Salas devem poder reabrir já na sexta-feira. Casa dos Músicos na Escola Pires de Lima "está a avançar". Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil está "a lavar as mãos" da sua responsabilidade, critica Rui Moreira. Músicos aceitam acordo porque precisam "de regressar com urgência".
Depois da administração do condominio, também as associações representativas dos músicos e lojistas do Stop acabaram por aceitar as condições propostas pela Câmara Municipal do Porto (CMP) para a reabertura das lojas, que foram encerradas a 18 de julho.
O presidente da autarquia, Rui Moreira, deu disso conta à comunicação social, numa conferência de imprensa realizada esta quarta-feira de manhã nos Paços do Concelho.
O autarca manifestou a sua “profunda satisfação” com o “recuo dos músicos”, que comunicaram esta manhã à Câmara que aceitavam “a solução de compromisso que a câmara lhes tinha proposto”.
Deste modo, referiu o autarca, estão “reunidas todas as condições necessárias para, já na sexta-feira”, reabrir os espaços encerrados no Stop.
Que condições propôs a CMP
A falta de licença de utilização foi o critério usado pela Polícia Municipal para encerrar 105 das 126 lojas do Stop, mas além das licenças a autarquia evocou “uma situação de altíssima gravidade” na galeria (aberta desde 1982), por razões relacionadas com risco de incêndio e produção de ruído.
Para minimizar os riscos identificados através de uma vistoria do Regimento de Sapadores Bombeiros (RSB) do Porto, a autarquia apresentou, aos músicos, numa reunião realizada a 21 de julho, um conjunto de condições para viabilizar a reabertura dos espaços encerrados.
Entre essas condições estão:
- a presença permanente de um piquete dos Bombeiros Sapadores, com um carro e cinco elementos, 12 horas por dia, sete dias por semana, junto ao CCStop.
- a instalação de equipamentos de combate a incêndios, como mangueiras, extintores, detetores de fumo e alarmes;
- a frequência por parte de músicos e lojistas de uma formação de combate a incêndios, providenciada pelos Sapadores;
- respeitar um horário de funcionamento de 12 horas diárias.
Os meios dos Sapadores Bombeiros vão estar no terreno o tempo necessário para “verificar se já foram solucionadas” as inconformidades deteadas na vistoria. E só desmobilizam depois de serem constituídas “equipas de segurança por piso”, equipas essas formadas pelos músicos e lojistas que adiram às ações de formação.
“Serão formações de quatro horas. Por dia, conseguimos dar formação a 24 utilizadores. Estou convencido que, se houver forte adesão, em duas ou três semanas, conseguimos dar a formação à maior parte dos utilizadores do edifício”, referiu Carlos Marques, comandante do RSB do Porto.
“Não terão de ser todos, mas é importante que seja um número significativo de pessoas” a frequentar a formação, completou Rui Moreira.
Na conferência do dia 21, o presidente da CMP referiu também que seria necessário encerrar as lojas da fachada do edifício, passando a atividade destas para salas interiores, para minimizar o ruído. Contudo, o Termo de Responsabilidade e Compromisso assinado pelo administrador, Ferreira da Silva, que é aquele que as associações acordaram aceitar, não faz referência a este ponto.
ANEPC tem que “assumir responsabilidades”
Rui Moreira voltou a frisar que a solução encontrada “é temporária” e instou, em diversas ocasiões, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) a “assumir as suas responsabilidades”.
“A Câmara do Porto tem nenhuma vontade de interferir naquilo que é o funcionamento do Stop, mas tem a vontade de garantir que o Stop possa funcionar. Há uma autoridade nacional, a ANEPC, que tem mesmo de assumir as suas competências e determinar se o Stop está ou não em condições de funcionar”, afirmou.
O autarca recordou que os Bombeiros Sapadores do Porto fizeram chegar a esta entidade, tutelada pelo Ministério da Administração Interna (MAI), o relatório com o resultado da vistoria que realizaram no Stop a pedido da Câmara do Porto. Três meses depois do envio, não houve qualquer ação da ANEPC.
“Era normal que a ANEPC, em função do relatório dos bombeiros, fizesse duas coisas: fizesse, ela própria, uma inspeção extraordinária ou podia ter determinado obras compulsivas. Ou podia ter dito que estava tudo bem. Só que a ANEPC, pura e simplesmente, recusa-se a pronunciar-se, porque diz que há um processo de licenciamento em curso, o que é, a nosso ver, uma tentativa de lavar as mãos. A ANEPC tem essa competência”, disse o autarca aos jornalistas, lembrando que no Stop faltam sprinklers e que há eletricidade a ser “puxada” das áreas comuns para o interior de algumas lojas.
