O 3’Ps “representa todo um novo conceito de diagnóstico”, explica Goreti Sales, responsável pelo projeto. Este biossensor, basicamente, vai permitir que qualquer médico, no seu próprio consultório, possa fazer um diagnóstico rápido, indolor e muito acessível ao paciente, de forma a detetar certos tipos de cancro. Neste caso – e para já -, três: rectal, do cólo do útero e da mama.

Conceito

O biossensor faz o diagnóstico através da identificação de proteínas associadas a estes tipos de cancro – chamadas de biomarcadores. Estes biomarcadores serão identificados e programados com o apoio do Instituto Português de Oncologia do Porto. Para funcionar sem recurso à energia elétrica, este dispositivo recorre à energia solar, através das células fotovoltaicas.

Não foram escolhidos ao acaso, mas pela elevada incidência. “O cancro é uma das doenças que mais matam, estes em particular”, explica, em entrevista ao JPN. A preocupação surgiu porque, para Goreti, este projeto tinha, acima de tudo, “de fazer sentido para a população em geral, de contribuir para a humanidade”.

Doutorada pela Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FMUP) e investigadora no Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), Goreti Sales procurava “um caminho diferente, no ponto de vista da investigação. Uma abordagem diferente”. “Um dia à noite, antes de dormir”, pensou em “fundir duas áreas de conhecimento: os anticorpos plásticos e as células fotovoltaicas” – nascia o 3’Ps.

Fisicamente e mesmo “do ponto de vista conceptual”, esta tecnologia vai ser “muito simples”: uma caixinha pequena, portátil com um custo limitado, de seis a dez euros, provavelmente. “Nós usámos sempre os materiais mais baratos, desenvolvemos uma tecnologia barata com células solares baratas… portanto a fusão das duas não pode dar uma coisa cara”, garante Goreti.

Ainda assim, a parte comercial já não será da responsabilidade da investigadora. “Não são razões económicas ou comerciais que motivam a investigação”, por isso, “não é essa a nossa vontade, participar na área comercial”, explica. “Vamos colocar o conhecimento á disposição de todos e quem quiser usá-lo para esse fim, poderá fazê-lo”, garante. E Goreti não tem dúvidas: “Alguém irá pegar nesta ideia”.

Bolsa europeia de um milhão de euros valida o projeto

O projeto, a ser desenvolvido na nova unidade de investigação do Instituto Superior de Engenharia do Porto – “BioMark – Sensor Reserach” -, onde Goreti também é professora, prevê-se que esteja terminado daqui a cerca de cinco anos, lá para 2018. O “empurrão” que faltava concretizou-se este ano, com a conquista de uma bolsa europeia, no valor de um milhão de euros, do Conselho Europeu de Investigação (ERC).

A trabalhar na ideia desde junho de 2011, candidatou o 3’Ps à bolsa – que teve mais cinco mil candidaturas de todo o mundo -, “sem grandes expectativas”. “O ISEP não é nenhum centro de investigação muito reconhecido ou com uma estrutura muito grande. Cada um dá o melhor de si, mas não tínhamos reconhecimento nesse domínio”, diz Goreti. Mas o destino encarregou-se de a surpreender e, no final do ano passado, obteve uma resposta positiva.

Agora, o financiamento – que era praticamente nulo – deixou de ser um problema. O valor ficou disponível este ano e já “permitiu montar uma estrutura física e captar os recursos humanos necessários”. Com ela, tem agora uma doutoranda portuguesa e duas investigadoras indianas em pós-doutoramento. Uma especializada em anticorpos plásticos, a outra em células fotovoltaicas.