Mais de uma centena de lojistas do Centro Comercial Stop viram bloqueada a entrada nos seus estabelecimentos, na manhã desta terça-feira, por forças policiais. Em comunicado publicado no final da manhã, a Câmara Municipal do Porto (CMP) informa que foram seladas “105 das 126 lojas” do centro “por falta de licenças de utilização para funcionamento”, como tinha adiantado o JPN esta manhã.

Rui Guerra, presidente da Associação de Músicos do Stop, classificou ao JPN como “inesperada” a operação. A autarquia, por sua vez, diz que o processo “se arrasta há mais de dez anos, tendo o Município vindo, ao longo do tempo, a acumular queixas por parte da vizinhança.”

Assim, apenas 21 lojistas mantêm acesso ao interior dos seus estabelecimentos. Os restantes ficam sem acesso ao interior.

A Câmara garante, no mesmo comunicado, que não está em causa “um processo de encerramento do Centro Comercial.”

A sombra do encerramento do Stop paira há muito tempo sobre esta galeria comercial aberta desde 1982 e que serve, há já vários anos, uma enorme comunidade de músicos. Localizado na Rua do Heroísmo, o edifício enfrenta há mais de uma década vários problemas que vão da falta de estruturas anti-incêndio a problemas nas instalações elétricas, passando pela falta de licenciamento das lojas.

Lojistas “surpreendidos”

Leandro, de 40 anos, é dono de um estúdio de tatuagens no centro comercial. Só entrava às 14h00, mas foi alertado, ainda em casa, da ação das autoridades, que incluíram, além da Polícia Municipal, o corpo de intervenção da PSP. “Nunca fui notificado que isto ia fechar, foi de um dia para o outro”, afirmou ao JPN. 

Com indignação, o lojista afirma que há muito tempo lutam para o centro comercial não fechar. Agora, a grande preocupação é como chegar ao que ficou no interior dos estabelecimentos selados pela polícia: “Não temos acesso ao material nem a nada, estamos a tentar aceder para pelo menos podermos ir buscar as nossas coisas”, descrevia.

O presidente da Associação de Músicos do Stop, Rui Guerra – de acordo com o que o JPN apurou junto de fonte ligada ao centro, existirão, nesta altura, duas associações a representar as centenas de músicos que usam espaços de ensaio no CCStop – também demonstrou a sua revolta. “Há pouco tempo, o Rui Moreira [presidente da Câmara do Porto] disse que isto não ia fechar [o Stop], que só estavam a resolver o problema, mas que iam fazem o possível e o impossível para não fechar isto”. Assim, concluía, o que está a ser feito “não foi nada daquilo que foi dito”, afirmou ao JPN. 

“Como é que alguém deixa isto morrer assim? Ao menos avisassem os músicos que aqui estão, que querem tocar hoje e não podem tirar daqui os instrumentos. Onde irão ensaiar agora 2 mil pessoas?”, questionou o responsável, inconformado perante a situação. “Há pouco tempo, estiveram aqui e disseram para não nos preocuparmos. Agora, chegam de um momento para o outro, e começam a fechar tudo”.  

 “É uma situação muito complicada, muito esquisita”, expressa Marina, outra proprietária de um estúdio de música. Segundo a artista, é incompreensível que algumas salas tenham licença e outras não, pois “durante vários anos foram feitos pedidos de proprietários para obtenção de licença e a Câmara nunca as deu”, por alegar que os “espaços comuns não estão licenciados” porém surge a dúvida de como algumas salas têm licença e outras não. 

À Agência Lusa, o administrador do Centro Comercial Stop, Ferreira da Silva, também se manifestou “completamente [apanhado] de surpresa” por esta ação da polícia. O administrador reforça que há um projeto de arquitetura para corrigir os muitos problemas estruturais identificados, mas o problema é outro: “o problema é que não há dinheiro para o executar. A questão é essa. Eu sempre disse, claramente, na Câmara, que não havia dinheiro para o fazer. O projeto implica seis milhões de euros e o condomínio não tinha dinheiro”, frisou Ferreira da Silva.

Sobre a falta de licença de utilização de muitos destes espaços, o responsável também avançou que, na altura em que o centro abriu, em 1982, era prática vender os prédios “em planta” e só “depois, no fim de estar o edifício construído, pedia-se a licença de utilização”. 

“As pessoas receberam as lojas em planta, algumas frações fizeram obras para fazer pés direitos diferentes, e portanto a Câmara não aprovou a licença por causa dessas obras. A empresa que fez o prédio depois faliu, o construtor faliu e o arquiteto morreu. Quem fez o prédio deixou isto com as lojas todas vendidas, mas sem licença”, explicou ainda o administrador.

PAra o final da tarde desta terça-feira, para as 18h00, foi convocada uma manifestação em frente ao centro comercial Stop. Os inquilinos vão reunir-se para tentar que as suas salas não fechem permanentemente.

Artigo às 13h00 com a informação avançada pela Câmara Municipal do Porto em comunicado. E às 18h00 com declarações de lojistas, do presidente da Associação de Músicos e do administrador do Stop.