há já duas décadas. Porém, os eventos que assolaram o país podem representar grandes desafios para uma possível continuidade. Já o centro-esquerda social-democrata, do Partido Republicano do Povo (CHP) com uma coligação de seis partidos, é encabeçado por Kemal Kiliçdaroglu – o maior candidato da oposição.

Dados recolhidos ao longo do período de campanha mostram que a luta entre Erdogan e Kiliçdaroglu tem vindo a ser renhida, havendo uma margem muito curta entre ambos. Porém, uma sondagem do Instituto Kond, divulgada esta quinta-feira, coloca o principal candidato da oposição muito perto de uma vitória à primeira volta, acumulando 49,3% da intenção de voto. Já o atual Presidente conta com 43,7% dos votos.

Com menos probabilidade de ganhar, os boletins incluem ainda o nome de  Sinan Ogan (da Aliança Ancestral, direita). Muharrem Ince (do Partido da Pátria, centro-direita) também incluía a lista de candidatos, mas desistiu esta quinta-feira, no penúltimo dia de campanha. “Retiro a minha candidatura. Faço-o pelo meu país”, afirmou em conferência de imprensa, citada pelo jornal “Público”, não manifestando, contudo, apoio a outro candidato.

Estas eleições revelam-se determinantes para a Turquia, cujo povo tem vivido várias dificuldades nos últimos anos. Há apenas três meses, o país foi abalado por um forte sismo que resultou na morte de mais de 50 mil pessoas e no desalojamento de cerca de 5,9 milhões, no Sul da Turquia e Norte da Síria. Mas, antes do desastre natural, já se vivia uma crise cambial, surgida no final de 2021, que levou a inflação a atingir um pico de valores acima de 85% em outubro de 2022, tendo mais recentemente caído para 55,2%, em fevereiro deste ano.

Entretanto, nas votações antecipadas, já foram às urnas mais de 1,2 milhões de turcos que vivem no estrangeiro – tendo-se até registado a abertura inaugural de secções de voto em 14 países, incluindo Portugal. A afluência já ultrapassou os níveis de 2018 e prevê-se que se mantenham altos.

Quem são os principais candidatos

O atual líder turco, de 69 anos, está há 20 anos no poder e tem uma presença política ativa no panorama internacional (sobretudo no que concerne à guerra da Ucrânia, sobre a qual tem sido muito interventivo). Inicialmente, exerceu funções como primeiro-ministro, a partir de 2003, tendo mais tarde, em 2014, sido eleito Presidente. Em 2017, foi instituído um regime presidencialista, que atribui ao chefe de Estado o poder executivo, e em 2018 Erdogan foi reeleito.

A sondagem do instituto Konda, revelada esta quinta-feira, põe Kemal Kiliçdaroglu na liderança, com quase 50% dos votos. Fot: Cumhuriyet Halk Partisi via Wikimedia CommonsCC BY 3.0

Com o intuito único de tirar o líder do país das suas funções, seis partidos da oposição (de esquerda e direita) alinharam-se para apoiar Kemal Kiliçdaroglu, de 74 anos e cabeça do CHP (partido kemalista e laico que se apresenta como centro-esquerda). Ao contrário do opositor, o economista e antigo funcionário público é uma figura mais discreta. Como principal agenda traz a unificação do país e substituição do atual regime presidencialista, instituindo novamente o sistema parlamentar com poderes reforçados.

Erdogan tem vindo a ser acusado de autoritarismo, tendo inclusivamente motivado amplas manifestações contra o seu regime. Este, por sua vez, aponta o dedo a Kiliçdaroglu, alegando que quer dividir o país eurasiático – tendo até descrito o mesmo como “bêbado” e “infiel” num comício eleitoral em Istambul.

A campanha eleitoral tem sido marcada por tensões exacerbadas: por exemplo, nos Países Baixos, onde haverá cerca de 400 mil emigrantes turcos, houve desacatos com intervenção policial entre os apoiantes dos dois principais candidatos. Em Istambul, foi apedrejada a caravana do autarca da cidade, que será vice-presidente de Kiliçdaroglu, caso este último se torne presidente.

A guerra das sondagens tem sido intensa, com algumas a mostrar menos diferença entre as duas frentes, mas com o aproximar do momento de voto a vantagem parece ser de Kemal Kiliçdaroglu. Se necessária, a repetição das eleições será no dia 28 de maio, envolvendo apenas os dois principais candidatos.