Tiago Guedes era “apenas” um realizador de cinema, conhecido, sobretudo, por “Coisa Ruim” (2006). Agora, é também encenador de peças de teatro: “The Pillowman”, a sua estreia, deixa domingo o palco do Teatro Nacional S. João, no Porto.

Nuno Lopes, actor que interpreta o detective Ariel, acredita que um cineasta “traz um olhar muito específico” para o teatro. “Para um realizador deve ser muito agradável fazer teatro, porque, de repente, deixa de ter a preocupação técnica do cinema com a luz, com o som, e pode focar-se só nos actores”, proporcionando “uma concentração muito diferente”, acrescenta.

Tiago Guedes tem “um objectivo muito directo” e faz “chegar a mensagem com a maior clareza possível, sem facilitismo ou superficialidade” sem sacrificar a “mensagem” face às questões de estilo que o teatro acarreta, considera João Pedro Vaz, actor que encarna o detective Tupolski.

Histórias “sinistras”

“The Pillowman”, da autoria do dramaturgo irlandês Martin McDonagh, centra-se em Katurian, um escritor de histórias sobre crianças que são vítimas de violência. A polícia, ao serviço de um regime totalitário, encontra fortes semelhanças entre as suas histórias e os assassínios de crianças que acontecem na sua cidade. Interroga Katurian e o seu irmão Michal, que presume serem os homicidas.

As histórias “infantis [de Katurian] são vagamente sinistras” e “depressivas”, explica João Pedro Vaz. Uma delas, a do Homem-Almofada, foca-se numa personagem que convence criancinhas a suicidarem-se enquanto são felizes, para fugirem às vidas de miséria que as esperam.

Marco d’Almeida diz que a obra retrata a violência com “um humor negríssimo”. “A comédia está no próprio texto, não tentámos puxar pelo lado cómico das personagens”, conta Nuno Lopes.

A peça “levanta questões sobre a responsabilidade da criação [artística]”, defende João Pedro Vaz, e “convoca as pessoas a reagir de uma maneira moral”. A tradução de Tiago Guedes tornou a obra “mais seca, mais crua”. O público ganha “espaço de manobra moral” e questiona “como é possível tornar tão ligeiras questões cruéis” como a violência sobre crianças.