Foi num ambiente de tensão que a contagem dos votos na Turquia, realizada no último domingo (14), confirmou a necessidade de ir à segunda volta para definir quem será o próximo Presidente. Recep Tayyip Erdogan, na liderança do país há já 20 anos, arrecadou 49,51% dos votos, enquanto Kemal Kiliçdaroglu, principal opositor, obteve 44,88%. Segundo avançam os órgãos de comunicação turcos, a adesão às urnas bateu todas as expectativas com 93,6% da população a marcar presença nas urnas.
Como previram as sondagens, a luta é renhida, ainda que nesta ronda Erdogan esteja na frente. A 28 de maio, porém, os cidadãos turcos terão de repetir a votação, já que nenhum dos candidatos conseguiu ultrapassar a metade dos votos necessária para uma maioria absoluta, anunciou o presidente da Comissão Eleitoral, Ahmet Yener. Desta vez, a escolha está apenas entre Erdogan (AKP, Partido da Justiça e do Desenvolvimento, conservador-islamista) e Kiliçdaroglu (CHP, Partido Republicano do Povo e representante de uma coligação de seis partidos), deixando Sinan Ogan, terceiro candidato, (5,3%) para trás na corrida.
Durante a madrugada, na capital Ancara, Kilicdaroglu mostrou-se otimista para a próxima ronda, partilha a RTP: “Se a nossa nação escolheu ir à segunda volta, teremos todo o prazer. Iremos certamente ganhar estas eleições”. No entanto, no decorrer da contagem, o CHP apontou o dedo a Erdogan, acusando-o de bloquear a contagem e assim impugnar as atas nas zonas onde a oposição é mais forte, e à agência Anatólia, alegando que a informação divulgada no decorrer do processo eleitoral não era fidedigna. O líder da coligação de seis partidos chegou inclusive a apelar a apoiantes e voluntários envolvidos no escrutínio para “não abandonarem os seus postos” e assegurar que o processo democrático decorria corretamente.
Também Erdogan tem um discurso positivo perante o confronto direto com a oposição. “Já ultrapassámos o nosso candidato mais próximo com 2,6 milhões de votos”, frisou em declarações públicas, divulgadas pela RTP.
No atual governo, contudo, caem acusações sobre uma resposta lenta ao sismo que assolou o país em fevereiro. Somam-se ainda as repercussões da crise económica que espoletou em 2021 e da qual a Turquia tem vindo a recuperar, mas com a inflação ainda a atingir valores de 55,2%, em fevereiro deste ano.
Quanto às eleições legislativas, também efetivadas no domingo, o partido de Erdogan, AKP, obteve 325 dos 600 assentos parlamentares (equivalente a 50% dos votos), mantendo a maioria absoluta das últimas décadas. Já o CHP e seus aliados asseguraram o lugar de 215 deputados (34%). Quando 82% dos votos estavam contabilizados, o partido esquerdista pró-curdo HDP (Partido Democrático dos Povos) e seus aliados obtiveram ainda 60 mandatos.