O Congresso tem início esta quinta-feira e prolonga-se até domingo. O JPN esteve à conversa com Pedro Coelho, presidente do 5.º Congresso dos Jornalistas, para perceber o que se espera alcançar com este evento.

Tal como em 2017, o evento vai ter uma redação multiplataforma que contará com a participação de dezenas de estudantes Foto: Ricardo Dias/CENJOR

O 5.º Congresso dos Jornalistas arranca esta quinta-feira (18), no cinema São Jorge, em Lisboa, com o mote “Jornalismo, Sempre”. O evento não só acontece no ano em que se celebra o quinquagésimo aniversário do 25 de Abril, como num momento em que o Global Media Group, um dos principais grupos de media em Portugal, detentor de títulos como o “Jornal de Notícias”, “o Diário de Notícias”, “O Jogo” e a TSF, atravessa uma crise económica, que ameaça a manutenção de vários postos de trabalho.

O presidente da comissão organizadora do Congresso, Pedro Coelho, considera que o evento acontece “num momento muito relevante para a classe“, acrescentando que “a situação está hoje muito pior do que estava há um ano e meio”, quando foi convidado para assumir a organização do evento. “Não imaginava que o desafio fosse tão grande, porque o jornalismo atingiu um ponto de não retorno. Não podemos continuar [como estamos agora] e a situação exige dos jornalistas uma tomada de decisão rápida”, afirmou.

Durante o congresso, que decorre entre 18 e 21 de janeiro, estudantes, jornalistas, docentes e observadores vão poder assistir e participar num conjunto de sessões, cujo objetivo é discutir temas que têm preocupado os profissionais da área, como, por exemplo, o acesso à profissão, a precariedade, as novas fronteiras do jornalismo, a influência das novas tecnologia e o financiamento do jornalismo. Pedro Coelho deixou exemplos de algumas das questões que vão estar em debate: “Quais são os caminhos ao nível do financiamento do jornalismo?”, “Que novo modelo de negócio teremos de procurar para tornarmos o jornalismo sustentável?”, “É o capitalismo o modelo que deve orientar também o jornalismo?”, “Como vamos integrar os novos jornalistas que saem das faculdades?”. O evento, promovido pela Casa da Imprensa, o Clube de Jornalistas e o Sindicato dos Jornalistas, já conta com 640 inscrições.

Pré-congresso celebra 50 anos do 25 de Abril

Questionado sobre se a data do congresso foi escolhida propositadamente para coincidir com o ano de comemoração do quinquagésimo aniversário da Revolução dos Cravos, Pedro Coelho revela que decidiram fazer o congresso em janeiro para coincidir com o mês em que se realizou o último congresso (2017), “com esta feliz e oportuníssima coincidência de ser no ano em que se celebram os 50 anos do 25 de Abril”.

Para assinalar esta data comemorativa, o pré-congresso, que já decorre nesta altura, será “um acontecimento virado para uma homenagem ao 25 de Abril, à liberdade de imprensa, à liberdade de expressão e, sobretudo, aos nossos jornalistas que ainda estão connosco e que fizeram a cobertura desse acontecimento”.

A propósito do congresso e das comemorações da Revolução dos Cravos, foram preparadas algumas iniciativas de acesso livre e entrada gratuita.

No Cinema São Jorge, o público em geral pode ainda encontrar duas exposições entre 18 e 20 de janeiro: uma trata-se da reposição, com algumas adaptações, de “Proibido por inconveniente”, do Arquivo Ephemera; a segunda trata-se de uma amostra, nunca antes exposta em Portugal, dos arquivos jornalísticos da Fundação Mário Soares e Maria Barroso, da autorida de Ingeborg Lippman e Peter Collis.

Já na rua, vão ser expostos múpis com trabalhos de fotojornalistas que cobriram o 25 de Abril e outros nascidos depois da data para dar conta do que foi conquistado e do que ainda precisa de ser conquistado tantos anos após a Revolução dos Cravos. Esta mostra, com curadoria do fotojornalista Mário Cruz, vai ficar exposta durante um mês no espaço público de Lisboa.

