Com mais de três séculos de história, a cortiça é um dos produtos naturais mais apreciados internacionalmente. Tida como uma jóia da economia portuguesa, a indústria corticeira, para além da forte relação com a cultura vinícola, expande, também, a sua aplicabilidade a outras gamas de produtos, assegurando uma posição de referência no mercado mundial.
O director-geral da Associação Portuguesa de Cortiça (APCOR), Joaquim Lima, considera que, apesar da cortiça ser um “sector com tradição”, a indústria “rompeu com o modelo que tinha nos últimos dez anos”, apresentando-se, hoje, “completamente renovada”. “A indústria apresenta-se com um novo figurino, com novos produtos, novas formas de actuar e até com uma expressão de internacionalização completamente inovadora do ponto de vista nacional”, destaca.
O sector coloca no mercado uma grande diversidade de produtos, que “reforçam a importância da cortiça”. Segundo Joaquim Lima, as “rolhas” para todo o tipo de vinhos “são o produto principal”, uma vez que representam “cerca de 60% do total das exportações”. Por sua vez, os produtos relacionados com a construção civil, como pavimentos, isolamentos e revestimentos, “preenchem 15% total das exportações”. Para além destas áreas de negócio, também o vestuário, o calçado e a indústria automóvel usufruem das propriedades da cortiça.
Em Portugal, há sectores de actividade que conseguem contornar a crise
O JPN vai publicar um conjunto de peças relativas a alguns dos sectores de actividade em Portugal que, apesar da crise económica, continuam a mostrar sinais positivos de desenvolvimento. A cortiça, os têxteis, o calçado e as energias renováveis são algumas das indústrias que tentam e conseguem, por vezes, contornar a crise.
O mundo com olhos postos na cortiça portuguesa
Adaptação e renovação têm sido a chave para o sector da cortiça ir além da tradição, ultrapassando fronteiras e conquistando novos segmentos de mercado. Apesar do período de crise “generalizada” nos mercados internacionais, entre 2008 e 2009, o sector mostra sinais de melhoria, para os quais tem contribuído o aumento das exportações que, no início deste ano, apresentaram um “aumento de 8% das vendas”, correspondentes a “754,3 milhões de euros”, explica o director- geral da APCOR.
Joaquim Lima lembra que, no pico da crise, em 2009, “o sector perdeu bastante nas vendas globais”. No entanto, constata-se que “as novas empresas têm mais trabalho e estão a aumentar as suas exportações”, pelo que “o cenário é de melhoria para o sector”. Desta forma, as exportações constituem uma importante fonte de proveitos para Portugal que, em 2010, ascenderam a “156,2 milhões de toneladas de cortiça exportadas”.
Quanto aos países importadores de rolhas para vinho e aplicações para a construção civil, o director-geral destaca a França, a Espanha, os EUA, a Alemanha, a Nova Zelândia, a Inglaterra, o Canadá, os Emirados Árabes, o Chile, a Argentina, a Rússia, a China e o Japão.
Perante este cenário, Joaquim Lima sublinha que “Portugal é o maior exportador de produtos de cortiça”, assumindo, também, “a liderança na quantidade e comercialização” de produtos fabricados. “Quando se encontra um produto em cortiça em qualquer parte do Mundo, normalmente, foi fabricado em Portugal”, brinca.
Crise não afecta mercado de vendas
O sector da cortiça já foi anteriormente afectado pela crise. Contudo, Joaquim Lima acredita que a actual conjuntura económica portuguesa “não vai ter um efeito no mercado de vendas” da indústria corticeira, uma vez que o “sector exportador é fortemente dependente dos mercados internacionais e não tanto do nacional”, explica. No entanto, “obviamente que uma crise nacional pode acabar por repercutir-se no sector, criando uma certa instabilidade e tensão social”, adverte.
Apesar da possibilidade da crise poder abalar ligeiramente o sector, o director-geral da APCOR garante que “a cortiça não será um sector gerador de desemprego” (actualmente, emprega cerca de 10 mil pessoas, distribuídas por 700 empresas). Nesse sentido, a APCOR vai desenvolver várias formações de cariz profissional para as camadas mais jovens, com intuito de “alimentar a indústria com novos profissionais qualificados”.
“O futuro pode ser brilhante”
“Desenvolvimento do sector”. É este o principal objectivo que a APCOR pretende concretizar nos próximos anos, através da aposta na “qualidade e certificação” no campo nacional e internacional.
Joaquim Lima refere que a cortiça é “um sector que diz muito a Portugal”, pelo que se torna fundamental “reunir condições para o seu desenvolvimento sustentável”, acrescentando, ainda, que a APCOR tem “a responsabilidade de acreditar no futuro, que pode ser brilhante”.