“A ciência é o que há de mais parecido com o socialismo”, compara Francisco Louçã. O deputado defende que o conhecimento deve estar ao serviço de todos. “No socialismo, como na ciência, não podem haver gavetas, não se pode fechar uma parte do conhecimento para ser utilizado por uns contra os outros”, afirma.
A investigação científica foi a debate. O Bloco de Esquerda (BE) organizou um “Encontro da Ciência”, que se insere num conjunto de acções que a eurodeputada Marisa Matias promove para debater o Livro Verde com a comunidade científica. A deputada apresentou as prioridades e as medidas de financiamento para a investigação na União Europeia, no período de 2014-2020.
“O ponto de partida não é muito favorável”, confessa. A deputada alerta para a falta de quadros qualificados nas pequenas e médias empresas e salienta que, de acordo com o sistema de indicadores que existe, “somos os que mais financiamento temos e os que menos resultados obtemos”. Marisa Matias aposta em “fazer o máximo da consulta pública”, já que há um “colonialismo interno na Europa” que obriga a “acautelar antes de cair”. “É na Alemanha que se tem gerado e impulsionado esta visão colonial da União Europeia”, completa Francisco Louçã.
O emprego científico foi outra grande questão que envolveu todos os presentes. Paulo Peixoto, membro do Centro de Estudos da Universidade de Coimbra e do Sindicato Nacional do Ensino Superior, realçou a necessidade de preservar a independência da actividade científica, de promover universidades fortes e autónomas e de mudar a natureza do financiamento. Acrescentou, ainda, que direccionar todos os fundos para os projectos de investigação só vai impulsionar empregos precários.
Bolsas de Investigação em análise
Alexandra Sá Pinto representou a Associação de Bolseiros da Investigação Científica para reivindicar contratos de trabalho para quem desenvolve trabalho científico no âmbito de uma bolsa de estudo. Para Alexandra, há uma ausência de sustentabilidade do sistema científico português, porque a investigação é assegurada por quem não recebe. “Os bolseiros estão em formação mas produzem trabalho científico, planificam, redigem e geram dados”, defende.
“Só com um ensino superior público se pode promover o emprego científico”, declara Pedro Oliveira, investigador do Centro Algoritmi da Universidade do Minho e dirigente do Sindicato dos Professores do Norte. Marisa Matias aconselha a avançar com as reformas, de modo a garantir a sustentabilidade do emprego científico e do ensino superior em Portugal, e não “matá-lo com uma morte lenta que é o que se está a tentar fazer”.
Na plateia, investigadores e estudantes das várias universidades do país mostraram o seu descontentamento em relação ao estatuto dos bolseiros, à eficácia das medidas outrora implementadas pela Comissão Europeia e houve, até, quem questionasse a permanência de Portugal na União Europeia.