Na segunda conferência da iniciativa “Olhares Cruzados sobre o Porto VII”, denominada “Urbi et Orbi”, a reabilitação urbana do Porto foi o tema, bem como a sua importância para a competitividade da cidade. Com apresentação de João Ferrão e intervenção de Arlindo Cunha e Eduardo Souto Moura, o encontro foi moderado por Mário Melo Rocha, na Universidade Católica.

Segundo João Ferrão, professor de Ciências Sociais, a reabilitação urbana faz hoje “parte do politicamente correcto”, o que pode ter “vantagens e desvantagens”. De positivo, o professor destacou o facto de estar nas várias agendas, tanto a “política”, como a “mediática” e até mesmo a “académica”. “Nunca houve em Portugal tantos debates sobre o assunto como agora”, entende.

Pela negativa, João Ferrão, falou na “ambiguidade” que pode surgir quando o assunto é falado por todos. E acrescenta que pode haver também uma “facilidade irrealista”, já que a reabilitação passou a ser algo que “parece que tem de ser feito”. O professor diferenciou também reabilitação urbana de reabilitação de edificados, dizendo que “embora se sobreponham”, têm “instrumentos diferentes”.

João Ferrão falou ainda de uma “razão de fundo” e de “razões circunstanciais” para explicar o “estado” das cidades actualmente. A “razão de fundo” prende-se com “crenças e valores”. “Há uma ideia de modernização que levou a que se apostasse, sistematicamente, no que é novo em detrimento do que é velho”, explica. As “razões circunstanciais” estão ligadas aos “interesses e obstáculos”. “Tudo estava feito para beneficiar a construção nova, porque era mais fácil, mais barata, mais rápida, mais lucrativa”, remata.

A reabilitação não é um processo rápido

João Ferraz lembrou, ainda, que a “reabilitação não é para apressados”. Arlindo Cunha, presidente executivo da sociedade de reabilitação urbana Porto Vivo, corroborou a opinião de João Ferrão, explicando que “a reabilitação não pode ser célere”, porque “a natureza do processo não dá para pressas”. Lembrou a questão do congelamento das rendas, afirmando que é “urgente” rever esta lei e “motivar os proprietários”. Por último, frisou que a reabilitação “só se faz se houver uma continuidade de políticas”.

O último orador foi Eduardo Souto Moura, que começou por dizer que o “problema do património não é um problema técnico”, e acrescentou que “o património não tem discussão”, uma vez que é “o nosso quotidiano”. De acordo com o arquitecto, há um “triângulo sagrado” fundamental para o problema da reabilitação. “É preciso uma vontade política fortíssima” aliada ao dinheiro, que, na sua opinião, se “arranja” e a “bons técnicos e bons arquitectos”. Por último, deixou a ideia: “O segredo do património é o uso”.

Esta foi a segunda conferência do fórum “Olhares Cruzados” de 2010, que promote a discussão sobre o Porto actual. A próxima conferência decorre a 25 de Março e tem como tema as políticas económicas necessárias para inverter a taxa de desemprego no Norte. A conferência é apresentada por Vieira da Silva, o debate será moderado por Manuel Carvalho e contará, como oradores, com Daniel Bessa e José António Barros.