“Mal, muito mal”. É assim que Célia Costa, antiga enfermeira de 81 anos, descreve o estado da Saúde, em Portugal. O testemunho que dá dos dias de hoje contrasta com a realidade que conhecia quando estava no ativo. “As condições em que trabalhei, quando comecei, e as que agora as pessoas têm, são completamente diferentes”, refere.

Hoje em dia, as condições são melhores, mas ainda se verifica falta de pessoal nos centros hospitalares. Além disso, há materiais que também estão em falta. “As enfermeiras estão a trabalhar e têm que passar mais tempo no computador do que a fazer os cuidados”, atira a enfermeira.

Tendo em conta a problemática que se vive nos hospitais, o papel dos voluntários tem um impacto grande na atividade médica. Célia largou as batas de enfermeira, mas três anos depois de estar aposentada, há 17, sentiu a necessidade de voltar aos corredores do hospital. “Para dar continuidade àquilo que gostava de fazer e que não pude fazer”, explica.

Desta vez, Célia é voluntária na Liga dos Amigos do Hospital de Santo António (LAHSA), uma tarefa diferente da que desempenhou como enfermeira. “Ser voluntário é estar disponível para ajudar os outros”, garante. “Cheguei à conclusão que havia coisas que os voluntários faziam e que nós, como enfermeiras, não podíamos fazer, como dar apoio aos doentes”, acrescenta.

A Liga dos Amigos tem a ajuda de cerca de 300 voluntários, mas a presença de jovens não é muito marcante. “Não temos grande inclinação para admitir jovens, porque, de uma maneira geral, estão a estudar e depois vêm os problemas das frequências e faltam. Se faltam pessoas e depois não aparecem vão-nos transtornar tudo”, conta, apontando para o mapa de presenças.

As exceções à regra

João Sequeira é um exemplo que contraria a tendência da Liga dos Amigos. Aos 23 anos, o professor de Educação Física decidiu aproveitar o tempo livre que tinha para fazer voluntariado na Associação NOMEIODONADA. “É sempre uma experiência boa poder ajudar os outros, neste caso, na ala de pediatria do Santo António”, diz o voluntário. A trabalhar uma manhã por semana desde outubro, João começou por ter umas “luzes da enfermeira monitora da associação”. “Disse como temos de lidar e cada um de nós faz o seu melhor nas tarefas”, conta.

Também Marina Coelho, de 20 anos, quis experimentar o mundo do voluntariado. Começou há três anos de uma forma “completamente inesperada”, na Cruz Vermelha Portuguesa. “Umas amigas minhas estavam interessadas, falaram-me do assunto e eu fui-me inscrever. Basicamente nem me informei e fui descobrindo as coisas conforme ia aparecendo”.

A saúde como prioridade

É no dia 7 de abril que se celebra o Dia Mundial da Saúde. Esta data foi escolhida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1948. Em cada ano, a organização escolhe um tema central para ser debatido e apresenta uma prioridade na agenda internacional da OMS. Este ano, o tema escolhido foi “Pequenas picadas, grandes ameaças”, ou seja, doenças causadas por vetores. Neste dia desenvolvem-se atividades relacionadas com o tema e promovem-se hábitos de vida saudáveis.

“Uma manhã ou uma tarde não faz falta a ninguém”, assegura João, que todas as semanas faz “cabazes de alimentação para dar às famílias carenciadas das crianças que estão internadas”. “Acho que nós somos muito bem preparados, nesta fase de treino. Acho que qualquer pessoa, principalmente quando está numa situação de emergência, gosta de ser bem socorrida”, explica Marina.

“Uma palavrinha, um carinho”

Vestem batas brancas e espalham-se pelos cantos dos hospitais. Uns são mais discretos, outros distinguem-se bem. Célia veste um avental às cores que a denuncia. Vai ao encontro dos doentes para lhes dar “uma palavrinha, um carinho”. É esse o papel do voluntário. “Para além disso, temos também o apoio em muita coisa que se faz. Somos nós que vestimos os doentes sem abrigo que cá chegam com as roupas todas sujas”.

Pagar a medicação ou o transporte também entra nos encargos da Liga dos Amigos. “Às vezes, os familiares de um doente não têm como ir embora e onde dormir, por isso, a liga paga a pernoita e, às vezes, a alimentação”, refere, sobre o papel social da organização.

Dar uma simples indicação também é ajudar e até os mais frágeis podem ser voluntários. “Temos voluntárias nas entradas, junto aos porteiros, para orientar pessoas que precisam de ser orientadas, gente que não sabe onde são os serviços e são encaminhados pelas voluntárias”, diz a antiga enfermeira.

Em certas alas do hospital, a realidade torna-se mais díficil aos olhos de quem a vê. “As pessoas que ficam colocadas na urgência têm que ter um temperamento forte para aceitar determinadas situações”, já que algumas pessoas que lá vão “saem chocadas”. Por isso, Célia admite que é necessário ganhar “uma certa ‘couraça’ e habituar-se a ver as coisas e saber dividir os problemas”: os profissionais no hospital, os pessoais em casa.

João tem outra opinião. “Eu acho que o importante é não esquecer as situações”. Olhando a nossa realidade e comparando-a com a dos doentes, “faz-nos ter mais força no dia a dia”. “É bom ter esses exemplos e ter a força de vontade deles para se aplicar no dia a dia”, admite.

“Que se metam nisso”

Estes voluntários estão contentes com a experiência, por isso, querem ver mais pessoas a exercer voluntariado. “Que se metam nisso com a maior força do mundo. Que ajudem. Só têm a ganhar com isso”, pede João. “Em termos de tempo, o dispêndio não é muito. E de dinheiro é nulo, mas trazemos muito no nosso coração”, conta o jovem.

Marina concorda e acrescenta que “é sempre bom experimentar coisas novas”. A jovem adianta que “a sensação de ser voluntário, de ser importante para alguém e não receber nada em troca” é algo que toda a gente devia experimentar.