Dez anos após os bombardeamentos da OTAN sobre Belgrado, o mapa dos Balcãs é diferente: Sérvia, Montenegro e Kosovo já não ostentam a mesma bandeira.

A 17 de Fevereiro de 2008, Hashim Thaçi, antigo membro do Exército de Libertação do Kosovo e chefe do Governo, proclamou a independência unilateral do território face à Sérvia.

Polémica, a secessão do Kosovo face à Sérvia provocou confrontos entre kosavares de origem sérvia e albanesa. Para Luísa Meireles, jornalista do “Expresso” que se encontrava na Albânia quando a Guerra do Kosovo começou, o novo Estado, reconhecido apenas por um terço dos países das Nações Unidas, “não tem nem recursos nem organização para que preencha minimamente os itens de um Estado soberano”.

Na opinião do especialista em assuntos do Leste Europeu, Milan Rados, as populações da Sérvia e do Kosovo “vivem bastante pior do que viviam no tempo de Tito e antes dos bombardeamentos”. Elevadas taxas de desemprego, salários baixos e sistemas de saúde e de ensino inexistentes são os principais problemas apontados pelo docente da Universidade do Porto.

Solução para os Balcãs está na União Europeia

A opinião é unânime quando a questão é uma possível solução para os problemas na região dos Balcãs. “A solução chama-se União Europeia”, afirma Milan Rados. “Todos aqueles países da antiga Jugoslávia deviam entrar na União Europeia, imediatamente, e oferecer esperança de vida” às populações.

“Embora subsista na Sérvia o desejo de integração na União Europeia, a política criminosa relativamente ao Kosovo condiciona muito a evolução política do território”, atesta o presidente da Associação Portugal-Sérvia, crítico face ao apoio dos Estados Unidos ao reconhecimento do novo Estado.

Ao contrário da Geórgia ou da Turquia, Luísa Meireles garante que “ninguém tem dúvidas de que os Balcãs são centro da Europa e que, como tal, têm pleno direito de fazer parte da União Europeia, assim cumpram os critérios que estão indicados”. “Um dia, no âmbito da União, estes países que se separaram pela guerra vão ser obrigados outra vez a estarem juntos” por pertencerem a uma organização comum, remata Luísa Meireles.

Intervenção no Kosovo significou regresso ao “querer é poder”

Investigador da London South Bank University, Philip Hammond considera que “as consequências da intervenção no Kosovo, há dez anos, podem ser vistas à luz do conflito no Iraque e, mais recente, na Geórgia”. Em entrevista por e-mail ao JPN, o professor britânico realça que os argumentos utilizados pelos “políticos ocidentais” para justificar “uma intervenção fora da moldura legal da ONU” se repetiram.

O conflito no Kosovo, assim como “todas as anteriores intervenções humanitárias”, fortaleceu a ideia de “desigualdade de soberanias”, explica Hammond. O que, na opinião do britânico, “contrasta com o reconhecimento formal da igualdade soberana sob o sistema da ONU e que, na realidade, significa um retorno à ideia de que querer é poder”.