Previa-se um grande jogo e as protagonistas não desiludiram. Portugal esteve a vencer, esteve a perder, conseguiu o empate, mas nas grandes penalidades as espanholas superiorizaram-se e carimbaram mais um título europeu.

Depois de duas meias-finais sem sobressaltos, Portugal e Espanha encontraram-se, este domingo, para jogarem a derradeira partida. Na última edição do Euro Futsal Feminino, em 2019, as duas seleções encontraram-se, também em Gondomar, e a seleção espanhola saiu por cima. As portuguesas tiveram a oportunidade de se vingarem, mas os esforços não foram suficientes. Espanha venceu nas grandes penalidades por 1-4, depois do 3-3 no final do prolongamento, e revalidou o título de campeã da Europa.

Vantagem portuguesa e espetáculo de parte a parte

A casa estava cheia e as bancadas ao rubro. Gondomar estava pronto para uma grande final e as equipas corresponderam, mas a emoção demorou a chegar. Portugal e Espanha arrancaram com alguma ansiedade e isso foi notório. De parte a parte, mostravam muita dificuldade em ligar o jogo e criar ocasiões de perigo.

Alguns adeptos até podiam estar a começar a bocejar, mas à passagem do quinto minuto, Noelia Montoro criou a primeira oportunidade real de perigo e despertou todos os presentes. A espanhola recebeu a bola ainda fora da área e rematou com muito perigo a rasar o poste da baliza defendida por Ana Catarina.

A partir daí, a intensidade que se esperava da final veio ao de cima. Logo depois da ocasião de Noelia, foi a vez de Portugal de criar perigo. A capitã Ana Azevedo apareceu isolada para rematar e no momento do remate foi puxada em falta por Laura Córdoba. A jogadora viu o cartão amarelo e fez exaltar os ânimos nas bancadas.

O ambiente estava a aquecer e dois minutos depois a casa ia indo abaixo. Ana Azevedo caiu na área após um empurrão nas costas da guardiã Silvia Aguete. A equipa de arbitragem nada assinalou e os adeptos portugueses fizeram questão de evidenciar o seu desagrado com a decisão.

Dois minutos depois, grande oportunidade para a equipa das quinas. A equipa espanhola perdeu a bola no seu meio-campo defensivo e Ana Azevedo teve nos pés o primeiro golo da partida, mas desperdiçou.

Passados três minutos, novamente ela. Ana Azevedo, frente-a-frente, com Silvia, voltou a falhar. Falhou, mas nem um minuto demorou a redimir-se. À passagem do minuto 11, a suspeita do costume recebeu a bola de Fifó e finalizou para o fundo da baliza espanhola. Portugal estava melhor no jogo e o golo veio fazer justiça aos acontecimentos dentro das quatro linhas.

O golo libertou alguma pressão dos ombros das portuguesas e colocou-a nos ombros das espanholas. Espanha não queria voltar a sofrer, já tinha quatro faltas, e conteve-se um pouco mais no seu jogo. La roja não queria sofrer, mas Portugal não estava a fazer favores e aumentou a intensidade no jogo ofensivo.

A quatro minutos do final da primeira parte, Carla Vanessa fez uso do seu típico remate forte e disparou uma bomba na direção da baliza de Silvia. Para alívio das visitantes, a guarda-redes mostrou-se muito segura e esticou-se para evitar o aumento da vantagem portuguesa.

A faltar dois minutos certos, Luís Conceição pediu uma pausa técnica para reorganizar as tropas e nem 30 segundos depois voltou a gritar-se golo no Multiusos de Gondomar. Numa reposição lateral, Janice recebeu junto ao primeiro poste e deixou para Pisko finalizar. Estava feito o 2-0 e instalada a festa entre os adeptos portugueses.

Se no primeiro golo a Espanha se retraiu, a desvantagem de dois golos provocou uma reação oposta na equipa espanhola. Com uma missão complicada pela frente, a equipa comandada por Claudia Pons aumentou muito a intensidade e meteu mais jogadoras e velocidade no momento ofensivo. E a verdade é que resultou. A 26 segundos do intervalo, Espanha recuperou a bola após erro de Janice e, do meio da rua, Ale de Paz fez o 2-1 com um tiro do meio da rua. Um absoluto golaço que devolveu as espanholas à luta pela revalidação do título.

Intensidade espanhola e ineficácia portuguesa

A segunda parte começou como terminou a primeira. A Espanha deixou de lado os receios e tentou ditar o ritmo do jogo. Com 50 segundos jogados, Ana Catarina foi chamada a mostrar serviço após remate perigoso de Peque.

As espanholas queriam controlar, mas Ana Azevedo estava imparável. A veterana fez um corte e numa bela jogada individual arrancou com a bola pelo campo todo, pelo meio driblou uma defesa e só foi parada em falta por Noelia, que viu o cartão amarelo.

As equipas estavam a circular bem a bola e a conseguir progredir no terreno, mas a bola não entrava. Do lado português, a capacidade finalizadora mostrava-se insuficiente. Do lado espanhol, sofria-se com o azar de enfrentar, na baliza adversária, Ana Catarina, a melhor guarda-redes do mundo. A guardiã do SL Benfica fez-se felino e por mais do que uma vez evitou o empate das espanholas.

