Maria João Ramos, investigadora da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), é a primeira mulher a ganhar o Prémio de Excelência Científica da Universidade do Porto. A docente recebeu o JPN no seu gabinete para falar sobre esta conquista e sobre os seus projetos.

Professora Maria João Ramos

Maria João Ramos estuda formas de biodegradar plásticos através de enzimas. Foto: Sofia Dias

Maria João Ramos venceu a 6ª edição do Prémio de Excelência Científica da Universidade do Porto. A Professora Catedrática do Departamento de Química e Bioquímica da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) obteve a votação unânime do júri, tornando-se, assim, a primeira mulher a receber esta distinção que concede um prémio de 5 mil euros.

Eu e todas as mulheres da minha geração tivemos dificuldades para chegar ao topo.

Em declarações ao JPN, a docente afirma que vencer o prémio foi muito importante para si, já que se trata de “um reconhecimento” do seu trabalho. Porém, atesta que “como mulher, e por ser a primeira, quase que é mais importante”. A investigadora considera que “agora as coisas estão mais facilitadas para as mulheres, mas não foi sempre assim”. “Eu e todas as mulheres da minha geração tivemos dificuldades para chegar ao topo”, até porque “a mecânica quântica é um mundo de homens”, completa a professora catedrática.

Maria João Ramos refere, ainda, que “se olharmos para os topos, não vemos muitas mulheres. Mas acho que isso está a mudar e qualquer prémio dado a uma mulher é um passo nesse sentido.”

Para lograr esta distinção foram muitos os contributos dados pela investigadora à ciência ao longo da sua carreira. Maria João Ramos contribuiu ativamente para a produção de um vasto número de publicações científicas, tendo sido autora e coautora de cerca de 400 papers, com um índice h (h index) de 58. A investigadora destacou-se, ainda, na angariação de financiamento para atividades de investigação e potenciou novos conhecimentos científicos.

Se olharmos para os topos, não vemos muitas mulheres. Mas acho que isso está a mudar e qualquer prémio dado a uma mulher é um passo nesse sentido.

Maria João Ramos contou ao JPN que o seu trabalho passa por “estabelecer mecanismos enzimáticos e desenhar fármacos”. Para perceber melhor a sua linha de investigação, a docente explicou que “parte das proteínas do nosso corpo são enzimas e estas fazem com que as reações químicas que ocorrem no nosso corpo, e que nos mantêm vivos, sejam aceleradas“. Em suma, sem a síntese de certas enzimas, não seria possível ao ser humano sobreviver. A tripsina, por exemplo, é fundamental para a digestão dos alimentos. “Numa situação de cancro, as enzimas funcionam mal e as pessoas têm de tomar inibidores de enzimas. Devido ao segredo das farmacêuticas, não se sabe ao certo, mas mais de 65% dos fármacos que existem são inibidores de enzimas”, acrescenta a cientista.

Esta investigação possibilita, assim, a descoberta de novos medicamentos mais eficazes e seguros para combater doenças como cancro, hipertensão arterial, diabetes, infeções bacterianas e virais e inflamações.

A investigadora conta com uma grande notoriedade internacional no domínio da bioquímica computacional, tendo-lhe sido, inclusivamente, atribuído o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Estocolmo. Recentemente, ganhou uma bolsa de 8 milhões de euros concedida pela fundação dinamarquesa Nordisk Fondan para desenvolver, juntamente com os parceiros dinamarqueses do centro Ensink, um estudo sobre a biodegradação de plástico através de enzimas. A investigadora contou ao JPN que este será o projeto que a ocupará nos próximos cinco anos.

A investigadora do ano fez questão de salientar que para ganhar o prémio contou com a ajuda do seu “grupo de investigação, composto por alunos e investigadores fantásticos”. Deixou, ainda, um especial agradecimento ao professor associado Pedro Fernandes e ao professor auxiliar Alexandre Magalhães, frisando que “sem todo este leque de pessoas”, não teria conseguido tal sucesso.

Maria João Ramos assegura, ainda, que “há muitas mulheres com excelentes currículos” na Universidade do Porto e que espera “inspirar outras mulheres da ciência por ter vencido este prémio”.

Artigo editado por Miguel Marques Ribeiro