Um ano depois do início do conflito entre o Hezbollah e Israel, a Amnistia Internacional (AI) condena a ausência de um inquérito para apurar e condenar os responsáveis por crimes de guerra durante aquele período.

A organização humanitária conduziu investigações de violação de direitos humanos por parte das forças israelitas e dos combatentes do Hezbollah durante e após o conflito, que resultaram na publicação de três relatórios. Face à inacção das partes envolvidas em investigar, a AI apela à ONU para conduzir um inquérito independente aos crimes cometidos por ambas as facções no decorrer do conflito, o que ainda não aconteceu.

“Sem um relatório completo e imparcial, conduzido pela ONU, que inclua a compensação das vítimas, há um perigo real de a história se repetir. A completa ausência de esforço político para condenar os responsáveis pela morte indiscriminada de civis – mais de um milhar perderam a vida – é tanto uma traição às vítimas, como a receita para mais um possível derrame de sangue civil impune”, afirmou o director do programa da AI para o Médio Oriente e o Norte de África, Malcolm Smart.

A organização declara que a decisão do Conselho de Segurança da ONU de estabelecer um tribunal para condenar os responsáveis por assassínios políticos como o do primeiro-ministro libanês Rafik Hariri mostra que, quando há um esforço político, é possível alcançar a verdade, e enfatiza a necessidade de trazer à justiça outros crimes de guerra.

De acordo com a AI, em Israel foi levado a cabo um inquérito, mas que versou apenas a estratégia militar, enquanto no Líbano não foi feita nenhuma investigação. O Conselho da ONU para os Direitos Humanos fez um relatório, mas focava-se apenas nas violações por parte das forças israelitas.

Bombas de fragmentação

O principal motivo da insegurança no Líbano, no presente, são as bombas de fragmentação não detonadas, lançadas pelas tropas israelitas nas últimas horas do conflito, já depois do cessar-fogo ter sido acordado, mas sem estar ainda decretado, diz a AI. De acordo com a ONU, desde o cessar-fogo, 24 civis e oito desactivadores de minas morreram por causa de bombas de fragmentação por explodir e outras 210 pessoas ficaram feridas.

A AI apela às forças israelitas para fornecerem um mapa da localização das zonas atingidas por bombas de fragmentação e com minas implantadas, para ajudarem a limpeza. Malcolm Smart diz que “o Conselho de Segurança deve declarar um embargo de armas sobre Israel e o Hezbollah” até ser assegurado que não vão ser cometidas mais violações da lei humanitária internacional.

“Cicatrizes invisíveis” nas crianças

A UNICEF afirma que existe muita insegurança entre as crianças libanesas. “São visíveis os sinais de recuperação desde o conflito de 2006”, afirma o representante da organização no Líbano, Roberto Laurenti.

“Mas à medida que vamos fazendo o levantamento do que foi feito e do que ainda falta fazer, é crucial lembrar que as crianças ainda trazem consigo cicatrizes invisíveis. A recuperação emocional demora muito mais tempo do que reconstruir uma ponte e, num país em situação de crise crónica, este processo irá desenvolver-se a longo prazo”.

O conflito entre Israel e o Hezbollah durou 34 dias, terminando com o cessar-fogo a 14 de Agosto de 2006, e provocou 1.100 mortos, quatro mil feridos e 900 mil deslocados, segundo dados do Governo libanês.