O festival Primavera Sound Porto arrancou esta quarta-feira (7) naquele que foi o seu dia mais curto. Debaixo de muita chuva, o cabeça de cartaz, Kendrick Lamar, chegou para dar aos fãs um grande concerto.

Começou a 10.ª edição do Primavera Sound Porto, que terá este ano quatro dias no cartaz. Foto: Carolina Paredes

Não é segredo que o nome mais atrativo no pequeno cartaz do primeiro dia do Primavera Sound Porto 2023 era o rapper norte-americano Kendrick Lamar. Após uma tarde tranquila, à noite, a tempestade instalou-se no Parque da Cidade, mas deu aos fãs uma história para contar.

À frente do palco, na zona de restauração ou noutro local, todos aguardaram religiosamente por K.dot, mas a história do dia também se fez das atuações de Beatriz Pessoa, Georgia, Holly Humberstone, The Comet is Coming, Alison Goldfrapp, Baby Keem e ¥///0 $#£[[ \/\/&$ #£>3, em espetáculos sempre intercalados entre apenas dois palcos: o palco Porto e o palco Vodafone.

Nem tudo o dilúvio levou

Pela terceira vez em Portugal, Kendrick Lamar – que se estreou no país em 2014, justamente no Primavera Sound, e que já não atuava perante o público português desde 2016 -, era aguardado com grande entusiasmo.

Mas se a expectativa era grande, a espera também foi. Depois do seu primo, Baby Keem, abandonar o palco Porto, foi imensa a multidão que ali ficou, durante a hora e meia, que faltava para a chegada de K.dot. Atingida por um dilúvio, desconfortável para todos os presentes, poucos foram os que desistiram a meio. Quando a chuva finalmente parou, houve aplausos, mas seria “sol” de pouca dura.

Ensopados, cansados, desmotivados, os fãs davam sinais de quebra, mas tudo desapareceu assim que Kendrick pousou os pés no palco e arrancou o espetáculo com faixas como “N95”, “ELEMENT”, e “A.D.H.D”. 

K.dot já tem uma discografia bem composta, com cinco álbuns, dos quais se destacam os três que venceram um Grammy, para melhor álbum de rap, “To Pimp a Butterfly” (2015), “Damn” (2017) e “Mr. Morale & the Big Steppers” (2023).

Ainda assim, mesmo tendo sido um grande concerto – no qual o artista não permitiu registos fotográficos -, ficou a ideia de que a legião de fãs merecia mais de um cabeça de cartaz de nomeada mundial. O som esteve baixo, o palco despido, foi um espetáculo minimal, com pouca produção. 

Caiu muita chuva no primeiro dia de festival. Foto: Hugo Lima/Primavera Sound Porto 2023

Quem sai aos seus não degenera

A marcar o primeiro dia do Primavera Sound Porto, o hip hop tomou conta do palco Porto logo com Baby Keem. O rapper norte-americano, que tem laços de sangue com o cabeça de cartaz, entreteve o público que parecia saber mais do que julgava do repertório do artista. “Não sabia que esta música era dele”, ouvia-se amiúde. 

O artista deu um espetáculo sólido, ainda que pouco colorido no que à sua presença em palco diz respeito.

No fim da noite, Baby Keem voltou a pisar o palco do Primavera Sound Porto para atuar com o primo, Kendrick Lamar, deixando na memória dos fãs um momento especial.

Os novos talentos também fazem parte do festival

“Esta é a minha primeira vez [a atuar] no Porto. Estou muito entusiasmada”, declarou Holly Humberstone, nas boas-vindas ao público do Primavera Sound Porto. 

Apesar de a jovem cantora britânica não ter começado com a plateia cheia, o recinto em torno do palco Vodafone foi enchendo e os fãs presentes fizeram-se ouvir

Com apenas 23 anos e uma guitarra na mão, deu um espetáculo acolhedor, juntamente com a sua banda, neste que foi apenas o segundo concerto em que actuaram juntos. As suas músicas, como a própria as descreve, são bastante pessoais, o que se fez sentir dentro e fora do palco.

Ainda assim, Humberstone não interagiu muito com a multidão, mostrando o seu lado mais introvertido e tímido. 

A cantora levou ao festival uma onda de rock misturada com pop e indie. A artista deu o quarto concerto do dia no conhecido anfiteatro do Primavera Sound.

Uma substituição que deixou a desejar

Alison Goldfrapp foi a artista escolhida para substituir a performer FKA Twigs, que anunciou o cancelamento do concerto em março deste ano. Nas redes sociais, alguns portadores de bilhete para o primeiro dia do festival mostraram-se desagradados. Sendo este um dia com poucos nomes em cartaz – apenas oito concertos, face aos mais de 20 nos restantes dias do Primavera -, sentiram-se injustiçados pelo valor pago. 

Mas de volta ao palco. A artista é conhecida por integrar o grupo Goldfrapp, tendo este ano lançado a sua carreira a solo, aos 56 anos. No meio de rap e rock alternativo, a cantora britânica traz a sua vertente de eletrónica já bastante conhecida no reino da vida noturna. 

O seu primeiro álbum a solo, “The Love Invention”, prometia cor e foi isso que a plateia teve. Ainda que não houvesse uma multidão bem composta como noutros concertos, contou com boa disposição e muita dança na zona do público. 

No fim do dia, apesar do espetáculo agradável, a dúvida ficou no ar: como teria sido com FKA Twig?

Um dia que elevou a fasquia para os que se seguem

O Primavera Sound Porto é um festival conhecido pelo seu caráter mais alternativo (ainda que não abdicando de um lado bastante comercial) e pelos seus fãs que vêm de todas as partes do mundo. Do mundo e, claro, do país.

As irmãs Rita e Sara Figueiredo vieram de propósito de Lisboa, depois de terem assistido ao concerto do The Weeknd no Passeio Marítimo de Algés. Independentemente da chuva, aguentaram cada segundo com afinco até chegar Kendrick Lamar. “Vim de direta para o Porto depois do concerto do The Weeknd e de fazer um exame”, contou Rita, de 19 anos, ao JPN, “todo o esforço foi compensado depois deste concerto incrível”, acrescenta. 

O mau tempo instalou-se e parece não querer ir embora tão cedo, mas isso não impediu os fãs de aproveitarem os momentos que certamente lhes irão ficar gravados na memória.

Não há promessa de um melhor tempo para esta quinta-feira (8), mas há promessa de boa música. O festival continua no seu segundo dia, com artistas como Rosalía, Bad Religion, Fred Again…, e muitos mais nomes. 

Editado por Filipa Silva