Esta quinta-feira (7), Mariana Mortágua encerrou a campanha no Porto do Bloco de Esquerda com uma visita à Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) e com um comício no Edifício da Alfândega. A líder partidária abanou, nas duas ações de campanha, uma das grandes bandeiras do partido: a habitação.

No penúltimo dia de campanha eleitoral, Mariana Mortágua visitou a Residência Novais Barbosa, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), para ouvir as queixas dos estudantes acerca do alojamento. A visita do Bloco de Esquerda (BE) decorreu por volta das 10h00 desta quinta-feira (7) e trouxe ao de cima problemáticas que a líder partidária se compromete a combater.

Em declarações ao JPN, Mariana Mortágua explicou que o grande objetivo foi ouvir os jovens e “denunciar as definições de habitação no país e no Porto”.

O ponto de encontro da ação de campanha foi no bar dos estudantes da FLUP. Marisa Matias, cabeça de lista do BE pelo Porto, também marcou presença, tendo chegado alguns minutos antes de Mortágua.

Já na Residência Novais Barbosa, a líder bloquista falou com cinco alunos deslocados que expressaram as suas preocupações relativamente ao acesso à habitação, sendo esta “uma das grandes prioridades do Bloco de Esquerda”. Em conversa, foram relevadas as dificuldades em arranjar residência para estudar no Porto, bem como as condições muitas vezes encontradas.

Soraia, uma estudante da FLUP que falou com a líder partidária, revelou que esteve muito tempo sem saber se ia conseguir arranjar bolsa ou residência para poder estudar no Porto. Acrescentou ainda que mesmo depois de muita insistência para ter alojamento, o futuro era incerto: “Passei um momento bastante frágil, mesmo psicologicamente, porque pensei que se calhar poderia ter de desistir do meu sonho de vir para o Porto, apesar de ter quase certeza que entrava aqui”, explicou.

Já Adriana, que estuda na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP), contou um episódio “marcante” pelo qual diz ter passado em Lisboa, quando tentava arranjar alojamento na Invicta: “Houve uma situação muito constrangedora e muito humilhante quando a assistente social me perguntou diretamente: ‘se tem tantas dificuldades económicas, porque é que está a estudar?’. Isso foi marcante”, revelou.

Para além disso, os estudantes levantaram preocupações acerca da falta de cozinhas para o número de pessoas na residência, o que os impedirá de consumir refeições económicas e obriga ao recurso à cantina da faculdade: “Ao fim de um mês, a comer o almoço e o jantar a 2,95 euros, faz um valor de quase 180 euros, que eu conseguia poupar ao trazer comida de casa ou a comprar no supermercado”, explicou Soraia.

Também foi criticada a carência de eletrodomésticos nas residências e a fraca qualidade dos já existentes e foram referidos cortes esporádicos de água nos edifícios, infestações de baratas e de formigas, entre outros problemas.

Ainda assim, os estudantes sublinharam várias vezes o “privilégio” que é conseguir arranjar uma residência na cidade onde estudam, reconhecendo que muitos jovens não têm essa oportunidade. Mariana Mortágua contestou: “Vocês não têm de estar gratos por ter uma residência. Nenhum jovem deveria ter de sentir gratidão ou sentir que é um privilégio ter acesso a uma residência que é o seu direito”. A líder do BE mostrou-se, ainda, solidária face ao impacto que a dificuldade no acesso à habitação tem nos jovens: “Muitas vezes, quando se perguntam: ‘porque é que as novas gerações têm tantos problemas de saúde mental?’ ‘Porque é que as novas gerações vivem na ansiedade?’ Experimentem viver assim“, acrescentou.

Segundo a bloquista, as propostas do partido face à crise da habitação passam pela construção e reabilitação de edifícios para serem transformados em residências, proibir a venda de casas a estrangeiros não residentes e a implementação de tetos às rendas.

Em declarações aos jornalistas, Mariana Mortágua sublinhou que a habitação é “um fator de empobrecimento de muitas famílias” que afasta não só os jovens do ensino, mas também professores, médicos e enfermeiros da sua profissão. “É preciso que as cidades sejam para as pessoas viverem e não apenas para turismo de luxo, para a habitação de luxo, para segundas residências”, defendeu.

Aos estudantes, a líder partidária explicou que a luta pela habitação é “um compromisso de sempre e para sempre”, comprometendo-se a defendê-lo “custe o que custar”. Para Mortágua, a incerteza que reside na procura por habitação, principalmente no que toca aos jovens, “é um medo que não se deveria sentir em Portugal 50 anos depois do 25 de Abril”. A bloquista chegou a acrescentar: “O privilégio é para o turista e para quem visita. O direito é para quem vive nas cidades. É para quem estuda nas cidades. Esse é o nosso compromisso”.

Em declarações ao JPN, Mariana Mortágua comentou que a ideia de que ter casa é um “privilégio” está diretamente relacionada com a dificuldade no acesso à habitação: “um país que não consegue garantir acesso à habitação é um país coxo, é um país que não tem as suas prioridades no sítio”. Relativamente às eleições de domingo, a líder do Bloco apelou ao voto “por convicção”: “Digo para votarem em quem acreditam. Para votarem pelos vossos direitos”, concluiu.

Mortágua apela ao voto pelas mulheres

O dia de campanha terminou na Alfândega do Porto, que recebeu um comício animado às 21h00. Enquanto esperavam pela coordenadora do partido, os bloquistas faziam conversa e iam enchendo o espaço de bandeira na mão. Muitos traziam cravos no cabelo e na roupa. 

Entre bandeiras coloridas e música nas alturas sentavam-se, na primeira fila, Isabel Pires, José Soeiro, Marisa Matias e Mariana Mortágua, os discursantes deste comício. Catarina Martins, ex-coordenadora do Bloco, também marcou presença. A líder partidária chegou às 21h40 e foi recebida com grande entusiasmo. Depois de uma atuação musical dedicada aos bloquistas, discursou Isabel Pires, seguida de José Soeiro e logo depois, “aquela que tem sido a força” do BE – como foi apresentada em palco -, Marisa Matias.

A cabeça de lista pelo Porto pediu aos camaradas bloquistas que se juntassem a ela no pódio, enumerando todos aqueles que fizeram parte da campanha e que ali estavam presentes. Entre beijos, abraços e aplausos ouvia-se também “É Esquerda! É Bloco! É Bloco de Esquerda!”, o cântico repetido várias vezes durante o encontro.

Por fim, chegou o momento mais antecipado do comício: discursou Mariana Mortágua. A líder partidária começou por agradecer o apoio dos bloquistas na campanha, que tem sido “incrível” e que continua a crescer: “Foi nos últimos dias de campanha que se juntou mais gente ao Bloco nesta luta para derrotar a direita”, afirmou. Deixando claro o seu compromisso com a habitação, a saúde, a educação, o clima e a igualdade de género, Mortágua apelou ao voto “de cabeça erguida”: “Eu peço-vos que não desistam. Que levem a vossa vida até ao voto”.

A bloquista fez um apelo especial às mulheres, relembrando o 8 de março, Dia Internacional da Mulher: “As mulheres são a força para as soluções que o país precisa. Da mulher de 90 anos que gritou ‘direita nunca’ numa arruada em Lisboa, à jovem emocionada que esta manhã me disse que vai votar pela primeira vez”. Mortágua pediu ainda para que se votasse pelos “direitos iguais”, “contra o cansaço e contra o abuso”. A terminar, a líder partidária garantiu que “no domingo, vencerá a democracia”: “Vamos derrotar a extrema direita. Vamos virar a página deste país”, rematou.

Editado por Filipa Silva