O Pacto do Porto para o Clima conta agora com 235 subscritores institucionais. Durante o evento de formalização, os intervenientes debateram sobre o desperdício alimentar.

Maria Tolentino Country Manager da Too Good To Go Portugal, o diretor da FCNAUP, o professor Pedro Graça e o vice-presidente da CMP Filipe Araújo

O Pacto do Porto para o Clima alcançou os 235 subscritores institucionais. Foto: Marta Magalhães/JPN

A Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP) e a Too Good To Go aderiram formalmente à iniciativa Pacto do Porto para o Clima, desenvolvida pela Câmara Municipal do Porto (CMP). A cerimónia aconteceu esta terça-feira (2) no Mercado do Bolhão e contou com um debate sobre o desperdício alimentar.

A conversa desenvolveu-se a partir dos dados do último relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – “Food Waste Index Report” -, que refere que, em 2022, eram desperdiçadas mais de mil milhões de refeições por dia. No mesmo documento, é referido que “mais de 783 milhões de pessoas são afetadas pela fome” e que cerca de um terço da população mundial enfrentou insegurança alimentar.

O painel contou com a participação de Filipe Araújo, vice-presidente da CMP, Maria Tolentino, country manager da Too Good To Go Portugal, Pedro Graça, diretor da FCNAUP, e António Marques, diretor de sustentabilidade da Ibersol. A moderação ficou a cargo de Daniel Freitas, antigo presidente da Federação Académica do Porto, agora diretor para a Neutralidade Carbónica da cidade.

Durante a sua intervenção, Daniel Freitas referiu que o desperdício alimentar não diz apenas respeito ao alimento em si, mas a todo o processo pelo qual passa – desde a produção ao armazenamento -, e aos recursos que foram “necessários para fazes esse alimento” – “água desperdiçada, energia, terra, uso do solo, mão de obra e capital”. O diretor para a Neutralidade Carbónica do Porto destacou ainda que “60% [deste desperdício alimentar] acontece no seio doméstico“, sendo que 12% são referentes ao retalho e 28% aos serviços de alimentação.

De acordo com o relatório “Food Waste Index Report”, a perda e o desperdício de alimentos geraram entre 8% e 10% das emissões de gases com efeito de estufa a nível mundial, o que significa que, por estimativa, a pegada do desperdício alimentar é quase cinco vezes maior do que a do setor da aviação.

Painel de discussão da adesão da FCNAUP e da Too Good To Go ao Pacto do Porto para o clima

O painel contou com a presença de Daniel Freitas, Pedro Graça, Filipe Araújo, Maria Tolentino e António Marques. Foto: Marta Magalhães/JPN

Combater o desperdício alimentar

O vice-presidente da CMP começou por destacar as várias iniciativas que o município tem para combater o desperdício alimentar: projeto “Good Food Hubs”, os contentores castanhos do projeto “Porto Orgânico”, o serviço recolha “Porta-a-Porta Comercial” e os restaurantes comunitários “em que há produtos que ainda podem ser aproveitados” para consumo.

Filipe Araújo falou ainda sobre os três projetos que juntam a Lipor e CMP contra o desperdício alimentar: o “Dose Certa“, que, em 2008, “conseguiu reduzir 50% do desperdício“, além de atuar em 26 restaurantes; “O Projeto Embrulha” que “está em cerca de 52 restaurantes” e que “permite que as pessoas levem o que não consumiram para casa” e as ilhas de compostagem comunitária.

Também o diretor da FCNAUP disse estar orgulhoso do facto de o município do Porto ter encarado as questões da sustentabilidade de “forma séria, integrada e pensada” e revelou que a faculdade tem agora “uma horta, compostagem e água da companhia“. Durante a sua intervenção, falou ainda sobre a importância de ensinar os jovens a comer bem e a desenvolver “competências culinárias”, de modo a aprenderem a saber gerir quantidades e sobras. Pedro Graça afirmou ainda que comprar para o dia é “o melhor antídoto para evitar comprar a mais” e que as compras para o mês levam as pessoas a comprar a mais, já que há um “mau planeamento” relacionado com  “as incertezas da nossa vida”.

Em relação aos dados que lançaram o debate, a country manager da Too Good To Go disse que se “o desperdício alimentar fosse um país poluente, seria o terceiro país mais poluente“. Durante o debate, Maria Tolentino explicou ainda que a Too Good To Go é uma aplicação, na qual os utilizadores podem pedir uma “suprise bag“, que é um cabaz que contém alimentos que iam ser desperdiçados, e, depois, levantá-los no horário disponível.

“Quatro milhões de surprise bags equivalem a evitar 10.800 toneladas de CO2, que equivalem a mais de 11 milhões de litros de utilização de água desnecessária“, afirmou. Maria Tolentino apelou ainda para que o Governo crie uma legislação contra o desperdício de comida.

Para o diretor de sustentabilidade da Ibersol, a empresa, que também é parceira da Too Good To Go, mostrou “desde sempre” uma preocupação com as questões de sustentabilidade e do desperdício alimentar. António Marques disse também que a empresa otimizou os vários setores da cadeia logística para reduzir todos os desperdícios possíveis.

O Pacto do Porto para o Clima alcançou os 235 subscritores institucionais com a adesão da Too Good To Go e da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação. “A integração da Too Good To Go e da FCNAUP é mais um passo significativo rumo à construção de um Porto mais sustentável e resiliente. Juntos, com um enorme conjunto de parceiros de diferentes áreas, fortalecemos o compromisso coletivo de alcançar a neutralidade carbónica até 2030, demonstrando que a ação local, comprometida e ambiciosa é fundamental para enfrentar os desafios globais como as alterações climáticas”, concluiu Filipe Araújo.

A cidade do Porto foi uma das três cidades portuguesas selecionadas pela Comissão Europeia para integrar o grupo das 100 Cidades Inteligentes e com Impacto neutro no Clima, cujo objetivo é ajudar as cidades que assumiram o compromisso de atingir a neutralidade carbónica em 2030. Lisboa e Guimarães também vão participar no projeto.

Editado por Inês Pinto Pereira