Num estádio de Wembley quase lotado, Inglaterra e Itália disputaram a grande final do Euro 2020 na noite de domingo. O sonho inglês de trazer o futebol para ‘casa’, alavancado pela (rara) união do país em torno da seleção, acabou desfeito nas luvas de Donnarumma, herói italiano, nos penáltis. Um golo para cada lado nos noventa minutos de jogo e o nulo do prolongamento ditou o derradeiro tira-teimas pela marca dos onze metros, algo que já não sucedia numa final de um Europeu desde 1976. Nos momentos decisivos, apareceu o jovem guardião do PSG a selar o triunfo da squadra azzurra, mais de meio século depois.

Quanto ao jogo dentro das quatro linhas, destaca-se a mudança tática adotada por Gareth Southgate. O técnico inglês descartou o habitual 4-2-3-1 e apostou num 5-2-3, procurando solidez defensiva ao lançar Trippier para a ala direita e Walker para central pelo mesmo lado.

Mancini, por oposição, manteve a estrutura do 4-3-3, com o mesmo meio-campo que tem encantado os adeptos neste Europeu, composto pelo trio Jorginho, Verratti e Barella.

Shaw marcou cedo. Itália reagiu tarde

Um minuto e meio após o apito inicial de Bjorn Kuipers, a Inglaterra já se adiantava no marcador. Luke Shaw, que iniciou e finalizou a jogada do golo num contra-ataque fulminante após canto italiano, confirmou o excelente momento de forma e abriu o ativo com um remate de primeira, pela esquerda, após assistência de Trippier.

O golo madrugador pareceu reforçar a ideia de Southgate para este encontro: defender com um bloco médio-baixo e explorar ataques rápidos.

Os jogadores ingleses estavam compenetrados no cumprimento das suas tarefas e conseguiram anular as investidas italianas no primeiro tempo, não permitindo espaço aos velozes atacantes adversários.

À exceção de poucas ocasiões através de bola parada, a Itália nunca conseguiu penetrar na muralha britânica, embora Jorginho tivesse liberdade para construir jogo, devido ao posicionamento mais baixo de Rice e Phillips, que não o pressionavam.

A Inglaterra partia, assim, em vantagem, para os balneários, através do único remate que fez em direção à baliza.

Domínio total azul valeu prolongamento

Ao intervalo, Roberto Mancini ajustou a sua equipa taticamente de modo a ser mais contundente no ataque e a guardar melhor a bola a meio-campo, decisão amplificada pelas entradas de Cristante e Berardi, aos 54 minutos.

Por volta da hora de jogo, a Itália registava mais de 70% de posse de bola na segunda parte, o que demonstra, por um lado, a paciência que teve, à espera do momento ideal para ferir os “Três Leões” e, por outro, a total incapacidade inglesa em pressionar o meio-campo italiano, que jogava sozinho.

A Inglaterra abdicou de ter bola e, muitas vezes, sofreu com isso, ao ser atacada em várias frentes, normalmente pelo criativo Federico Chiesa, que rompeu linhas e causou calafrios aos defesas britânicos.

Embora controlasse o ritmo da partida e conseguisse criar oportunidades de bola corrida, foi através de um canto que a seleção forasteira chegou à igualdade.

Numa bola cobrada por Insigne, à direita, Verratti, um dos mais baixos em campo, cabeceou à baliza, após ressalto, para defesa atabalhoada de Pickford, que deixou a bola sobrar para o veterano Bonucci, que só teve de encostar.

Com mérito (e alguma sorte à mistura), a squadra azzurra chegava ao empate e obrigava a Inglaterra a mudar o estilo de jogo para ir em busca do triunfo.

Até ao fim dos 90 minutos, porém, o marcador não se alterou, embora continuasse a ser a Itália a assumir as despesas do jogo.

Ingleses melhoraram no tempo extra. Italianos sorriram no final

Após terem sido submetidas a prolongamentos nos jogos anteriores, as duas seleções transpareceram alguma fadiga na meia hora restante e o jogo perdeu qualidade e intensidade.

Ao contrário do que aconteceu no tempo regulamentar, a Inglaterra superiorizou-se ao rival e chegou a assustar os homens de Mancini, que sofreram até ao apito final, mas aguentaram o ímpeto inglês, muito pelas exibições exemplares da dupla Bonucci-Chiellini.

Chegado ao fim o prolongamento, era tempo dos penáltis, momentos sempre tensos, especialmente numa final de uma grande competição internacional.

Impulsionada pelo público, desejoso de ver a sua nação vencer um troféu 55 anos depois, a seleção inglesa queria afastar os fantasmas das grandes penalidades e ficar com o troféu em casa, como diz a música que se tornou um símbolo da seleção: “It’s Coming Home”.

A Itália, por sua vez, queria redimir-se da final perdida em 2012 frente à Espanha.

Foi Berardi o primeiro a bater um penálti, enganando Pickford. Seguiram-se as tentativas de Kane (marcado), Belotti (falhado), Maguire (marcado), Bonucci (marcado), Rashford (falhado), Bernardeschi (marcado), Sancho (falhado), até ao potencial penálti decisivo, também falhado, por Jorginho.

Por fim, Saka permitiu a defesa do guardião adversário e a Itália festejou o título de campeã da Europa.

No final do encontro, os italianos levantaram o troféu e Donnarumma foi distinguido como melhor jogador do torneio – o que aconteceu pela primeira vez com um guarda-redes -, sendo Bonucci o melhor da final. Com o português Cristiano Ronaldo fica o título de melhor marcador do Europeu, com cinco golos assinados pelo capitão luso.

“Estes rapazes foram formidáveis”

Roberto Mancini, após a final, era um selecionador orgulhoso e rendido à sua equipa: “Não sei o que dizer, estes rapazes foram formidáveis. Fomos corajosos, verdadeiramente corajosos. Sofremos o golo rapidamente e isso colocou-nos em dificuldades, mas depois dominámos o jogo. Esta noite estamos felizes, é importante para todo o mundo, para todos os adeptos. Espero que façam a festa, em Itália”.

Gareth Southgate, por sua vez, não escondeu a deceção da derrota e a dor que se irá sentir no balneário: “Estamos profundamente desapontados. Os jogadores têm de ter o devido crédito, porque deram tudo o que tinham para vencer este jogo. Por vezes jogamos muito bem, outras não fomos capazes de manter a posse de bola como queríamos. Mas não podem ser recriminados. Foi uma alegria absoluta trabalhar com eles e foram mais longe do que alguma vez fomos capazes. Mas é claro que esta noite será incrivelmente dolorosa para todos no balneário”.

A Itália sucede a Portugal na lista dos campeões da Europa e iguala a França, com dois títulos europeus, apenas atrás da Espanha e Alemanha, ambas com três.

Artigo editado por Filipa Silva