Congresso conta com debates sobre “aquilo que é absolutamente determinante para salvarmos o jornalismo”

A cerimónia de abertura agendada para as 18h15 de quinta-feira vai contar com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Mais tarde, serão ouvidos jornalistas de órgãos de comunicação social que se encontram numa situação vulnerável, nomeadamente Filipe Santa-Bárbara (TSF), João Pedro Henriques (DN), Alexandre Panda (JN) e Mário Fernando (TSF). Desde dezembro, mês em que o Global Media Group anunciou que iria iniciar um processo de rescisões com o objetivo de eliminar entre 150 a 200 postos de trabalho, os trabalhadores têm manifestado a sua preocupação e exigido soluções para resolver a crise que o grupo enfrenta.

Para Pedro Coelho, a situação do GMG é “um alerta que fica” e transparece um dos desafios que vai ser abordado no congresso: o financiamento dos media. “O jornalismo não é uma atividade que dê lucro em 2024. Porque é que uma empresa e empresários que não têm histórico nesta área querem investir numa atividade como esta?”, questionou.

O presidente da comissão organizadora acredita que esta situação que tem vindo a afetar o GMG fez “toda a diferença” no número de inscritos no evento, que há dois meses era de apenas 180.

A precariedade na área do jornalismo terá grande relevância no congresso, o que é visível na abertura de cada um dos painéis previstos, já que estão previstos depoimentos de jornalistas que estão a trabalhar em situações precárias. O presidente da comissão organizadora refere ainda que a “paixão que a maior parte tem pelo jornalismo” tem de “servir também para encontrarmos soluções para o futuro“.

Outro dos desafios que terá destaque neste congresso é o “fosso que existe atualmente nas redações entre os mais jovens e os mais velhos“. De forma a incentivar o envolvimento dos mais novos, o evento vai contar, mais uma vez, com uma “redação multiplataforma“, onde cerca de 110 jovens, acompanhados por jornalistas e professores, vão fazer a cobertura do evento. “Vamos tê-la de novo, mas mais musculada”, disse Pedro Coelho, que foi também um dos coordenadores deste projeto em 2017.

Uma das grandes criações de 2017 foi o REC – Repórteres em Construção, que ainda hoje existe. Foi, de facto, um acontecimento marcante, porque é uma antecâmara de acesso à profissão e uma pós-câmara do ensino. Trabalha, sobretudo, a reportagem que é uma coisa que cada vez se trabalha menos nas redações portuguesas”, referiu falando das iniciativas do congresso anterior para potenciar a integração de jovens na profissão.

“Se não aproveitarmos esta oportunidade de estarmos juntos, de nos olharmos de frente, para discutir aquilo que é absolutamente determinante para salvarmos o jornalismo, vamos acabar por sucumbir”, afirmou Pedro Coelho. “Não quero, nem acredito, que saia daqui um milagre. A única coisa que acho que vai poder acontecer é lançarmos a primeira pedra de reconstrução do jornalismo“, acrescentou.

Apesar das dificuldades com que o jornalismo se tem confrontado, o presidente da comissão organizadora do congresso afirma haver “esperança“, já que “uma sociedade sem jornalismo forte é absolutamente impossível. A democracia tem de ser regada quotidianamente e o jornalismo é o sal da democracia”.

No último dia (21), na cerimónia de encerramento, com início marcado para as 14h00, serão apresentadas e votadas as conclusões do Congresso e as propostas a considerar no futuro. Vão ser também homenageados jornalistas falecidos, nomeadamente João Mesquita e Mário Mesquita.

As inscrições para o evento, que custam 10 euros para os estudantes, 20 para os jornalistas, 40 para os professores e 100 para os observadores, terminam esta quarta-feira (17).

Editado por Filipa Silva