A animação das crianças de Contumil ouvia-se já ao virar da esquina. É tarde de sábado, dia de mais um encontro mensal do projeto Contu Mil Sonhos e a sede da associação – o Conventinho Contumil – está decorada a rigor, com balões e fitas coloridas, para celebrar o São João.

A associação, criada em 2017, é um programa de solidariedade que dá apoio a crianças e jovens carenciados do bairro de Contumil. O projeto conta com a colaboração de cerca de 30 voluntários, maioritariamente universitários da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP). 

O projeto Contu Mil Sonhos nasceu por iniciativa do padre Oswaldo Jesus, um missionário que vivia em Contumil e que numa atividade do Missão País – um projeto nacional de universitários católicos – conheceu nove estudantes da FEP. Em conjunto, cavaram as fundações da associação, que festejou o seu quinto aniversário no mês de junho.

Inserido na associação Gesto e Palavra, a Contu Mil Sonhos tem como principal objetivo mudar a perspetiva das crianças de Contumil relativamente ao seu futuro, provando que não estão condenadas devido ao meio social em que nascem ou vivem. O projeto pretende proporcionar às crianças atividades ao nível cultural, social, e espiritual. As experiências promovidas também ajudam as crianças a lidar melhor com as suas emoções, ao possibilitar mais momentos de convívio e lazer que acabam por misturar diferentes realidades.

Para além dos encontros mensais, as crianças da Contu Mil Sonhos participam todos os anos num campo de férias durante o verão. Quando o projeto começou, uma dezena de  crianças visitaram a praia de Vila do Conde acompanhadas por 11 voluntários. Este ano, a visita está marcada para Ponte de Lima, com a expectativa de receberem um número muito maior de crianças. O campo de férias oferece, durante uma semana, atividades  lúdicas como canoagem, voluntariado, idas a lares de idosos e a parques biológicos, piscina e praia – algumas das crianças foram à praia pela primeira vez no campo de férias.

O projeto, anteriormente chamado de Pão da Alegria, mudou de nome quando os animadores, juntamente com o padre Oswaldo, se aperceberam da quantidade de sonhos que gostariam de realizar no bairro de Contumil. Um incentivo para a realização desses sonhos foi a conquista do prémio “Dia de Voluntariado da Universidade do Porto” no ano passado, que contribuiu para a visibilidade do programa e para a angariação de fundos preciosos para a realização de atividades como o campo de férias.

Francisco: um futuro produtor de cinema

Entre as 50 crianças já ajudadas pela associação, está Francisco, ou Kiko, que faz parte do projeto desde os 7 anos. Agora com 12 e já habituado às câmaras, conta que a partir do projeto conheceu mais amigos e aprendeu a lidar melhor com seus sentimentos. Além disso, Kiko relata que não era religioso e que a associação ajudou-o a desenvolver a sua espiritualidade. 

Sobre as expectativas para o futuro, Kiko é apaixonado pelas artes de vídeo e espera um dia trabalhar na área do cinema: “Eu quero seguir com artes, mas não artes de desenho  — artes de vídeo”. 

Voluntários que transformam e são transformados 

Ana Paula Melo e Leonor Godinho são duas das voluntárias mais antigas do projeto. No meio da brincadeira, as crianças paravam por um minuto para dar um beijo ou um abraço, demonstrando a segurança de estar ali. A ideia é ajudar a mudar o dia a dia destas crianças, mas Ana e Leonor confessam que nestes anos de projeto também elas mudaram: “Se me perguntassem em 2018 [ano em que entrou para o projeto] se eu hoje ainda estaria aqui, eu dizia que não. Acho que a forma como estas crianças se relacionam connosco é algo fora do comum”, comentou Leonor ao JPN.

O projeto Contu Mil Sonhos acredita e transmite que a cor da pele, a situação financeira, familiar ou social não define uma criança. É com esta mentalidade que a associação está a tentar fazer a diferença, a quebrar estereótipos e a preparar as crianças para um futuro promissor, ao inspirá-las a sonhar mais alto.

 Artigo editado por Filipa Silva