O acidente na central de Fukushima, no Japão, coloca diversos problemas. Esta é a crença de Pedro Vaz, da Unidade de Protecção e Segurança Radiológica do Instituto Tecnológico e Nuclear (ITN). Desde já, a nível técnico e científico, porque impõe à comunidade de especialistas trabalhar no futuro para “incorporar os ensinamentos deste acidente”, no sentido de fazer com que as centrais funcionem com “níveis de segurança que já são elevados”.

Em relação ao debate, lembra que, independentemente do seu futuro, a energia nuclear de fissão (a que é produzida em reactores nucleares), “não pode ser substituída de um dia para o outro”, também por falta de alternativas eficazes. Pedro Vaz acredita que a energia nuclear “está para ficar algumas décadas”, no mínimo, com “padrões de segurança cada vez mais apertados”.

Lídia Ferreira, especialista em Física Nuclear, não crê que a situação venha trazer “algo de novo” a um debate que existe há muito tempo. A professora no Instituto Superior Técnico de Lisboa (IST) afirma que as pessoas têm “medo do nuclear” que, no entanto, lhe parece a “única forma de resolver um problema energético”. Para continuar a ter uma sociedade evoluída, “não há muitas alternativas”, pensa.

Para Lídia Ferreira, o futuro do nuclear não está afectado. A “pouca cultura científica” leva a que haja uma “mistificação”, acredita . A especialista lembra que há uma série de acidentes hidroelétricos, com barragens que rebentaram, e de que “ninguém fala”.

Eduardo de Oliveira Fernandes, professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) pensa que o que aconteceu no Japão vai fazer com que os países repensem a utilização de energia nuclear. O professor da FEUP acredita que o nuclear “não é uma forma de energia democrática”, porque mobiliza um “número muito restrito de pessoas” que têm uma “lógica de interesses económicos”.

O que é necessário, neste momento, para Oliveira Fernandes, é “refazer a confiança” em relação às centrais. Cabe ao homem “tomar precauções para que amanhã um fenómeno natural não tenha um impacto maior”, afirma.

Quem também concorda com a existência de implicações do que aconteceu no Japão é Carlos Avarandas, do Centro de Fusão Nuclear. Em primeiro lugar, acreditaque vai existir uma “maior preocupação na escolha da localização” das centrais nucleares.

Em segundo lugar, certamente que os governos irão ser “muito mais rigorosos no sentido de garantirem que as centrais são desactivadas logo que terminou a sua vida útil”, afirma. E, por último, está certo de que a indústria nuclear irá passar a ter “maior atenção nos problemas resultantes dos tsunamis”.

Portugal e a energia nuclear

Eduardo de Oliveira Fernandes lembra que há uma central nuclear em Garoña, perto de Burgos (Espanha) que é do mesmo tipo da do Japão, tem a mesma idade e que, portanto, pode ser a “mais problemática” para Portugal. Em relação à construção de uma central nuclear no país, o professor da FEUP pensaque se trata de uma questão de “proporção”.

Carlos Avarandas considera que, apesar de não existir uma central nuclear em Portugal, falta no país uma alta-autoridade para o nuclear. O especialista pensa que é necessária, porque há centrais nucleares muito perto da fronteira portuguesa e em “linhas de vento favoráveis”. Além disso, existe “muito nuclear espalhado pelo país”, lembra.

A energia nuclear de fusão é uma alternativa à de fissão. Segundo Carlos Avarandas, a investigação pretende “atingir uma energia limpa, poderosa, segura e amiga do ambiente”. Neste momento, está a ser construído o primeiro reactor experimental de fusão nuclear, no sul de França. O especialista considera que este é um “grande desafio”.

Há um ponto em que todos os especialistas concordam: a radioactividade que chegou a Portugal é uma questão sem qualquer importância, por se tratarem de níveis residuais que não põem em causa a saúde pública. Isto acontece porque a chamada “nuvem radioactiva” vai-se dispersando, muito em função da direcção dos ventos. À medida que se propaga, a radioactividade vai-se dispersando e as concentrações vão sendo cada vez mais baixas.