Profissionais falam de longas filas que chegam à "ponte do Freixo", em dias de maior tráfego, devido à proximidade entre as entradas da gare dos autocarros e do parque de estacionamento que serve os passageiros. STCP defende as opções tomadas e apela à responsabilidade dos utentes.
O Terminal Intermodal de Campanhã abriu portas em julho de 2022 e da parte da entidade gestora, a STCP Serviços, existe a convicção de que o equipamento está a corresponder às “expectativas”.
Neste momento, “há mais de 100 linhas” em funcionamento, afirma ao JPN Teresa Stanislau, membro do Conselho de Gerência, que movimentam, por mês, cerca de 500 mil pessoas. O total de passageiros desde o início do ano ascende assim a 2,5 milhões.
Um dos objetivos do projeto era “reduzir o número” de autocarros que circulam no centro da cidade, desígnio esse que tem sido cumprido, assegura a responsável.
No entanto, os motoristas ouvidos pelo JPN criticam a forma como os acessos ao terminal foram concebidos. A colocação na rotunda de acesso, lado a lado, das entradas para a gare de camionetas e para o parque de estacionamento que serve os passageiros gera confluência desnecessária de trânsito e filas de espera para entrar.
“Já chegámos a ficar na ponte do Freixo à espera”, assegura o motorista Manuel Neves, ao JPN. “Isto é uma garagem e é um parque”, resume Manuel Cunha, condutor da Transdev, o que “gera um grande transtorno” devido aos tempos de espera nas horas de maior tráfego. Manuel Cunha assegura ter assistido a “muitas situações em que as pessoas perdem as ligações” e têm que embarcar na camioneta seguinte.
Teresa Stanislau admite que há momentos em que se atinge “o limite”, sobretudo nas “horas em que toda a gente quer viajar”. Em novembro último, afirma, com o encerramento do Terminal Rodoviário do Campo 24 de Agosto e a transferência desse tráfego para Campanhã, houve “um boom“ que tem posto à prova a capacidade de resposta da infraestrutura.
No entanto, a representante da STCP Serviços garante que o TIC ainda não alcançou “o pleno da capacidade” e que ainda resta margem de crescimento em horários menos solicitados pelas operadoras.
A inexistência de uma entrada específica para os autocarros, sublinha, decorre do projeto desenhado pelo arquiteto Nuno Brandão Costa, uma obra distinguida pela Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA).
Teresa Stanislau garante ainda que não existe “nenhum” outro exemplo de um terminal com “acesso direto ou faixa bus dedicada”. Ainda assim, a gestora da STCP Serviços admite que é fundamental continuar a desenvolver todos os esforços para que os condutores de carros particulares não parem “na zona de entrada dos autocarros“.
Falta de lugares para os passageiros se sentarem prejudica “sobretudo a terceira idade”
Globalmente, os passageiros do TIC entrevistados pelo JPN fazem uma avaliação positiva da valência construída pela empresa municipal GO Porto. Roni Moraes diz que o espaço “está muito bem estruturado” e destaca a ligação rápida entre os autocarros e o metro de que passou a usufruir.
Contudo, há também quem faça reparos às opções do projeto. O arquiteto João Amorim foi deixar a avó ao terminal e considera que a separação entre a zona de serviços – que inclui a bilheteira e as casas de banho – da área de embarque é pouco prática para quem se prepara para viajar.
O utente refere ainda que a circunstância dos autocarros poderem parar nos dois lados da gare obriga os passageiros a “atravessar todo o espaço para cruzar e levar as malas“. Algo que também é apontado pelos motoristas: quem quiser cumprir as regras tem que “dar uma grande volta” para se movimentar em segurança, explica Manuel Neves. Assim, é frequente ver grupos de viajantes a atravessar entre os cais fora das passadeiras e pelo meio dos autocarros, conforme pôde verificar, no local, o JPN.
A gare rodoviária “tem espaço, está é muito mal aproveitado”, resume o motorista Manuel Cunha, da Transdev. A reduzida ou mesmo inexistente presença de lugares para os passageiros se sentarem é referida como exemplo. Um dos lados do terminal ainda possui alguns assentos disponíveis, mas no lado oposto os viajantes têm mesmo que esperar de pé. Existe “pouco espaço”, diz João Amorim, o que dificulta a vida das pessoas, “sobretudo à terceira idade”.
Os motoristas ouvidos pelos JPN apontam, aliás, vários problemas de conceção do projeto nas zonas de embarque. Na parte orientada a nascente optou-se por dispor os lugares previstos para as camionetas quase na horizontal, sem respeitar o desenho em espinha de peixe, o que diminui consideravelmente os lugares de parqueamento.
Os passeios, por outro lado, são muito altos, dizem os motoristas, o que impede os autocarros de encostar, devido à impossibilidade de abrirem as portas. Isto dificulta a vida daqueles que têm mobilidade reduzida, que assim têm que descer ou subir a elevada berma, conforme estejam a entrar ou a sair do veículo.
Nos lugares a poente, é certo que o espaço existente para parqueamento foi melhor aproveitado e a altura do passeio é mais amigável, mas o facto de os autocarros estacionarem em marcha-atrás é alvo de censura por parte dos condutores. Os passageiros acabam por receber diretamente o fumo do veículo, dizem, enquanto este faz a manobra.
Mudanças na gestão da portaria, que determina as entradas e saídas das viaturas no terminal, atribuição de lugares no parque de estacionamento para os profissionais das empresas de transportes e melhorias nas salas de descanso do pessoal são outras das reivindicações feitas pelos motoristas.
O TIC foi projetado para receber 43 milhões de passageiros por ano, pelo que está a funcionar ainda muito abaixo da capacidade máxima prevista. A construção do terminal rodoviário, situado junto às estações de comboios e de metro da Campanhã, surge no âmbito de uma reorganização global do trânsito rodoviário na cidade do Porto, que levou à desativação progressiva das estações da Batalha, Campo 24 de Agosto e Magauanha e à construção de novos terminais na Asprela – para além do da Campanhã – e à reabilitação do Parque das Camélias.
Em agosto, está previsto que terminem as obras ainda em curso no TIC, na zona de ligação entre a garagem e o metro. Ficará assim concluída a empreitada, precisamente sete anos depois de ter tido início, com o lançamento do concurso de conceção. Ao todo, foram investidos no equipamento 12,6 milhões de euros.