A atleta Salomé Rocha estava longe de pensar “sequer em chegar ao pódio” no campeonato mundial universitário de corta-mato, que decorreu na Polónia no sábado, dia 14 de abril. Mas conquistou o segundo lugar enquanto representante da Universidade do Porto (UP), tornando-se na sétima jovem portuguesa a arrecadar uma medalha nestes campeonatos.
“Antes da competição os meus colegas estavam a tirar fotografia e eu, na brincadeira e sem fazer ideia, disse que eles iam querer tirar comigo quando estivesse no pódio”, conta Salomé, que diz ter sido “uma grande surpresa” o lugar conquistado.
Mas a prova não foi fácil. “Passei a primeira e segunda volta em terceiro e pensei que não ia aguentar. Na segunda passam duas atletas e eu só ouvia o meu treinador a puxar por mim. Na última volta, o meu objetivo nem era apanhá-las, mas sim não ser ultrapassada”. Na reta final, a atleta conseguiu recuperar. “Acelerei muito, aumentei o ritmo e só me lembro de ‘sprintar’ por ali fora”, relembra. Chegou ao fim em segundo lugar. “É uma emoção enorme, dizer que consegui é a maior satisfação possível”, recorda.
Salomé começou nas lides dos campeonatos nacionais e internacionais em 2005. Há seis anos como atleta, passou pelo clube de Vizela, pelo JOMA e, este ano, ingressou no Sporting.
“Desde pequena que tenho uma paixão pelo desporto. Olhava para os meus professores de educação física e pensava que era aquilo que queria”, conta. Com uma família ligada ao desporto, o pai como ex-jogador de futebol e o irmão como atual jogador de futsal em Itália, Salomé dedicou-se à competição.
A primeira internacionalização em atletismo foi no festival olímpico de juventude europeia, participou em campeonatos europeus e do mundo, representando a seleção nacional. Tem vindo a representar a UP em campeonatos internacionais, contando já com uma deslocação ao Canadá.
“Abdiquei de muita coisa”
Salomé Rocha, já licenciada em desporto, tem consciência dos esforços que teve de fazer para conciliar a vida de atleta com a vida de estudante. “Sempre tive uma grande exigência, fora do normal das raparigas da minha idade. Abdiquei de muita coisa. Não podia sair à noite, porque tinha treinos de manhã ou competições e, às vezes, chegava a ver os meus amigos só de dois em dois meses”, admite. Apesar do sacrifício, a atleta não se arrepende da opção que tomou.
Com treinos de manhã e à tarde, a rotina passa pelo desporto. “Praticamente é correr, comer e dormir”, diz. Quando estudava, a jovem nunca deixou os estudos para trás. “O meu primeiro objetivo era terminar a faculdade e consegui. Nunca foi opção atrasar os estudos, por muito que custasse e mesmo que tivesse de abdicar de competições”, o que nunca se tornou necessário.
Em tempos de aulas, a atleta começava o dia às cinco da manhã e só parava para poder descansar às onze e meia. “O cansaço era muito. Chegava às aulas e só me apetecia dormir. Foram três anos assim”. Mas Salomé conseguiu gerir o tempo.”Aproveitava as viagens para estudar”, garante, salientando que terminou a licenciatura com sucesso.
A pensar em candidatar-se a mestrado, Salomé Rocha, de 21 anos, não traça objetivos a longo prazo como atleta. “Depende do que acontece ao longo da época. Eu e o meu treinador fazemos aquilo que achamos que eu sou capaz de fazer, prova a prova”, explica. Com o sonho de ser mãe bem presente, a atleta sabe que não quer competir durante muito mais tempo.
Com o apoio incondicional da família e amigos, Salomé Rocha tem conseguido gerir a exigência do desporto com a vida académica. As competições fazem valer a pena o esforço. “O objetivo é sempre chegar ao final de uma competição, olhar para trás e saber que dei tudo o que tinha, quer chegue em primeiro ou em último”, finaliza.