Benjamin Netanyahu está de saída do poder em Israel, após o voto favorável de 60 deputados ao novo governo de coligação, este domingo. Durante os próximos dois anos, este será liderado por Naftali Bennett, líder do partido de direita radical Yamina (À Direita). Após esse período, Bennett é substituído pelo centrista Yair Lapid, do partido Yesh Atid (Há um Futuro), que ocupará, por enquanto, a posição de ministro dos Negócios Estrangeiros.

Apesar do acordo entre os partidos da oposição ter sido oficializado a 2 de junho, as dúvidas só agora se dissiparam quanto ao destino do atual primeiro-ministro. Unidos pela sua oposição a Netanyahu, que se encontra sobre três acusações de corrupção, oito partidos da direita radical à esquerda pacifista conseguiram o aval do parlamento israelita para formar um governo alternativo por apenas um voto. Para além dos partidos já referidos, a coligação inclui os nacionalistas Nova Esperança e Yisrael Beiteinu (Israel, Nossa Casa), o centrista Azul e Branco, os esquerdistas Meretz e Partido Trabalhista e o islamista Ra’am.

A nova coligação governativa é uma de opostos ideológicos, unindo forças políticas defensoras da anexação dos territórios ocupados da Cisjordânia e, ao mesmo tempo, o primeiro partido árabe com funções executivas. O próximo primeiro-ministro de Israel é um ávido opositor de um Estado da Palestina e é favorável à anexação da denominada Área C da Cisjordânia – local ocupado por colonatos israelitas.

Fruto dessa discórdia, o novo governo deve abster-ser de tomar decisões significativas no que diz respeito à situação entre Israel e Palestina. Dessa forma, o foco do executivo liderado por Bennett deverá ser as questões internas. Entre as principais prioridades encontra-se a imposição de um limite de dois mandatos para o cargo de primeiro-ministro e uma reforma eleitoral. Para além disso, em troca pelo apoio do partido árabe Ra’am, o financiamento às comunidades árabes deve ser aumentado significativamente.

A formação do novo governo segue-se à realização de quatro eleições legislativas nos últimos dois anos, a última das quais em março. Naftali Bennett descreve o período atual como um de instabilidade, afirmando que se parou “o comboio um momento antes da ravina“. O próximo chefe de governo israelita assegura pretender representar todos, dos colonatos às grandes cidades e às comunidades árabes.

Naftali Bennett: o novo primeiro-ministro israelita

Filho de imigrantes norte-americanos, Naftali Bennett, de 49 anos, será o próximo primeiro-ministro de Israel, substituindo Netanyahu, que ocupa o cargo há 12 anos. Como judeu ortodoxo moderno, torna-se no primeiro chefe de governo religioso do país. Antes de se juntar à oposição, Bennett era um dos principais aliados do atual primeiro-ministro. Durante o longo mandato de Netanyahu, serviu como chefe de gabinete, ministro de Assuntos da Diáspora, ministro da Educação e ministro da Defesa.

O líder do partido Yamina é considerado mais radical do que o incumbente Netanyahu, adotando posições duras relativamente à Palestina e ao Irão. Defensor da expansão dos colonatos na Cisjordânia, considerados ilegais pela lei internacional, chegou a liderar o Conselho dos Colonos da Cisjordânia, Yesha. Ao longo dos anos, tem proferido comentários polémicos: “Já matei muitos árabes na minha vida e não há problema com isso“. Em 2009, viu-se de costas voltadas com o atual primeiro-ministro por discordar do abrandamento na construção de colonatos na Cisjordânia.

Apesar das suas posições nacionalistas, o futuro chefe de governo israelita é descrito como um pragmata. Proveniente de Haifa, no norte do país, vive nos subúrbios de Telavive e adota posições relativamente seculares quanto à relação entre Estado e Igreja. É ainda um liberal no que toca a direitos LGBTQ+, destoando da maioria da direita conservadora. Antes da política, destacou-se como homem de negócios, tendo fundado a empresa de cibersegurança Cyotta, em 1999. Agora encontra-se perante a missão de levar Israel a bom porto, enquanto recupera dos efeitos da pandemia.

Artigo editado por João Malheiro