A proteção de Ana Catarina ia limpando os erros defensivos da seleção portuguesa, mas a maldição espanhola acabaria por quebrar. Depois de meia dúzia de oportunidades flagrantes, o golo espanhol acabou por chegar. Numa bola pelo ar para a área portuguesa que é cortada de cabeça, Ale de Paz encheu o pé e, de primeira, bisou na partida e devolveu o empate ao marcador a seis minutos do fim.

Com tudo igual e cinco minutos para jogar, a bola começava a pesar e o medo de deitar tudo a perder toldou a atitude das portuguesas. Depois de terem estado a vencer por 2-0, o empate era espelho do ascendente das espanholas no jogo e a possibilidade de uma reviravolta assombrou a seleção nacional.

Por sua vez, a Espanha procurou capitalizar o momento positivo e estava decidida a resolver o jogo no tempo regulamentar. E aqui montou-se um duelo particular: Irene Córdoba vs Ana Catarina. Por duas vezes, a fixo espanhola teve nos pés a consumação da reviravolta e, por duas vezes, a guarda-redes portuguesa brilhou e impediu o 2-3. Tudo igual ao fim de 40 minutos.

O desperdício foi muito, mas o espetáculo foi ainda maior

Com mais dez minutos para resolver o jogo, não houve espaço para mais receios. Era tempo de atacar as balizas adversárias e as oportunidades foram multiplicando de parte a parte. Janice foi a mais esclarecida da equipa portuguesa e criou e finalizou quase todas as oportunidades da seleção no prolongamento.

À passagem do terceiro minuto, Janice conduziu a bola num 2 para 0 e deixou para Ana Azevedo finalizar. A bancada já se levantava para festejar, mas a capitã teve dificuldades na finalização e a bola passou por cima da barra.

Com metade da primeira parte jogada, Espanha fez a sexta falta e Portugal ganhou a chance de aumentar a vantagem a partir de um livre da linha de dez metros. Pisko assumiu o remate, mas Silvia defendeu com o joelho e manteve tudo igual.

Um minuto depois, golo espanhol. María Sanz rematou à entrada da área e Ana Catarina não conseguiu segurar. Estava feito o 2-3 e instalado o desânimo no rosto dos adeptos portugueses.

Na segunda parte do prolongamento, a parca capacidade finalizadora da seleção nacional veio ao de cima. Portugal já tinha falhado, mas Espanha somou mais duas faltas e deu mais duas hipóteses às portuguesas para empatarem a partir da linha de dez metros. Nas duas ocasiões, primeiro por Carla Vanessa e, depois, por Pisko, os remates não conheceram o fundo das redes da baliza protegida por Silvia.

Os desperdícios não desanimavam Portugal e, com dois minutos para jogar e nada a perder, Luís Conceição meteu Pisko no lugar de Ana Catarina e apostou no 5×4. Em superioridade numérica no ataque, a seleção nacional só tinha de gerir a bola nos seus pés e procurar furar a defesa espanhola. Fê-lo na perfeição e, no momento exato, atacou a baliza e fez o 3-3, a pouco mais de um minuto do final. Pisko, que estava em campo como guarda-redes avançada, recebeu de Janice e, de primeira, fez um golaço que levou ao delírio de todos os portugueses no Pavilhão Multiusos de Gondomar.

O prolongamento terminou, o empate permanecia e a decisão ficou remetida para as grandes penalidades. Aqui, terminou o sonho português. Espanha marcou todos os quatro penáltis que bateu, Ana Azevedo e Ana Pires falharam, só Carla Vanessa marcou, e o título ficou entregue. A seleção espanhola voltou a sagrar-se campeã europeia, em Gondomar, e confirmou o favoritismo com que partia para esta final four.

Antes da entrega do troféu, todas as seleções foram chamadas a receber as medalhas relativas à sua prestação na competição e Ana Azevedo recebeu o prémio de melhor jogadora da fase final do Europeu. A Ucrânia ficou com o último lugar do pódio, depois de ter vencido por 2-1 a Hungria no jogo de atribuição do 3.º e 4.º lugares.

Em conferência de imprensa, Luís Conceição mostrou-se naturalmente insatisfeito com o resultado, mas “orgulhoso das atletas, do que elas fizeram”. Referiu o desperdício dos três livres de dez metros e concordou que a guarda-redes Sílvia Aguete foi a figura do jogo: “Conhecemos a Silvia já há muitos anos e tem imensa qualidade. Não é fácil batê-la, e nas bolas no um para um que nós falhámos. Foi decisiva nas bolas dos 10 metros, e depois nos penáltis, acaba por ser a figura do jogo”, concluiu.

A selecionadora espanhola Clàudia Pons destacou a concentração como fator decisivo para a vitória e lembrou a importância do primeiro golo antes do intervalo: “Não é igual ir para o intervalo a perder por 2-0 ou por 2-1. Na primeira parte tivemos poucas ocasiões, a mais clara foi mesmo o golo, que nos permitiu ir mais tranquilas para o intervalo”.

Encerrada esta edição do Euro Futsal Feminino, as seleções vão começar já a preparar as qualificações para a próxima edição a realizar em 2023. Em outubro, Portugal tem encontro marcado com a Itália, a Eslovénia e a Bielorrússia enquanto a seleção espanhola vai defrontar a Suécia, a Finlândia e a Bélgica.

Artigo editado por Filipa Silva