Um dos principais problemas que a musicoterapia encontra é mudar a ideia das pessoas que associam a terapia da música às medicinas alternativas ou julgam que é apenas necessário um ambiente calmo para que haja musicoterapia. A musicoterapeuta Márcia Vasconcelos contesta esta ideia.
No início, Márcia propõe que todos os utentes se apresentem e que escolham o instrumento que mais se identificam para o fazer. Hesitam. A curiosidade em relação a cada um dos instrumentos é visível.
Manuela é a primeira. Esfrega as mãos de regozijo por poder falar para uma câmara. Alípio, indeciso, experimenta o batuque mais pequeno. No entanto, acha que as maracas têm mais a ver com ele.
Depois de uma breve introdução, Márcia explica o primeiro exercício. Por momentos, o barulho oco do batuque e o som agudo do xilofone octogonal dá lugar ao ruído das palavras da terapeuta. Os alunos prestam atenção às explicações que lhes são dadas.
António, que sofre de hiperactividade, esforça-se por manter atento para ouvir as indicações que Márcia lhe dá. “Não é fácil ficar aqui quietinho. Nem sempre consigo ter controlo no meu corpo”, revela.
Depois da teoria, a prática
Márcia pega no caderno, onde tem apontado a ordem dos exercícios e dá indicações aos alunos. De acordo com a terapeuta, é preciso seguir uma ordem “coerente”, consoante as necessidades dos alunos. “São tantas as sessões em tantos locais que tenho receio de me esquecer do que programei”, explica.
Neste exercício é dada a liberdade aos alunos de tocarem de forma espontânea. Após terem terminado, Márcia explica que o que estiveram a fazer “é uma forma de eles exprimirem o que sentem. No fundo, é um exercício em que podem pôr em prática a criatividade”.
Vários sons entram em conflito. Num ou noutro aluno é notória nas expressões faciais a vontade de fazer brotar toda a angústia que sentem, através do instrumento. Márcia intervém para dizer que já passaram quase 20 minutos desde que começaram a tocar. Manuela interrompe o momento de mudez, exprimindo a sua vontade com um “Queria mais”.