O festival Gouveia Art Rock encerrou domingo com o esperado espectáculo de Robert Fripp. O fundador dos King Crimson, acompanhado por 10 guitarristas, deu um espectáculo hipnótico.
O Teatro-Cine foi adequado ao concerto de Fripp: uma aparelhagem quadrifonica montada no interior da sala dava aos espectadores uma sensação de paisagem sonora. À entrada da sala, o som hipnótico da música de Fripp já se fazia ouvir e embalava as pessoas.
Apesar de ser um nome de referência e aguardado por muita gente, foram vários os espectadores que ficaram desagradados com Robert Fripp. Criador do famoso “Frippertronics”, uma tecnologia que permite retirar todos os sons possíveis e imaginários de uma simples guitarra eléctrica, o músico escondeu-se por detrás dos instrumentos ficando visível para muito pouca gente.
O concerto do ex-King Crimson contou com a participação dos League of Crafty Guitarist (conjunto de 10 guitarristas), que, formando um semi-círculo no palco, tocaram durante uma hora. Considerado um músico à frente do seu tempo, no fim do espectáculo, Robert Fripp foi chamado a palco três vezes e acabou o concerto de pé a aplaudir o público.
Uma música sem definição
O dia de domingo começou na biblioteca Vergílio Ferreira por volta das 11h com o lançamento da brochura “Rock Progressivo, uma Designação Equívoca”, da autoria de Carlos Plaza, compositor, teclista e fundador do grupo Kotebel, que actuou na tarde do dia anterior.
Também durante a manhã, músicos de diversas bandas reuniram-se à volta de uma mesa para um debate com o mote “Composição versus Improvisação”. Thomas Olsson, musicólogo e professor na Universidade de Lund, na Suécia, foi o moderador do debate.
A definição de “rock progressivo” foi também um tema em discussão. Paul Richards, guitarrista dos California Guitar Trio, não classifica a sua música como progressiva. “Misturamos vários géneros músicais como música clássica, rock, electrónica”, explica.
Da parte da tarde, o festival voltou ao Teatro-Cine de Gouveia com a actuação do duo Caamora e dos esperados Magma. A duas vozes e com o acompanhamento de um piano, os Caamora proporcionaram às cerca de 400 pessoas um recital íntimo, emotivo e que mostrava o perfeito entendimento entre a cantora polaca Agnieszka Swita e o cantor e teclista Clive.
No fim do concerto, a vocalista descreveu o concerto como “excelente”. Na hora de classificar o estilo musical do duo, Clive não se considera progressivo e adianta que a música que tocam “vem do coração”.
Música na igreja
Para além de Robert Fripp, os Magma eram uma das bandas mais aguardadas pelo público. Pela primeira vez em Portugal, animaram, durante mais de uma hora, a plateia. Vindos de várias partes da Europa, os espectadores vibraram ao som progressivo da banda francesa. Com uma linguagem especial, o “kobaïan”, que utilizam em algumas partes cantadas das suas músicas, os Magma transportaram a plateia para o seu mundo vanguardista.
Depois do concerto dos Magma, seguiu-se um momento mais calmo e intimista. Este ano, o Gouveia Art Rock decidiu levar o festival mais além e fazer um espectáculo na igreja barroca de S.Pedro mesmo no centro da cidade. O guitarrista Christian Saggese, que já tinha actuado na véspera no duo Metamorfosi Duo, foi a estrela do espectáculo. Apenas com uma guitarra, Saggese não deixou ninguém indiferente ao seu talento.
A população da cidade aderiu em massa à iniciativa e encheu a igreja de S. Pedro para ver e ouvir o guitarrista. “O senhor padre avisou na missa e eu não hesitei em vir”, adiantou uma moradora ao JPN.