O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do Equador divulgou os resultados preliminares da segunda volta das eleições presidenciais, que dão a vitória ao candidato de direita da aliança Criando Oportunidades (Creo), Guillermo Lasso, sobre o adversário de esquerda, Andrés Arauz, da União pela Esperança (Unes).

No final deste processo, será realizado o apuramento oficial, com verificação voto a voto. O resultado deve ser divulgado nos próximos dias juntamente com a confirmação oficial do próximo presidente para os próximos cinco anos.

Segundo dados oficiais, Guillermo Lasso encontra-se com 52,52% dos votos e Andrés Arauz com 47,48%. A diferença de votos entre os dois candidatos é de cerca de 420.000 e tudo indica que não será substancialmente alterada, embora a recontagem ainda esteja em aberto. Na sua terceira candidatura à presidência, Lasso disse que, através do voto, os equatorianos expressaram a “necessidade de mudança” no país.

Na noite deste domingo (11), o adversário socialista de Lasso pronunciou-se sobre o resultado, declarando que ia entrar em contato com Lasso e parabeniza-lo pela vitória. “Demonstrarei a ele nossas convicções democráticas de seguir contribuindo para o país e de nos opormos quando se procura beneficiar somente a poucos“, disse em conferência de imprensa, à teleSUR TV.

“À nossa militância e a todos que confiaram em nós, quero agradecer de todo o coração, jamais os esqueceremos. Estaremos aí trabalhando, estaremos defendendo nossos cidadãos”, e completou: “Hoje não é o final, é o começo de uma nova etapa de reconstrução do poder popular“.

Por sua vez, o novo presidente de direita divulgou uma mensagem de agradecimento nas suas redes sociais. “Obrigada Equador por demonstrarem o seu apoio nas urnas. Como corresponde, vamos esperar os resultados oficiais. Estamos positivos e com fé em alto“, afirmou Lasso.

“Este é um dia histórico, um dia em que todos os equatorianos decidiram o seu futuro, expressaram com o seu voto a necessidade de mudança e o desejo de dias melhores para todos“, disse aos apoiantes reunidos em Guayaquil.

Na primeira volta, o economista Andrés Arauz Galarza, de 36 anos, ficou em primeiro lugar, com 32,72% dos votos, contra 19,74% do ex-banqueiro de direita Guillermo Lasso, de 65 anos, e 19,39% do líder indígena de esquerda Yaku Perez, de 51 anos, segundo os resultados oficiais do escrutínio de 7 de fevereiro.

Durante a campanha, Lasso prometeu criar mais empregos e atrair bancos internacionais, assim como impulsionar os setores do petróleo, mineração e energia com a participação de entidades privadas em substituição do financiamento estatal.

Quem é Guillermo Lasso?

Confirmada a vitória apontada pela contagem rápida preliminar dos votos, o próximo presidente equatoriano será Guillermo Lasso. No seu mandato, é possível que o governo seja caracterizado por uma continuação do neoliberalismo marcante no atual governo de Lenín Moreno, e talvez até mais agressivo, encarnando uma política de retrocesso nas questões sociais e até nos direitos humanos, de acordo com o balanço de analistas.

Guillermo Lasso, 65 anos, é um poderoso homem de negócios e proprietário de holdings financeiras que incluem o Banco Guayaquil, um dos maiores do Equador. Esta é terceira vez que tenta tornar-se presidente do país. Em 2013, ficou em segundo lugar depois da vitória de Rafael Correa – que apoiou Andrés Arauz na eleição de 2021. Naquela ocasião, Correa venceu a eleição, para o seu segundo mandato, com mais de 57% dos votos. Em 2017, Lasso perdeu para Lenín Moreno na segunda volta, que na altura da eleição também era apoiado por Correa.

Aos olhos de alguns analistas, Lasso é o candidato que representa os ideais daqueles que desejam dar continuidade ao modelo económico neoliberal no país e, portanto, tem o apoio das elites empresariais e dos setores mais conservadores da sociedade.

O candidato da aliança Creo é lembrado na memória equatoriana de duas formas: pela sua carreira como banqueiro de sucesso que fez uma fortuna de milhões, e pelo seu papel no dramático episódio da crise financeira de 1999, conhecido como o Feriado Bancário.

O Feriado Bancário foi uma das piores crises da história do país andino e que afetou diretamente as economias de milhões de famílias e provocou a desvalorização do sucre (moeda nacional) e a dolarização da economia.

Mais recentemente, segundo um relatório do Centro Estratégico Latino-americano de Geopolítica (CELAG), em plena pandemia, o Banco de Guayaquil, da propriedade do candidato presidencial, foi também um dos bancos que mais aumentou os lucros em 2020, crescendo 26% em comparação com 2019.

A estas controvérsias atuais e passadas, deve ser acrescentada sua posição conservadora sobre questões sociais, uma vez que Lasso é membro da Opus Dei, a ala mais conservadora do catolicismo.

Lasso opôs-se abertamente à descriminalização do aborto, mesmo em casos de violação, e tem sido crítico quanto à proibição das clínicas de “desomosexualização” – centros que funciona em total sigilo e que utilizam táticas de tortura, que provocaram um alerta na comunidade LGBTQ+ e ativistas de direitos humanos.

Artigo editado por João Malheiro