O aumento do preço dos maços de tabaco fez com que muitos portugueses optassem por outra forma de “matar o vício”. A diferença? A alternativa dá mais trabalho. O benefício? A mudança compensa ao final do mês, garante quem trocou os cómodos cigarros embalados pelo tabaco de enrolar.
Segundo uma fonte de mercado, “a redução do consumo legal de cigarros” e consequente aumento do consumo de tabaco de enrolar deve-se, essencialmente, “aos fortes aumentos da fiscalidade e preços nos últimos seis anos”. “Ocorreu em Portugal um forte crescimento do fenómeno do consumo de produtos de tabaco, até recentemente menos tributados por comparação com os cigarros, como o tabaco de enrolar”, refere a mesma fonte.
No entanto, esta realidade pode estar prestes a ser alterada. O tabaco de enrolar sofreu um aumento da carga fiscal, que pode significar uma tendência para a aproximação dos dois preços.
Esta hipótese é, segundo a fonte contactada, justificável. “Não fazia sentido, nem sob o ponto de vista da protecção da saúde pública nem da lógica da arrecadação de receita fiscal, que o Estado continuasse a aplicar uma disparidade tão grande entre os níveis da fiscalidade incidente sobre os cigarros e o tabaco de enrolar”, acrescenta.
Primeiro estranha-se, depois enrola-se
Francisco Silva, proprietário da Tabacaria “Só-arte”, no Porto, não hesita em afirmar que a venda de tabaco de enrolar “aumenta cada vez mais”. Desde os mais novos aos que fumam há décadas, todas as gerações se viram afectadas pela subida do preço do tabaco de maço. No entanto, refere Francisco, “os novos enrolam à mão, os mais velhos recorrem às máquinas”. Estes engenhos têm um funcionamento fácil, para quem tem dificuldade em fazer os cigarro manualmente. O processo é fácil: basta abrir a máquina, colocar o tabaco no seu interior, fechá-la e ao voltar a abrir o cigarro está pronto a fumar.
Apesar de já ter pensado mudar os seus hábitos, Diana Oliveira nunca trocou a comodidade dos cigarros de maço pelos cigarros feitos à mão. Tem noção que é mais barato, viu muitos amigos aderir, mas não se convence com a ideia do tabaco de enrolar, dos filtros e das mortalhas.
Por outro lado, há já um ano que André Dias se rendeu ao tabaco de enrolar, atraído por vários factores. O possível aumento do preço não assusta o jovem, que garante que enrolar tabaco continua a compensar. Apesar de ser cada vez mais usual, André lamenta que ainda haja quem olhe com desconfiança para esta forma de consumir tabaco.
Saudável só para a carteira
Marta Resende, médica responsável pela consulta de cessação tabágica da Faculdade de Medicina Dentária da UP, explica que os motivos apontados pelos utentes para passarem a fumar tabaco de enrolar são essencialmente económicos. Mais do que a preocupação com a saúde, a médica sente a preocupação com a carteira.
Apesar de alguns fumadores acreditarem que o tabaco de enrolar não é tão prejudicial para a saúde, a médica desmistifica a ideia e refere que os riscos para a saúde são os mesmos.