Salas na Pires de Lima “até ao final do ano”
O autarca informou ainda que “o projeto de campus [dos Músicos] na Escola Pires de Lima está a avançar”, confirmando assim que será esta a solução de espaço alternativo que a cidade terá para oferecer aos músicos que “temporaria ou definitivamente” se queiram mmudar do Stop, num cenário em que o edifício seja sujeito a obras.
A Associação Amigos do Coliseu, como já tinha sido avançado, será quem vai ficar com a gestão do espaço.
Neste momneto, garante, já está a ser feito um “levantamento das patologias que existem [nos edifícios] e também das necessidades em termos de insonorização.” “O que provavelmente vamos fazer é intervencionar rapidamente dois blocos que estão em melhores condições. Acredito que até ao final do ano se consiga ter esses blocos a funcionar. E depois avançamos para os outros”, declarou Rui Moreira.
Quanto à capacidade de acolhimento do complexo, face a uma comunidade de músicos estimada em cinco centenas de pessoas, o edil, além de recordar que o uso das salas teria de ser em regime de “coworking“, diz também que essas contas ainda vão ter que ser feitas: “A capacidade que vamos ter vai ser em função, em primeiro lugar, das instalações, que são grandes, são muito grandes, mas depois também haverá que saber quais são as necessidades.”
E refere a propósito: “Irão para lá os músicos que quiserem. Não obrigamos ninguém. Queremos é ter uma resposta da nossa parte.”
Câmara “não é proprietária”
A solução de curto prazo para o CCStop parece estar assim encontrada. Já no que toca ao longo prazo, não se vislumbra ainda uma solução.
Rui Moreira voltou a sublinhar que “a Câmara do Porto não é proprietária do edifício. Nem o pode comprar, porque seria impossível comprar as frações todas.” Acrescentou também que “o modelo de expropriação é um modelo mais ou menos inexequível.”
Já no que toca à possibilidade de a autarquia realizar obras no edifício – e o município crê “que será preciso” – Rui Moreira afirmou que, nessa eventualidade, “não será o município a fazê-lo”. Contudo, não descarta “possibilidade nenhuma”, afirmando, mais adiante na conferência, que a autarquia pode vir a intervir: “A única coisa que podemos fazer é mandar fazer obras coercivas. Isso não afastamos, e encontrar depois uma solução.”
Sobre a hipótese de tomar posse administrativa do edifício, a que fez referência depois da reunião de câmara do dia 24, o edil do Porto afastou, desta feita, a alternativa: “Neste momento, esse cenário não se coloca. E não se coloca desde logo porque os músicos não querem. O que os músicos dizem é que não querem que a Câmara interfira de forma alguma com o funcionamento daquele centro. Portanto, o que é que a câmara vai fazer é desenvolver as suas valências na Escola Pires de Lima”.
“Queremos regressar o mais depressa possível”
Contactado pelo JPN, Bruno Costa, da Alma Stop, confirmou que “as duas associações [Alma Stop e ACM Stop] reuniram ontem [terça-feira] à noite para aceitar os termos que foram assinados pelo administrador do condomínio no dia 24 de julho. As duas associações enviaram à câmara esta manhã [quarta-feira] esse documento”, informou.
Recorde-se que a associação Alma Stop tinha feito chegar à autarquia, a 26 de julho, uma contraproposta, na qual, entre outras coisas, sublinhava a necessidade de os músicos poderem aceder às suas salas fora do horário de funcionamento proposto pela autarquia, para guardarem o material.
Sobre isso, Rui Moreira respondeu na conferência desta quarta-feira que o documento enviado a 26 de julho à autarquia “não espelhava, minimamente, aquilo que tinha sido falado e tentava colocar um conjunto de condições que a Câmara Municipal do Porto já tinha dito que não eram exequíveis”. Por isso, concluiu, “as condições em que vai abrir são precisamente as condições que foram combinadas com a administração do condomínio”.
Confrontado com o que a autarquia classificou de “recuo”, Bruno Costa frisou que uma prioridade acabou por falar mais alto: “Nós queremos regressar ao Stop o mais depressa possível. Temos muita urgência em fazê-lo. Daí termos aceite o termo de responsabilidade assinado pelo administrador do condomínio. Certamente algumas coisas terão de ser aprimoradas”, referiu ao JPN.
O novo horário de funcionamento do Centro Comercial Stop “em princípio”, informou ainda Rui Moreira, será das 10h30 às 22h30.